|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
saiba mais
Leis respaldam críticas a reação militar de Israel
SHIN OLIVA SUZUKI
DA REPORTAGEM LOCAL
As críticas da União Européia e da ONU sobre a intensidade da resposta militar de
Israel no Líbano e na faixa de
Gaza, como também o seu
próprio direito de reagir, são
respaldados legalmente por
dois conjuntos distintos de
leis, a Convenção de Genebra
e o Estatuto da ONU, que estabelecem parâmetros para
o direito de defesa de um Estado e a proporcionalidade
de uma reação armada.
Segundo o artigo 51 do Estatuto das Nações Unidas, Israel tem um caso de legítima
defesa dentro desse contexto, pois foi alvo de dois ataques (os seqüestros de soldados de seu Exército por milícias radicais), incidentes que
detonaram o atual conflito.
Essa legislação contempla o
fato de que foram organizações, e não um Estado, que
cometeram tais atos.
Mas a Convenção de Genebra, da qual os israelenses
são signatários, também especifica que as partes em
combate têm obrigação de
diferenciar alvos civis de militares, proibindo expressamente o que representa uma
punição coletiva pela ação de
um grupo -algo que não vem
sendo respeitado.
Desde o início da investida
em território libanês, mais
de 350 pessoas morreram
em ataques de Israel -civis
formam a grande parte desse
total, e alvos não-militares
foram atingidos na ofensiva.
Aeroportos, estradas e
pontes podem ser considerados alvos militares caso haja
a certeza de que esses meios
contribuem "efetivamente"
para uma ação militar. Se há
qualquer tipo de dúvida, esses locais são considerados
civis. O protocolo adicional
de 1949 à Convenção de Genebra dispõe sobre isso.
O resultado das ações de
Israel, maior potência militar da região, foi muito criticado pela alta comissária para direitos humanos da entidade, Louise Arbour, que
classificou as baixas civis de
"inaceitáveis". Arbour levantou a possibilidade de que Israel enfrente acusações por
crimes de guerra.
Por parte do Hizbollah, o
lançamento de centenas de
foguetes Katyusha a alvos
não-militares provocou a
morte de ao menos 15 civis
em cidades israelenses.
Os soldados israelenses
mantidos como reféns também não são, legalmente,
prisioneiros de guerra. Isso
constitui um crime por parte
da organização libanesa, de
acordo com as leis internacionais humanitárias.
Para John Quigley, especialista em direito internacional e professor da Universidade de Ohio, o princípio
de evitar baixas civis claramente não está sendo respeitado. "Segundo as leis internacionais, o navio militar israelense atingido pelo Hizbollah foi um alvo legítimo. O
que já não acontece com os
ataques de foguete a Haifa e a
outras cidades de Israel",
disse Quigley à Folha.
"Do lado israelense, mesmo os avisos que o Exército
faz aos moradores do sul libanês para que deixem suas
casas porque a área será
bombardeada são claramente excessivos na perspectiva
da lei de autodefesa. Israel
certamente não pode remover uma população inteira
sob a justificativa de estar
atuando para se defender."
Proporcionalidade
O princípio da proporcionalidade é citado indiretamente na Convenção de Genebra. Especialistas legais
dizem que a resposta proporcional a um ataque é algo
subjetivo. "Mas se alguém te
dá um soco no nariz, você
não derruba a casa da pessoa", exemplifica Michael
Newton, da Faculdade de Direito da Vanderbilt University, ao site do Council on Foreign Relations, centro norte-americano de pesquisas
em relações internacionais.
Historicamente, Israel não
tem respeitado o princípio
da proporcionalidade, opina
John Quigley. Ele cita o
bombardeio em 1996 de um
prédio da ONU em Qana (sul
do Líbano), onde moradores
procuraram refúgio de uma
ofensiva parte da Operação
Vinhas da Ira. Apenas nesse
ataque, 106 civis morreram.
A meta da operação era deter
o disparo de foguetes do Hizbollah ao norte de Israel.
Para Quigley, a questão
política deve prevalecer sobre o que estabelecem os dispositivos legais. "No futuro é
improvável que a ONU tome
medidas contra Israel, porque o país tem um grande
aliado, que são os EUA."
Texto Anterior: Frase Próximo Texto: Agências pressionam por corredor humanitário, e ajuda começa a chegar Índice
|