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GUERRA NO ORIENTE MÉDIO
Rice descarta pedir cessar-fogo no Líbano
Secretária de Estado dos EUA viajará à região e participará de reunião em Roma sobre o conflito que já matou quase 400
Medida é a primeira do governo Bush na crise; falta de opção faz Washington
passar a defender saída
diplomática e multilateral
Mohammed Zaatari/Associated Press
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Libanesa na janela de sua casa, em Saksakiyeh (sul do país), que foi atacada durante a ofensiva |
SÉRGIO DÁVILA
DE WASHINGTON
Dez dias depois de iniciado o
conflito no sul do Líbano, os
EUA resolveram finalmente
agir na região, ainda que de maneira tímida. Em entrevista na
tarde de ontem em Washington, a secretária de Estado
americana, Condoleezza Rice,
anunciou que viajará ao Oriente Médio amanhã, onde se encontrará com o premiê de Israel, Ehud Olmert, e o presidente da Autoridade Nacional
Palestina, Mahmoud Abbas.
A viagem marca uma mudança parcial de atitude do governo
de George W. Bush, até agora
marcada pela inação. Parcial,
pois a secretária de Estado ressaltou que a viagem não resultará num pedido de cessar-fogo
a Israel, que bombardeia o Líbano desde o último dia 12 em
retaliação ao seqüestro de dois
de seus soldados pelo grupo extremista Hizbollah. O conflito
já deixou quase 400 mortos,
362 deles do lado libanês.
"Um cessar-fogo seria uma
falsa promessa, se a situação
simplesmente voltar ao que era
antes, com terroristas fazendo
ataques na hora e nos termos
que quiserem e ameaçando
inocentes, árabes e israelenses,
pela região", afirmou Rice.
Em vez disso, disse, "temos
de ser mais efetivos e ambiciosos." Rice não explicou, porém,
como a meta será atingida.
Apenas repetiu o que o presidente Bush vem dizendo nos
últimos dias: "Os EUA renovam
seu chamado pela soltura imediata dos soldados israelenses
seqüestrados. E, ainda que Israel exercite o direito a defesa,
instamos seus líderes a fazê-lo
com o maior cuidado possível,
para evitar que civis inocentes
sejam feridos e para proteger a
infra-estrutura civil".
Soberania libanesa
Rice afirmou ainda que trabalhará para que o ambiente
político permita que o Líbano
reafirme sua soberania. "A meta da viagem é trabalhar com
nossos parceiros para ajudar a
criar condições que levem a um
fim duradouro e sustentável da
violência", disse. "Eu sei que
não há respostas fáceis, assim
como não há soluções fáceis."
Rice, que saíra de um encontro com observadores da ONU
que acabaram de voltar da região e que jantara com o secretário-geral Kofi Annan na quinta, disse ainda que passará por
Roma, onde participará de uma
conferência internacional sobre o Líbano com um grupo de
países "que pode ajudar o governo libanês" -Arábia Saudita, Egito, França, Itália, Reino
Unido e Rússia, além da ONU.
A secretária colocou pela primeira vez em palavras oficiais o
que analistas vêm dizendo nos
últimos dias: a saída diplomática e multilateral defendida pelo
governo Bush tem menos a ver
com convicções próprias do
que com falta de opções. Como
teve de concordar o porta-voz
de Rice, Sean McCormack, em
entrevista anteontem, os EUA
não conversam com os governos da Síria e do Irã nem com os
grupos Hamas e Hizbollah, que
junto de Israel protagonizam a
crise. Sobra pouco o que fazer.
"A Síria sabe o que tem de fazer, e o Hizbollah é a fonte do
problema", disse Rice ontem.
"O governo do Líbano tem de
ser capaz de estender sua autoridade sobre todo seu território, e não é possível que o sul do
país seja um abrigo para grupos
armados e não autorizados se
firmarem e dispararem foguetes contra Israel."
Rice descartou enviar tropas
americanas ao conflito -em
vez disso, ressaltou que o país
trabalhará no âmbito da ONU e
com países aliados para a mobilização de forças internacionais
estabilizadoras "robustas"- e
disse negociar com Israel a
abertura de corredores humanitários aéreos e terrestres.
Indagada se ela não temia
que a demora na ação dos EUA
contaminasse a reação da população libanesa, Rice saiu pela
tangente: "O.k, eu poderia ter
entrado num avião e corrido de
um lado para o outro, mas não
teria ficado claro o motivo pelo
qual eu estaria fazendo isso".
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