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TERROR EM LONDRES
Duas semanas depois, Londres é alvo de novos ataques terroristas
Explosões também atingiram ônibus e metrô, mas foram fracas, não mataram nem foram feitas por suicidas
ÉRICA FRAGA
DE LONDRES
Era horário de almoço em outra
quinta-feira normal de trabalho e
a população de Londres seguia
sua vida normal quando cenas assustadoramente familiares começaram a se desenrolar ontem. Pessoas corriam em pânico de vagões
do metrô, testemunhas narravam
explosões, policiais interditavam
ruas. A cidade que nem sequer
terminara a contagem oficial de
mortos dos atentados de 7 julho
passado estava sendo atacada novamente pelo terrorismo.
Passadas duas semanas dos ataques suicidas que deixaram ao
menos 52 mortos, quatro tentativas de explosão de bombas ocorreram em três estações de metrô e
um ônibus na capital britânica.
Não houve mortos. Até o fim do
dia, foi relatado apenas um caso
de crise asmática -sem dar detalhes e sem a confirmação de autoridades, o jornal "The Guardian"
citou uma mulher ferida.
Mas, segundo Ian Blair, comissário da polícia metropolitana de
Londres, tudo indica que a intenção dos terroristas era causar
mortes. "Claramente, a intenção
deve ter sido matar. Você não faz
isso com outra intenção", disse.
Ele acrescentou que foram encontrados explosivos que não
chegaram a ser detonados. Testes
para checar a possibilidade de que
as bombas contivessem material
químico, biológico ou radiológico
deram resultado negativo.
Aparentando calma, o premiê
Tony Blair deu uma entrevista coletiva ao lado do colega australiano, John Howard, pedindo que a
população se mantivesse tranqüila. "Não podemos minimizar incidentes como esses. Nós sabemos por que essas coisas são feitas. Elas são feitas para assustar as
pessoas", afirmou Blair.
O prefeito de Londres, Ken Livingstone, também fez um apelo
ao conhecido sangue-frio dos londrinos, dizendo ter certeza de que
a população "vai superar isso".
Mas o estrago nos nervos dos
britânicos já estava feito. Se falharam ao tentar provocar mortes e
ferimentos, os autores dos ataques conseguiram assustar.
"Quando cheguei em casa, minhas mãos tremiam. Estou em
pânico. É muito perto de casa",
disse Lisa Chilley, 24, à agência de
notícias Associated Press.
Um homem contou seu drama
à rede de televisão CNN: "Eu vi
pessoas correndo para salvar suas
vidas, e não havia espaço para que
eu passasse para outro vagão. Não
tinha um modo como eu pudesse
fugir. Tudo que fiz foi fazer uma
oração e esperar acontecer".
Chilley mora perto de Oval, estação de metrô no sul de Londres.
Já o homem não identificado que
narrou seu desespero à CNN viajava em direção à estação de Warren Street, centro. Nos dois locais,
ocorreram pequenas explosões.
O mesmo se passou no ônibus
da linha 26, que foi atingido, enquanto circulava em Shoreditch,
zona leste da capital britânica, por
um estouro em seu andar de cima. Janelas foram quebradas.
Em um quarto local, na estação
de Shepherd's Bush, zona oeste da
cidade, um pacote suspeito foi encontrado. Tanto o ônibus como as
três estações de metrô foram esvaziadas pela polícia.
Além disso, ruas foram cercadas, moradores tiveram de deixar
suas casas e passar a noite em
abrigos improvisados e comerciantes foram obrigados a fechar
as portas. Um barulho de sirenes
foi ouvido pelo restante do dia.
Três linhas de metrô permaneciam fechadas até ontem à noite.
Algumas semelhanças das ações
de ontem com as de 7 de julho
eram desconcertantes. Há 15 dias,
os atentados também ocorreram
em três trens do metrô e num ônibus, quase simultaneamente. Ian
Blair falou em uma certa "ressonância", mas ressaltou que ainda
era cedo para chegar a qualquer
conclusão.
No entanto, não está claro se os
ataques de ontem foram obra de
homens dispostos a se matar. Testemunhas relataram terem visto
os terroristas fugirem em dois dos
locais afetados. Em Oval, passageiros teriam lutado com um homem que acabou escapando.
"Um homem segurava uma bolsa
de viagem preta quando embarcou no trem. Ele a colocou no
chão e, de repente, saiu correndo.
As pessoas tentaram pará-lo, mas
ele escapou. Houve, então, um barulho que soava como o estouro
de uma rolha de champanhe",
disse um homem que estava na
estação Oval ao canal Sky News.
Em Shepherd's Bush, testemunhas também contavam que um
homem havia largado uma bolsa
num vagão e fugido.
No fim do dia, a polícia confirmou o que câmeras de televisão já
pareciam ter flagrado mais cedo:
duas pessoas foram presas em conexão com os ataques. Uma delas
perto de Downing Street -ruela
onde reside Blair. Outra, que foi
liberada horas depois, perto da estação de Tottenham Court Road.
Ao mesmo tempo, no Paquistão, a polícia afirmou que está, a
pedido dos britânicos, à caça de
Haroon Rashid Aswat, ex-assistente do clérigo britânico radical
Abu Hamza al Masri, que, aparentemente, havia estado em contato com os suicidas autores dos
atentados de 7 de julho.
Enquanto os londrinos reclamavam da falta de mecanismos
de segurança no metrô da cidade
-que, por enquanto, só inclui
em seu esquema normal a presença de cães farejadores-, em Nova
York, foi anunciado que bagagens
passarão a ser revisadas aleatoriamente no metrô.
Por sorte, resmungavam alguns
britânicos, os ataques de ontem
pareciam menos sofisticados.
Aparentemente, apenas os detonadores das bombas estouraram.
Os dispositivos encontrados
eram, segundo a polícia, menores
do que os de 7 de julho.
A esperança das autoridades é
que os terroristas tenham falhado,
o que significa que podem ter deixado pistas importantes para trás,
como impressões digitais. Mas
uma outra hipótese era a de que
tudo tenha sido armado só mesmo para assustar.
É provável que, a exemplo do
que ocorreu na sexta-feira subseqüente ao dia 7 de julho, os britânicos acordem hoje com aparente
tranqüilidade. Mas já há indícios
de pequenas mudanças em curso.
"Isso é uma repetição das semanas passadas. Todos que conheço
estão comprando bicicletas agora", dizia Allan Harp, 32, ao deixar
um ônibus preso no tráfego.
Com agências internacionais
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