São Paulo, sexta-feira, 22 de junho de 2007

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Dirigentes da UE mantêm divergências

Primeiro dia da cúpula não desbloqueia tratado proposto para substituir Constituição fracassada do bloco europeu

Encontro foi aberto ontem em Bruxelas também com exigência britânica de pôr fim a Carta de Direitos que afetaria sua soberania legal

DA REDAÇÃO

Os governantes dos 27 países da União Européia não chegaram, no primeiro dia de sua cúpula, a um acordo sobre as divergências que bloqueiam a aprovação do tratado que regulamentará o funcionamento do bloco. Em entrevista no fim da noite, a chanceler (premiê) alemã, Angela Merkel, que ocupa a presidência rotativa da UE, disse que os líderes concordaram em continuar trabalhando hoje para romper o impasse.
"Concordamos em fazer todos os esforços para chegar a um acordo. Isso é possível? Não é possível dizer", disse ela. O tratado foi proposto pela Alemanha para substituir o bem mais ambicioso projeto de Constituição da UE, derrotado em referendos na França e na Holanda em 2005.
A julgar pelas declarações do presidente polonês, Lech Kaczynski, as perspectivas não são boas. "Infelizmente não posso dizer que estou otimista, mas é meu dever como membro do Conselho Europeu continuar as negociações", disse.
A posição da Polônia, que se opõe ao critério de votação proposto pela Alemanha sob o argumento de que ele dá muito poder aos países mais populosos, é o maior empecilho a um acordo.

As exigências de Blair
Mas o premiê britânico Tony Blair, que se despede do cargo na próxima semana, também não facilitou as coisas. Ele chegou à cúpula, em Bruxelas, pedindo "plena satisfação" a sua exigência de descartar do projeto a Carta dos Direitos Fundamentais, que interferiria nas legislações dos países-membros em questões como imigração, regras judiciárias, Previdência e direitos trabalhistas.
Blair também se opõe à criação do cargo de ministro europeu das Relações Exteriores, que limitaria a liberdade diplomática dos Estados-membros. A idéia desse superministro é ainda rejeitada pela Holanda.
Para a Polônia, o problema é o sistema de "dupla maioria", pelo qual uma proposta seria aprovada nas reuniões se recebesse votos com o peso de 55% dos países e de 65% da população do bloco.
O presidente Kaczynski, que chegou ao encontro com matemáticos em sua delegação, estaria disposto a aceitar a mesma regra, desde que modificado o critério demográfico, de 65% para 62%. Isso bastaria para conter o direito de bloqueio que os poloneses acreditam que Berlim conquistaria, se mantida a proposta original.
A informação foi publicada em Praga pelo jornal "Lidove Noviny". A República Tcheca, embora de forma menos ruidosa, era o único país a apoiar a reivindicação dos poloneses.
A única indicação de que poderia haver um acordo sobre os critérios de votação partiu do porta-voz da Presidência francesa, David Martinon. Ele disse "acreditar" que a presidência alemã reduziria as diferenças de peso entre os países maiores e menores.

Eurocéticos
Quanto às exigências de Blair, diplomatas acreditam que a opção seria aceitá-las. A União Européia seria menor e com menos poderes, obedecendo à formatação imposta pelos "eurocéticos", majoritários entre os britânicos.
O fato é que o encontro, iniciado às 18h, foi precedido de uma intensa maratona diplomática. Merkel pediu para que o presidente francês, Nicolas Sarkozy, participasse da tentativa de convencimento dos poloneses. Sarkozy se reuniu no início da tarde com os premiês espanhol, José Luis Zapatero, e o italiano, Romano Prodi.
Menos conciliador, o premiê dinamarquês, Anders Fogh Rasmussen, criticou duramente a Polônia por ter argumentado na véspera que seu peso demográfico seria maior caso a Alemanha nazista não a tivesse vitimado com um genocídio durante a Segunda Guerra Mundial. Evocar o passado, disse Rasmussen, "é um absurdo".


Com agências internacionais


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