São Paulo, sexta-feira, 22 de julho de 2005

Próximo Texto | Índice

TERROR EM LONDRES

Duas semanas depois, Londres é alvo de novos ataques terroristas

Explosões também atingiram ônibus e metrô, mas foram fracas, não mataram nem foram feitas por suicidas

ÉRICA FRAGA
DE LONDRES

Era horário de almoço em outra quinta-feira normal de trabalho e a população de Londres seguia sua vida normal quando cenas assustadoramente familiares começaram a se desenrolar ontem. Pessoas corriam em pânico de vagões do metrô, testemunhas narravam explosões, policiais interditavam ruas. A cidade que nem sequer terminara a contagem oficial de mortos dos atentados de 7 julho passado estava sendo atacada novamente pelo terrorismo.
Passadas duas semanas dos ataques suicidas que deixaram ao menos 52 mortos, quatro tentativas de explosão de bombas ocorreram em três estações de metrô e um ônibus na capital britânica.
Não houve mortos. Até o fim do dia, foi relatado apenas um caso de crise asmática -sem dar detalhes e sem a confirmação de autoridades, o jornal "The Guardian" citou uma mulher ferida.
Mas, segundo Ian Blair, comissário da polícia metropolitana de Londres, tudo indica que a intenção dos terroristas era causar mortes. "Claramente, a intenção deve ter sido matar. Você não faz isso com outra intenção", disse.
Ele acrescentou que foram encontrados explosivos que não chegaram a ser detonados. Testes para checar a possibilidade de que as bombas contivessem material químico, biológico ou radiológico deram resultado negativo.
Aparentando calma, o premiê Tony Blair deu uma entrevista coletiva ao lado do colega australiano, John Howard, pedindo que a população se mantivesse tranqüila. "Não podemos minimizar incidentes como esses. Nós sabemos por que essas coisas são feitas. Elas são feitas para assustar as pessoas", afirmou Blair.
O prefeito de Londres, Ken Livingstone, também fez um apelo ao conhecido sangue-frio dos londrinos, dizendo ter certeza de que a população "vai superar isso".
Mas o estrago nos nervos dos britânicos já estava feito. Se falharam ao tentar provocar mortes e ferimentos, os autores dos ataques conseguiram assustar.
"Quando cheguei em casa, minhas mãos tremiam. Estou em pânico. É muito perto de casa", disse Lisa Chilley, 24, à agência de notícias Associated Press.
Um homem contou seu drama à rede de televisão CNN: "Eu vi pessoas correndo para salvar suas vidas, e não havia espaço para que eu passasse para outro vagão. Não tinha um modo como eu pudesse fugir. Tudo que fiz foi fazer uma oração e esperar acontecer".
Chilley mora perto de Oval, estação de metrô no sul de Londres. Já o homem não identificado que narrou seu desespero à CNN viajava em direção à estação de Warren Street, centro. Nos dois locais, ocorreram pequenas explosões.
O mesmo se passou no ônibus da linha 26, que foi atingido, enquanto circulava em Shoreditch, zona leste da capital britânica, por um estouro em seu andar de cima. Janelas foram quebradas.
Em um quarto local, na estação de Shepherd's Bush, zona oeste da cidade, um pacote suspeito foi encontrado. Tanto o ônibus como as três estações de metrô foram esvaziadas pela polícia.
Além disso, ruas foram cercadas, moradores tiveram de deixar suas casas e passar a noite em abrigos improvisados e comerciantes foram obrigados a fechar as portas. Um barulho de sirenes foi ouvido pelo restante do dia. Três linhas de metrô permaneciam fechadas até ontem à noite.
Algumas semelhanças das ações de ontem com as de 7 de julho eram desconcertantes. Há 15 dias, os atentados também ocorreram em três trens do metrô e num ônibus, quase simultaneamente. Ian Blair falou em uma certa "ressonância", mas ressaltou que ainda era cedo para chegar a qualquer conclusão.
No entanto, não está claro se os ataques de ontem foram obra de homens dispostos a se matar. Testemunhas relataram terem visto os terroristas fugirem em dois dos locais afetados. Em Oval, passageiros teriam lutado com um homem que acabou escapando. "Um homem segurava uma bolsa de viagem preta quando embarcou no trem. Ele a colocou no chão e, de repente, saiu correndo. As pessoas tentaram pará-lo, mas ele escapou. Houve, então, um barulho que soava como o estouro de uma rolha de champanhe", disse um homem que estava na estação Oval ao canal Sky News.
Em Shepherd's Bush, testemunhas também contavam que um homem havia largado uma bolsa num vagão e fugido.
No fim do dia, a polícia confirmou o que câmeras de televisão já pareciam ter flagrado mais cedo: duas pessoas foram presas em conexão com os ataques. Uma delas perto de Downing Street -ruela onde reside Blair. Outra, que foi liberada horas depois, perto da estação de Tottenham Court Road.
Ao mesmo tempo, no Paquistão, a polícia afirmou que está, a pedido dos britânicos, à caça de Haroon Rashid Aswat, ex-assistente do clérigo britânico radical Abu Hamza al Masri, que, aparentemente, havia estado em contato com os suicidas autores dos atentados de 7 de julho.
Enquanto os londrinos reclamavam da falta de mecanismos de segurança no metrô da cidade -que, por enquanto, só inclui em seu esquema normal a presença de cães farejadores-, em Nova York, foi anunciado que bagagens passarão a ser revisadas aleatoriamente no metrô.
Por sorte, resmungavam alguns britânicos, os ataques de ontem pareciam menos sofisticados. Aparentemente, apenas os detonadores das bombas estouraram. Os dispositivos encontrados eram, segundo a polícia, menores do que os de 7 de julho.
A esperança das autoridades é que os terroristas tenham falhado, o que significa que podem ter deixado pistas importantes para trás, como impressões digitais. Mas uma outra hipótese era a de que tudo tenha sido armado só mesmo para assustar.
É provável que, a exemplo do que ocorreu na sexta-feira subseqüente ao dia 7 de julho, os britânicos acordem hoje com aparente tranqüilidade. Mas já há indícios de pequenas mudanças em curso. "Isso é uma repetição das semanas passadas. Todos que conheço estão comprando bicicletas agora", dizia Allan Harp, 32, ao deixar um ônibus preso no tráfego.


Com agências internacionais

Próximo Texto: Terror em Londres: Radical prevê "sangue em ruas de Londres"
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.