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Irã já admite 17 mortos em protestos no país
Repressão violenta alimenta cisão entre líderes conservadores e reformistas, que pregam livre direito de manifestação
Em retrato de desavenças internas do regime, filha de ex-presidente que hoje apoia opositor Mousavi é detida após ir a protesto
20.jun.09/Associated Press
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Manifestante contra Mahmoud Ahmadinejad atira pedra em forças de segurança iranianas durante protesto no sábado em Teerã
DA REDAÇÃO
Cresceram ontem as manifestações de cisão na elite política e religiosa do Irã, um dia
depois dos mais violentos choques entre policiais e manifestantes desde a proclamação do
resultado, questionado pela
oposição, da eleição presidencial de 12 de junho.
A TV estatal informou também ontem que dez pessoas
morreram, e cerca de cem ficaram feridas, nos confrontos de
anteontem. Assim, sábado se
tornou o dia mais violento ao
longo da semana de protestos
em que manifestantes acusam
o governo iraniano de ter fraudado o processo eleitoral para
permitir a reeleição do presidente Mahmoud Ahmadinejad.
O total oficial de mortos nos
confrontos desde o dia 13 é agora de 17 pessoas.
A forte repressão de anteontem, que contou com o apoio de
milhares de policiais e milicianos acionados para evitar manifestações nas ruas, se seguiu à
ordem do líder supremo do
país, o aiatolá Ali Khamenei, de
que cessassem os protestos.
Khamenei havia alertado na
sexta que novas manifestações
seriam "um erro" e que os participantes de passeatas seriam
"responsáveis por derramamento de sangue e caos".
Antes da realização das eleições, analistas apontavam que o candidato reformista derrotado, Mir
Hossein Mousavi, era um forte
oponente para Ahmadinejad.
Porém, duas horas após o fechamento das urnas, a agência
estatal de notícias já declarava
a reeleição do presidente. O resultado oficial deu a Ahmadinejad 63% dos votos, contra
33% de Mousavi.
Desafios
Não foram só os manifestantes de sábado que desafiaram,
em atitude inédita desde a Revolução Islâmica de 1979, a ordem do líder supremo do país.
Ontem, clérigos reformistas
também se manifestaram contra a repressão aos cidadãos determinada pelo governo. O ex-presidente Mohammad Khatami (1997-2005), um dos principais apoiadores de Mousavi,
afirmou que a tentativa de "impedir as pessoas de manifestar
as suas demandas" terá "sérias
consequências".
Khatami criticou ainda a
atuação do Conselho dos Guardiães, máxima instância constitucional do país, que fará a recontagem de 10% dos votos da
eleição. Segundo o ex-presidente, o conselho não foi imparcial no passado e não tem
condições de dirimir as dúvidas
atuais sobre o pleito.
O presidente do Parlamento
iraniano, Ali Larijani, também
questionou a neutralidade do
Conselho dos Guardiães.
Noutro desafio a Khamenei,
o aiatolá Hossein Ali Montazeri, mais importante autoridade
religiosa entre os reformistas,
disse ontem que "resistir às demandas do povo é, do ponto de
vista religioso, proibido".
Montazeri, que participou da
Revolução Islâmica e ajudou a
estabelecer o Estado teocrático
iraniano, é adversário do atual
líder supremo e há alguns anos
vive em prisão domiciliar.
Outra decisão que tornou explícita a divisão entre líderes
políticos e religiosos reformistas e conservadores foi a da prisão no sábado, durante uma
manifestação que pedia novas
eleições, da filha do ex-presidente Akbar Hashemi Rafsanjani (1989-1997).
Além de Faezeh Hashemi,
46, outros quatro integrantes
da família do ex-presidente foram presos no sábado. Há relatos de que os quatro tenham sido liberados, mas que Faezeh
Hashemi permanecia detida.
Rafsanjani é o atual presidente da Assembleia dos Especialistas, órgão de 86 clérigos
encarregado de selecionar e supervisionar o líder supremo.
O presidente do Parlamento,
Ali Larijani, disse a um canal de
TV local que o grande número
de pessoas questionando a lisura do processo eleitoral formava um grupo "que deve ser respeitado e que não devia ser confundido com um pequeno grupo de manifestantes radicais".
A declaração se seguiu à caracterização dos manifestantes
de sábado, pelo governo, como
baderneiros e terroristas.
Mousavi, por sua vez, insistiu
ontem que seus eleitores mantenham os protestos, "um direito do povo", mas que ajam
com prudência. Em sua página
na internet, Mousavi disse avaliar que as forças militares não
se arriscarão a criar "danos irreversíveis" nos confrontos.
Prisões
O reformista também protestou contra as "prisões em
massa" de opositores, que segundo ele podem vir a criar
uma cisão irreversível entre a
sociedade civil e as forças militares do país.
Na escalada de restrições à liberdade de expressão no país,
autoridades iranianas prenderam ontem o correspondente
no país da revista "Newsweek",
o canadense Maziar Bahari.
Outro correspondente, Jon
Leyne, da rede BBC, recebeu
ordens para deixar o país em no
máximo 24 horas. O Ministério
das Relações Exteriores acusou
a mídia ocidental de ser porta-voz dos opositores.
Segundo a organização Repórteres sem Fronteiras, 23
jornalistas e blogueiros iranianos já foram presos desde o início das manifestações.
Com agências internacionais
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