São Paulo, quinta-feira, 22 de maio de 2008

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SUCESSÃO NOS EUA / REGRAS EM XEQUE

Democratas miram Flórida e Michigan

No dia 31, comitê do partido se reúne em Washington para discutir destino dos 313 delegados dos Estados, punidos por anteciparem prévias

Hillary defende validação dos votos, o que lhe daria fôlego político apesar de ter bem menos delegados partidários do que Obama


SÉRGIO DÁVILA
DE WASHINGTON

Nem bem os últimos votos de Kentucky e de Oregon foram contados, os dois pré-candidatos democratas à sucessão do presidente George W. Bush já seguiam para a Flórida, onde passaram o dia de ontem.
Pela volubilidade que mostra em pesquisas, o Estado é um dos que podem decidir as eleições gerais de novembro. Mas não foi só isso que atraiu Barack Obama e Hillary Clinton.
No dia 31, em Washington, o Comitê de Regras e Estatutos do partido se reúne para decidir o destino dos delegados partidários escolhidos por voto popular ali e em Michigan. Estão em jogo respectivamente 185 e 128 delegados simples -o que pode fazer diferença numa corrida tão acirrada e representa mais de três vezes o total de delegados ainda em disputa.
Como desrespeitaram a direção nacional do partido e anteciparam suas prévias, os Estados tiveram seus pleitos anulados. À época, em janeiro, os candidatos aceitaram não fazer campanha ali; em Michigan, o nome de Obama nem sequer constava da cédula. Mesmo assim, 2,3 milhões votaram.
Hillary venceu ambos. Agora, defende que a punição seja suspensa, e os delegados, alocados de acordo com o voto popular. Isso a colocaria de novo na disputa, na qual Obama lidera em número de delegados, superdelegados -membros do partido que votam sem vínculo com as urnas- e votos populares.
"Ouvi algumas pessoas dizerem que levar em conta Flórida e Michigan seria mudar as regras", disse ela ontem em comício em Boca Raton. "Não levá-los em conta é que é mudar uma regra central deste país, de que sempre que pudermos entender a intenção dos eleitores, seus votos devem valer."

Persistência
É a última cartada da ex-primeira-dama, que vê sua candidatura ruir. Se não der certo, Hillary fará o que membros de sua equipe dizem que ela tem evitado: traçar o plano B diante da virtual vitória de Obama. Sua insistência em permanecer na corrida até o dia 3 de junho, quando Dakota do Sul e Montana encerram esta fase do processo, é para acumular capital político e negociar com o oponente quando a hora chegar.
Algumas hipóteses, ventiladas pela campanha e por caciques do partido de oposição, começam a surgir. A de mais apelo popular -mas com menos chances concretas, segundo pessoas ligadas às duas campanhas- seria a chamada "chapa dos sonhos". Se a ex-primeira-dama aceitasse tentar retornar à Casa Branca, agora como vice, enterraria a possibilidade de concorrer em 2012.
Caso Obama vença em novembro, pelo protocolo, teria de esperar que ele tentasse cumprir dois mandatos consecutivos. Quando sua vez chegasse, ela teria 68 anos.
Outra possibilidade que começa a ser aventada é a de Obama a indicar como juíza da Suprema Corte -cargo praticamente vitalício. A hipótese foi levantada pelo professor de ciência política e colunista do "Baltimore Sun" Thomas F. Schaller em recente palestra na Folha e por James Andrew Miller, ex-assessor do republicano Howard Baker, em artigo ontem no "Washington Post": "Se Obama prometesse a Hillary a indicação à primeira vaga no Supremo, os eleitores dela teriam um incentivo maior para apoiá-lo do que se ela fosse candidata a vice".
Por ora, as campanhas miram o dia 31. Dos 30 membros do comitê, 13 já declararam em algum momento apoio a Hillary, e 8, a Obama.
Os interesses da senadora são defendidos por Harold Ickes, um dos principais assessores de sua campanha e membro do comitê, conhecido por seu poder de persuasão. Os de Obama, pela ex-assessora de Bill Clinton Donna Brazile, que acha que a disputa atual já foi longe demais e começa a prejudicar as chances do partido.


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