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IRAQUE OCUPADO
Advogados de militares indiciados poderão questionar generais, mas querem depoimentos de Rumsfeld e Bush
Acusados de tortura culpam Washington
DA REDAÇÃO
Os advogados de dois militares
americanos que se apresentaram
ontem à corte marcial montada
em Bagdá para julgar a tortura de
iraquianos na prisão de Abu
Ghraib obtiveram o direito de
questionar o alto escalão militar
para estabelecer se seus clientes
agiram sob ordens. Mas os defensores exigem mais: interrogar o
secretário da Defesa, Donald
Rumsfeld, e, eventualmente, o
presidente George W. Bush.
Entre os oficiais que poderão ser
convocados a depor, estão os generais Ricardo Sanchez, comandante das tropas americanas no
Iraque, John Abizaid, chefe do
Comando Central americano para o Oriente Médio, e Geoffrey
Miller, responsável pelas prisões
iraquianas. Mas o juiz, coronel James Pohl, rejeitou o pedido dos
representantes dos sargentos Javal Davis e Charles Graner Jr. para
questionar Rumsfeld.
Paul Bergrin, que defende Davis, disse que a responsabilidade
final pelo que ocorreu em Abu
Ghraib cabe à Casa Branca. "Uma
das últimas coisas que meu cliente ouviu antes de ser mandado para o Iraque, no ano passado, foi
um discurso de Bush segundo o
qual as Convenções de Genebra
[que protegem prisioneiros de
guerra] não se aplicavam à guerra
contra o terror." Ele não pediu à
corte que convocasse Bush porque não pode provar a ligação entre o discurso e as ações de seu
cliente.
O juiz Pohl negou o pedido para
mudar a corte para os EUA ou para a Alemanha -onde o Pentágono mantém base-, mas disse que
reconsideraria a decisão dependendo do momento em que o julgamento for retomado -o advogado de Graner, Guy Womack,
não espera audiências até outubro. Pohl também disse que Abu
Ghraib, como cena do crime, não
pode ser destruída -conforme
Bush sugeriu recentemente e foi
rechaçado pelos iraquianos.
24 anos e meio
Davis e Graner se apresentaram
ontem para a audiência pré-julgamento, na qual deveriam se declarar culpados ou inocentes das
acusações, mas não se manifestaram. O sargento Ivan Frederick 2º
também se apresentou, mas teve
sua audiência adiada para 23 de
julho porque seu advogado se recusou a viajar até Bagdá.
Os três estão entre os sete militares americanos indiciados pela
prática, em outubro passado, de
abusos e torturas em Abu Ghraib,
num escândalo que veio à tona no
final de abril com a divulgação de
centenas de fotos tiradas dentro
da prisão iraquiana nas quais os
militares envolvidos aparecem intimidando, humilhando sexualmente, espancando e maltratando prisioneiros.
Até agora, apenas o recruta Jeremy Sivits, que fez um acordo
com a acusação, foi julgado. Sivits, que denunciou colegas em
troca de sofrer acusações mais
brandas, foi condenado a um ano
de reclusão e expulso do Exército.
Graner, contra quem pesam as
acusações mais graves, pode ser
condenado a 24 anos e meio de
prisão. Entre outras coisas, o sargento teria espancado um iraquiano até a perda da consciência
e seria o responsável pela foto da
pirâmide de iraquianos nus que
ganhou as capas dos jornais.
Frederick pode ser condenado a
até 16 anos e meio, e Davis, a oito.
Todos podem ser rebaixados e expulsos do Exército.
Os advogados afirmam que
seus clientes -que, em várias das
fotos, aparecem sorrindo e fazendo sinal de "positivo"- agiram
por ordem de superiores. "Ninguém pode sugerir, de cara limpa,
que esses guardas estavam agindo
sozinhos", disse Womack, afirmando poder provar que os comandantes da inteligência militar
e os responsáveis pela prisão "estavam conscientes de tudo que estava sendo feito". "Eles estavam
sob supervisão direta de oficiais
da inteligência. Não dá para termos soldados americanos em
uma zona de guerra questionando as ordens que recebem."
Bergrin, por sua vez, disse que
os interrogadores usavam o que
ele chamou de "métodos israelenses", como humilhação sexual e
nudez -que, segundo ele, os israelenses usaram com sucesso para pressionar prisioneiros árabes.
O advogado de Davis disse que
gostaria de questionar Bush porque "se sabe, pelos fatos, que o
presidente mudou as regras de
combate para a obtenção de informações".
Diversas investigações estão em
curso, mas a primeira a ser concluída -um relatório assinado
pelo general Antonio Taguba-
limitou-se a citar falhas de comando nas esferas mais baixas,
dizendo que não houve ordem
para as práticas abusivas. Em contrapartida, relatórios do Comitê
Internacional da Cruz Vermelha e
de outras instituições humanitárias afirmam que as violações
eram sistemáticas e disseminadas
entre as forças americanas.
Está marcada para hoje a audiência pré-julgamento da soldado Lynndie England, celebrizada
por aparecer em várias fotos de
abusos. Diferentemente de seus
colegas, England será julgada nos
EUA. Ela foi dispensada do serviço no Iraque após engravidar -o
pai é Graner, segundo a imprensa
local. Outras duas recrutas indiciadas, Sabrina Harman e Megan
Ambuhl, aguardam a decisão para saber se irão à corte marcial.
Com agências internacionais
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