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ANÁLISE
País já esperou tempo demais para ser livre
ROGER COHEN
DO "NEW YORK TIMES", EM TEERÃ
O chefe de polícia iraniano,
de uniforme verde, desce pelo
beco Komak com os braços levantados e uma pequena tropa
a seu lado. "Eu juro por Deus,
eu tenho filhos, eu tenho uma
mulher, não quero bater em
ninguém. Por favor voltem para casa", grita ele aos manifestantes à sua frente.
Um homem atira uma pedra
nele. O comandante, como se
nada tivesse acontecido, continua a implorar. Há gritos de
"unam-se a nós". A tropa recua
em direção à rua da Revolução,
onde multidões vão e vêm, confrontadas por milicianos portando cassetetes e policiais em
motocicletas.
O líder supremo do Irã, Ali
Khamenei, usou seu sermão na
sexta para alertar que haveria
"derramamento de sangue e
caos" se os protestos contra a
reeleição de Mahmoud Ahmadinejad continuassem.
Ele conseguiu as duas coisas
no sábado -e viu a autoridade
sacrossanta de seu cargo questionada como nunca antes desde a Revolução Islâmica de
1979.
Khamenei correu um risco
radical. Ele tomou partido, perdendo a posição de árbitro imparcial, ao se alinhar com Ahmadinejad contra Mir Hossein
Mousavi, líder da oposição.
Ele provocou milhões de iranianos ao elogiar o inédito nível
de participação numa eleição
que muitos agora veem como
um golpe eleitoral. Ele ridicularizou a noção de que uma investigação sobre a votação pudesse levar a um resultado diferente.
A resposta popular foi inequívoca. É engraçado como a
obsessão das pessoas volta para
assombrá-las. Há tempos, ouço
falar do temor de Khamenei de
uma "revolução de veludo".
Não houve nada de veludo nos
confrontos de sábado. A demanda inicial contra a reeleição de Ahmadinejad se transformou em uma confrontação
com o próprio regime.
Não sei aonde esses protestos levarão. Eu sei que alguns
policiais estão hesitando.
Aquele comandante falando
sobre a sua família não estava
sozinho. Havia outros policiais
reclamando sobre os milicianos. Algumas forças de segurança simplesmente assistiram
aos protestos.
Eu também sei que as mulheres iranianas estão na vanguarda dos protestos. Há dias, eu as
vejo incentivarem os menos corajosos homens. "A ONU não
pode nos ajudar?", uma delas
me perguntou. Eu disse que duvidava. "Então estamos sozinhos", disse ela.
O mundo está assistindo, a
tecnologia ajuda, e o Ocidente
manda os sinais que pode, mas,
no fim das contas, o que ela diz
é verdade. Os iranianos travam
essa batalha solitária há muito
tempo: para ser livres e ter algum tipo de democracia.
Enquanto a noite de sábado
caía sobre a capital, tiros podiam ser ouvidos a distância. E
de telhados por toda a cidade, o
grito de desafio "Deus é grande" se ouvia de novo, como vem
acontecendo todas as noites
desde a eleição. O mesmo grito
foi ouvido em 1979, apenas para
que uma forma de absolutismo
cedesse a outra. O Irã já esperou tempo o bastante para se
tornar livre.
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