São Paulo, domingo, 22 de maio de 2011 |
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Diferença de competitividade abala euro Países mais atingidos pela crise foram os com deficit nas contas externas, devido ao desequilíbrio no comércio Potência exportadora, Alemanha se beneficiou devido à fragilidade dos demais países-membros da união monetária CLAUDIA ANTUNES DO RIO A diferença de competitividade entre os países que compartilham o euro é um espectro que continuará a rondar a Europa, mesmo na hipótese improvável de sucesso dos planos de ajuste adotados em consequência da crise de 2008. A advertência tem sido feita tanto por um liberal como Martin Wolf, colunista do "Financial Times", quanto pelo social-democrata Heiner Flassbeck, que era vice-ministro das Finanças alemão quando o euro foi implantado, em 1999. Ambos contrariam a visão da ultracompetitiva Alemanha, maior economia europeia e segundo maior exportador mundial, que tem superavit com a maioria dos parceiros de bloco. Berlim aponta a frouxidão dos vizinhos com os gastos públicos como a raiz da instabilidade na união monetária -embora esse seja um problema conjuntural na maioria dos casos. "Se o diagnóstico é errado, você faz coisas malucas. Não é possível estabilizar as contas de um país apenas com corte de gastos", disse à Folha Flassbeck, hoje diretor da Unctad (conferência da ONU para o comércio e o desenvolvimento). O sintoma do desequilíbrio competitivo na zona do euro são as discrepâncias nos saldos da conta corrente -balanço do dinheiro que entra e sai de um país. Como a moeda única europeia impede a intervenção dos governos no câmbio para estimular exportações, países menos avançados como Grécia, Portugal e Espanha passaram a acumular deficits comerciais e, em consequência, nas suas contas correntes. Esse saldo negativo -indicativo de que precisam de financiamento externo para cumprir seus pagamentos- os deixou mais frágeis na hora da crise. "Quando o dinheiro escasseia, fica mais difícil para quem tem deficit", explica Celso Toledo, da consultoria LCA. INFLAÇÃO Flassbeck diz que a solução em longo prazo é um movimento coordenado de aumentos salariais maiores na Alemanha, para estimular o consumo interno, e menores nas economias deficitárias da zona do euro. É o oposto do que aconteceu nos últimos anos, quando os alemães tiveram reajustes abaixo do crescimento de sua produtividade e os cidadãos do sul da Europa, acima dele. "É preciso esse ajuste de competitividade para que em dez anos as contas correntes estejam equilibradas. Hoje, até a França está em risco nessa área." Para o ex-vice-ministro, falta aos europeus um entendimento claro do que é uma união monetária. "Não se trata de ter os mesmo dias de férias, como disse Angela Merkel [a chanceler alemã], mas de ter a mesma inflação. A da Alemanha esteve baixa e a grega, muito alta. A união monetária pede que você ajuste o custo do trabalho à produtividade nacional para que a meta [de 2% ao ano] possa ser atingida por todos os países." No prazo mais imediato, Celso Toledo chama a atenção para o fato de que não há uniformidade entre as economias europeias com deficit externo. "Uma consegue responder melhor que a outra. A Grécia, que chegou a falsificar suas contas, e Portugal, com baixo crescimento crônico, já eram ruins antes da crise. Irlanda e Espanha cresciam mais do que a média europeia e nunca tiveram problema fiscal muito agudo." Texto Anterior: Irã: 30 acusados de espionar para EUA são presos Próximo Texto: Opinião: Colonialismo, Strauss-Kahn e Fundo Monetário Internacional Índice | Comunicar Erros |
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