São Paulo, domingo, 22 de junho de 2008

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SUCESSÃO NOS EUA / PÚBLICO E PRIVADO

Investimento na Petrobras cria problema para McCain

Empresa brasileira atua no Irã, ação criticada pelo candidato republicano

Caso é exemplo de lacuna entre retórica e prática na atual corrida à Casa Branca; Obama também se desfez de aplicações iranianas


LM Otero - 18.jun.08/Associated Press
McCain em campanha; ele conclamou empresas e cidadãos a boicotar empresas com negócios no Irã

SÉRGIO DÁVILA
DE WASHINGTON

Apesar de basear seu programa de segurança nacional numa retórica belicosa e especialmente dura em relação ao Irã, o senador John McCain mantinha dinheiro investido em empresas com atuação naquele país do Oriente Médio até o início deste mês. Um dos fundos que contavam com aplicações do candidato republicano à sucessão de George W. Bush tem na Petrobras seu carro-chefe.
A empresa brasileira de petróleo atua tanto no golfo do México norte-americano quanto no golfo Pérsico iraniano. Os investimentos de McCain constam de relatório de 2006 dos bens do senador tornado público pelo site OpenSecrets, mantido pelo Center for Responsive Politics, de Washington, ONG que mapeia o dinheiro na política americana. O ano é o mais recente disponível.
O total investido pelo senador, quantia que pode variar entre US$ 315 mil e US$ 650 mil, estava em três fundos mútuos do JP Morgan destinados aos filhos dele com Cindy McCain. Os maiores investimentos de cada um dos três fundos são numa empresa petrolífera com atuação no Irã. No caso da Petrobras, o fundo em questão é o Emerging Markets Equity Fund, especializado em empresas dos chamados mercados emergentes.
Segundo o OpenSecrets, McCain tinha aí entre US$ 15 mil e US$ 50 mil -os políticos não são obrigados a declarar o valor específico. Procurada pela Folha, a assessoria do candidato disse que encaminhou o caso, mas não tinha enviado resposta até a conclusão desta edição. Informado da polêmica pelo jornal, o escritório de imprensa da Petrobras no Rio de Janeiro disse que não comentaria o assunto.
Depois da publicação dos investimentos, Tucker Bounds, um dos assessores de imprensa de McCain, disse ao jornal "USA Today" que o senador havia se desfeito de dois dos fundos e que a situação em relação ao terceiro seria avaliada. Assim como o atual presidente dos EUA, George W. Bush, o companheiro de partido à sua sucessão defende uma legislação mais dura para empresas e pessoas físicas que tenham negócios com o governo iraniano.
Pela lei atual dos EUA, são passíveis de sanções companhias norte-americanas e suas subsidiárias que façam negócios com o Irã. Podem ser impedidas de fazer empréstimos em bancos americanos e assinar contratos com o governo.
Em discurso feito no começo do mês no Comitê Israelo-Americano de Assuntos Públicos (Aipac, na sigla em inglês), principal lobby pró-Israel dos EUA, McCain havia exortado empresas e cidadãos a usar esse instrumento -deixar de fazer negócios com empresas que têm negócios com o Irã- como maneira de pressionar o governo daquele país a desistir de seu programa nuclear atual.

"Bombardeie o Irã"
"Quanto mais pessoas, empresas, fundos de pensão e instituições financeiras ao redor do mundo deixarem de investir em companhias que fazem negócios com o Irã, a elite radical que controla aquele país se tornará ainda mais impopular do que é agora", discursou então o candidato. Um dos hits do site YouTube é o senador cantando uma música com as letras alteradas para "Bombardeie o Irã".
Num encontro com eleitores na Carolina do Sul em 18 de abril de 2007, o então pré-candidato foi indagado sobre quanto tempo os americanos teriam de esperar antes de mandar uma mensagem dura a Teerã. Ele respondeu dizendo: "Você conhece aquela velha música dos Beach Boys, "Bomb Iran'?" Então, cantou: "Bomb, bomb, bomb". O nome da música que ganhou cover do grupo em 1967 é "Barbara Ann".
Não é a primeira vez que os atos dos candidatos contradizem sua retórica. No mês passado, Cindy McCain teve de retirar US$ 2 milhões que mantinha investidos em dois fundos que realizam negócios com empresas com atuação no Sudão.
A decisão veio depois de revelação feita pela ONG Divestment Task Force, que milita por um boicote ao país africano que é palco de um dos maiores massacres da era contemporânea, na região de Darfur.
Segundo a mesma OpenSecrets, também Barack Obama mantinha dinheiro investido em um fundo que aplica em empresas que fazem negócios com o Irã. Depois de informado do fato, o senador se desfez do investimento. No começo da campanha, o virtual candidato democrata defendia um diálogo maior do que o atual com o regime islâmico de Teerã. Nas últimas semanas, no entanto, tem endurecido sua retórica em relação ao país.


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