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Médico brasileiro comanda UTI subterrânea
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA,
DE NAHARIA
O médico brasileiro Fábio
Zveibil, 64, é responsável pelo
serviço de terapia intensiva do
hospital público de Naharia, a
10 km da fronteira com o Líbano e uma das cidades israelenses mais atingidas pelos foguetes do Hizbollah. A diferença
para outros hospitais é que todos os pacientes foram transferidos para o subterrâneo, protegido contra bombas.
Quatro dos seis andares do
prédio principal foram esvaziados. Cerca de 450 pessoas foram levadas para salões sob a
terra, cercadas por paredes
com até 60 cm de concreto. As
salas de cirurgia têm vedação
total e filtros de ar para o caso
de ataques com armas químicas ou biológicas.
O complexo antibomba ficou
pronto há cerca de dois anos.
Foi construído por precaução,
já que Naharia era alvo constante de foguetes nos anos 80.
Do ponto de vista médico, explica Zveibil, a rotina é a mesma. O local tem toda a infra-estrutura necessária, incluindo
tubulações de gases medicinais. Os setores são ligados por
túneis com medida suficiente
para ambulâncias passarem.
"Temos condições de funcionar assim por tempo indeterminado", diz o brasileiro, formado pela Universidade Federal do Paraná, que mora há 30
anos em Israel. No setor dele, a
UTI, estão internados 14 adultos. Zveibil conta que há dois
problemas principais com o
hospital subterrâneo. O primeiro é a falta de privacidade
dos doentes e das famílias, pois
um salão pode ter até cem pacientes, separados por biombos
e segundo especialidades.
O segundo é o estresse dos
funcionários. "A maioria mora
nesta região, então eles chegam
ao trabalho preocupados com
os familiares que ficaram em
casa, correndo o risco de serem
atingidos pelos Katyusha", diz.
Para aliviar essa situação, foi
montada uma creche, também
subterrânea, para os filhos pequenos dos empregados, com
atividades recreativas coordenadas por soldados e monitores. O local está funcionando
24 horas. Durante a visita da
Folha, ontem, a atividade era
preparar massa de pão e assá-la
no forno de microondas.
Bombardeios
A própria casa do brasileiro
já foi atingida por estilhaços de
um Katyusha. "O foguete caiu a
poucos metros da minha casa.
Os pedaços de metal passaram
por mim como se fossem
raios", conta. O médico participa do tratamento de feridos pelos bombardeios do Hizbollah.
O hospital de Naharia recebe
cerca de mil pessoas por mês,
entre árabes e judeus da região
da Galiléia. Há atendimento
para quase todas as especialidades -as exceções são neurocirurgias e operações cardíacas.
Da janela do sexto andar, onde algumas camas ainda estão
desarrumadas, devido à pressa
em retirar os doentes dos andares acima do solo, Zveibil aponta para a montanha. "Ali já é
terra do Hizbollah." Nos anos
80, um foguete caiu em frente
ao portão do centro médico, ferindo três funcionários.
Desde o dia 12, quando começou o conflito, ao menos quatro
Katyushas caíram perto do
hospital. "Acho que eles estão
tentando nos acertar", afirma o
vice-diretor do centro médico,
Moshé Daniel. "Pelo menos os
pacientes estão protegidos."
(MG)
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