São Paulo, segunda-feira, 22 de junho de 2009

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Irã já admite 17 mortos em protestos no país

Repressão violenta alimenta cisão entre líderes conservadores e reformistas, que pregam livre direito de manifestação

Em retrato de desavenças internas do regime, filha de ex-presidente que hoje apoia opositor Mousavi é detida após ir a protesto

20.jun.09/Associated Press
Manifestante contra Mahmoud Ahmadinejad atira pedra em forças de segurança iranianas durante protesto no sábado em Teerã

DA REDAÇÃO

Cresceram ontem as manifestações de cisão na elite política e religiosa do Irã, um dia depois dos mais violentos choques entre policiais e manifestantes desde a proclamação do resultado, questionado pela oposição, da eleição presidencial de 12 de junho.
A TV estatal informou também ontem que dez pessoas morreram, e cerca de cem ficaram feridas, nos confrontos de anteontem. Assim, sábado se tornou o dia mais violento ao longo da semana de protestos em que manifestantes acusam o governo iraniano de ter fraudado o processo eleitoral para permitir a reeleição do presidente Mahmoud Ahmadinejad.
O total oficial de mortos nos confrontos desde o dia 13 é agora de 17 pessoas.
A forte repressão de anteontem, que contou com o apoio de milhares de policiais e milicianos acionados para evitar manifestações nas ruas, se seguiu à ordem do líder supremo do país, o aiatolá Ali Khamenei, de que cessassem os protestos.
Khamenei havia alertado na sexta que novas manifestações seriam "um erro" e que os participantes de passeatas seriam "responsáveis por derramamento de sangue e caos".
Antes da realização das eleições, analistas apontavam que o candidato reformista derrotado, Mir Hossein Mousavi, era um forte oponente para Ahmadinejad.
Porém, duas horas após o fechamento das urnas, a agência estatal de notícias já declarava a reeleição do presidente. O resultado oficial deu a Ahmadinejad 63% dos votos, contra 33% de Mousavi.

Desafios
Não foram só os manifestantes de sábado que desafiaram, em atitude inédita desde a Revolução Islâmica de 1979, a ordem do líder supremo do país.
Ontem, clérigos reformistas também se manifestaram contra a repressão aos cidadãos determinada pelo governo. O ex-presidente Mohammad Khatami (1997-2005), um dos principais apoiadores de Mousavi, afirmou que a tentativa de "impedir as pessoas de manifestar as suas demandas" terá "sérias consequências".
Khatami criticou ainda a atuação do Conselho dos Guardiães, máxima instância constitucional do país, que fará a recontagem de 10% dos votos da eleição. Segundo o ex-presidente, o conselho não foi imparcial no passado e não tem condições de dirimir as dúvidas atuais sobre o pleito.
O presidente do Parlamento iraniano, Ali Larijani, também questionou a neutralidade do Conselho dos Guardiães.
Noutro desafio a Khamenei, o aiatolá Hossein Ali Montazeri, mais importante autoridade religiosa entre os reformistas, disse ontem que "resistir às demandas do povo é, do ponto de vista religioso, proibido".
Montazeri, que participou da Revolução Islâmica e ajudou a estabelecer o Estado teocrático iraniano, é adversário do atual líder supremo e há alguns anos vive em prisão domiciliar.
Outra decisão que tornou explícita a divisão entre líderes políticos e religiosos reformistas e conservadores foi a da prisão no sábado, durante uma manifestação que pedia novas eleições, da filha do ex-presidente Akbar Hashemi Rafsanjani (1989-1997).
Além de Faezeh Hashemi, 46, outros quatro integrantes da família do ex-presidente foram presos no sábado. Há relatos de que os quatro tenham sido liberados, mas que Faezeh Hashemi permanecia detida.
Rafsanjani é o atual presidente da Assembleia dos Especialistas, órgão de 86 clérigos encarregado de selecionar e supervisionar o líder supremo.
O presidente do Parlamento, Ali Larijani, disse a um canal de TV local que o grande número de pessoas questionando a lisura do processo eleitoral formava um grupo "que deve ser respeitado e que não devia ser confundido com um pequeno grupo de manifestantes radicais".
A declaração se seguiu à caracterização dos manifestantes de sábado, pelo governo, como baderneiros e terroristas.
Mousavi, por sua vez, insistiu ontem que seus eleitores mantenham os protestos, "um direito do povo", mas que ajam com prudência. Em sua página na internet, Mousavi disse avaliar que as forças militares não se arriscarão a criar "danos irreversíveis" nos confrontos.

Prisões
O reformista também protestou contra as "prisões em massa" de opositores, que segundo ele podem vir a criar uma cisão irreversível entre a sociedade civil e as forças militares do país.
Na escalada de restrições à liberdade de expressão no país, autoridades iranianas prenderam ontem o correspondente no país da revista "Newsweek", o canadense Maziar Bahari.
Outro correspondente, Jon Leyne, da rede BBC, recebeu ordens para deixar o país em no máximo 24 horas. O Ministério das Relações Exteriores acusou a mídia ocidental de ser porta-voz dos opositores.
Segundo a organização Repórteres sem Fronteiras, 23 jornalistas e blogueiros iranianos já foram presos desde o início das manifestações.


Com agências internacionais


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