São Paulo, domingo, 22 de maio de 2011

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Chávez faz seu "Minha Casa, Minha Vida"

Megaprograma do líder venezuelano promete construir 350 mil casas até final do mandato e 2 milhões até 2017

Uma ofensiva midiática incentiva inscrição em cadastro nacional; 500 mil pessoas, desde 7 de maio, já se registraram

Fotos Harold Escalona - 07.mai.11/Efe
Venezuelanas aguardam para se registrar no "Gran Misión Vivienda Venezuela" ,o mega programa habitacional que é a aposta de Chávez para 2012

FLÁVIA MARREIRO
DE CARACAS

"Casa digna só é possível no socialismo", diz o papelzinho amarelo, como comprovante de compra, que Leidy Cona, 26, exibe na praça Bolívar, no centro de Caracas.
O tíquete é a comprovação de que Leidy -grávida, mãe de um bebê de 14 meses e de um menino de 12 anos- está inscrita na "Gran Misión Vivienda Venezuela", espécie de "Minha Casa, Minha Vida" versão venezuelana que é o carro-chefe da campanha de Hugo Chávez para tentar garantir a sua terceira eleição à Presidência em 2012.
"Tenho esperança. Conheço gente que ganhou uma casa do presidente", diz ela, que paga cerca de R$ 632, ou mais de um salário mínimo local, para viver num quarto de pensão com a família.
Leidy faz parte do meio milhão de venezuelanos que, desde 7 de maio, responderam à convocação para se registrar no programa. Por enquanto, só é possível fazê-lo em cinco Estados mais atingidos pelas chuvas de 2010.
"Mãe solteira tem prioridade. Ordem do comandante", grita um senhor que distribui formulários na praça. "Não tem fila! É num instante!"
Ali perto, uma mulher que, desconfiada, não quer dar o nome, diz que foi se inscrever "por via das dúvidas", vai que a sorte a toca dessa vez...
A estratégia de promoção do programa inunda a TV. O slogan lançado por Chávez é metafísico: "Para viver vivendo", em contraste com o "viver morrendo" do capitalismo nas favelas que cobrem as montanhas da capital.

MÁQUINA DE ESPERANÇA
Habitação é agora tema obrigatório de analistas e políticos do governo e da oposição. Em geral, eles concordam que Chávez conseguiu transformar a tragédia das chuvas e um problema crônico do país -o deficit de 2 milhões de casas- em espécie de máquina de esperança.
Em 12 anos, o governo Chávez lançou ao menos três grandes programas habitacionais, com pouco resultado. O ministério responsável admite que é de 29 mil/ano a média de casas construídas pelo setor público .
Mas nenhum até agora teve a ênfase dada à ofensiva atual, já aplicada antes para a saúde e a educação (as missões cubanas) ou alimentação (as redes de mercadinhos com comida subsidiada).
A meta ambiciosa martelada por Rafael Ramírez, presidente da estatal petroleira PDVSA -a empresa é o grande caixa do país e a responsável pelo esforço- é construir 350 mil casas até 2012.
O número soma produção estatal, privada, por mutirão ou por convênios com China, Brasil, Rússia, entre outros.
Empresários miram a cifra com desconfiança: apontam que a falta de insumos como cimento e vigas de aço é um gargalo, sem falar dos problemas de execução orçamentária do governo, turbinado pela alta do petróleo.
"Se a equipe do presidente conseguir entregar parte das casas prometidas, o efeito será muito forte, alavancará a esperança de um grupo enorme. O importante é a percepção", diz Jesse Chacón, ex-ministro de Chávez e diretor do instituto de pesquisa GIS 21, próximo do governo.
Com planilha da popularidade do presidente, Chacón diz por que considera que Chávez acertou ao apostar no tema. Mostra que foi justamente no final do ano passado, com chuvas que deixaram 130 mil desabrigados, que a sua avaliação subiu.
Hoje a aprovação a Chávez está em 51,1%, segundo a GIS 21, praticamente o mesmo do Datanálisis, o instituto privado mais importante do país.
Mas o esforço pode se voltar contra o presidente, advertem analistas e o próprio Chacón. "Se não conseguir entregar casas, aí será o efeito bumerangue", afirma.


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