São Paulo, domingo, 22 de maio de 2011

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ANÁLISE

Dilma destoa de Lula e reage à Argentina com a faceta de "leoa"

CLÓVIS ROSSI
COLUNISTA DA FOLHA

Para entender a decisão da presidente Dilma Rousseff de cancelar as licenças automáticas para importação de veículos da Argentina basta recordar uma frase ouvida do outro lado do entrevero:
"Não vamos ceder nem um palmo em nenhuma negociação quando acharmos que está em risco um só posto de trabalho", disparou a ministra argentina da Indústria, Débora Giorgi.
É justamente esse espírito leonino em defesa do que considera o interesse nacional que caracteriza a presidente brasileira, dizem os que a conhecem bem. Equivale a dizer que Dilma não leva em conta quem está do outro lado quando considera que o interesse brasileiro demanda alguma ação.
É o exato oposto do que fazia seu antecessor e padrinho, Luiz Inácio Lula da Silva. Conciliador por natureza, Lula contemporizava sempre, diante de aliados históricos do petismo (Cuba) ou de novíssimos amigos, como o Irã de Ahmadinejad.
No caso da Argentina, a orientação de Lula, repetida à exaustão, era a de que o vizinho tinha o direito de fugir da desindustrialização a que parecia condenado pelas políticas equivocadas adotadas, em especial, no reinado Carlos Menem (1989-1999).
É eloquente que a política mais relevante do período Menem tenha sido a paridade fixa dólar/peso, que minou a competitividade da economia argentina, como o real sobrevalorizado está minando a indústria brasileira.
Quando a Argentina começou em fevereiro a escalar as medidas protecionistas, aumentando o número de bens que requerem licenças prévias de importação, Dilma Rousseff reagiu como Débora Giorgi disse que reagiria do outro lado.
Não quer dizer que a "leoa" Dilma está pronta a sacrificar o Mercosul (que depende essencialmente de Brasil e Argentina) para defender a indústria brasileira.
A presidente sabia que a sua reação seria um sinal aos argentinos de que a tolerância brasileira não era mais infinita como no governo anterior (e mesmo no governo Fernando Henrique).
Logo, era um convite, algo bruto, mas convite em todo o caso, à negociação. É o que está acontecendo.


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