São Paulo, sábado, 22 de julho de 2006

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Médico brasileiro comanda UTI subterrânea

COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, DE NAHARIA

O médico brasileiro Fábio Zveibil, 64, é responsável pelo serviço de terapia intensiva do hospital público de Naharia, a 10 km da fronteira com o Líbano e uma das cidades israelenses mais atingidas pelos foguetes do Hizbollah. A diferença para outros hospitais é que todos os pacientes foram transferidos para o subterrâneo, protegido contra bombas.
Quatro dos seis andares do prédio principal foram esvaziados. Cerca de 450 pessoas foram levadas para salões sob a terra, cercadas por paredes com até 60 cm de concreto. As salas de cirurgia têm vedação total e filtros de ar para o caso de ataques com armas químicas ou biológicas.
O complexo antibomba ficou pronto há cerca de dois anos. Foi construído por precaução, já que Naharia era alvo constante de foguetes nos anos 80.
Do ponto de vista médico, explica Zveibil, a rotina é a mesma. O local tem toda a infra-estrutura necessária, incluindo tubulações de gases medicinais. Os setores são ligados por túneis com medida suficiente para ambulâncias passarem.
"Temos condições de funcionar assim por tempo indeterminado", diz o brasileiro, formado pela Universidade Federal do Paraná, que mora há 30 anos em Israel. No setor dele, a UTI, estão internados 14 adultos. Zveibil conta que há dois problemas principais com o hospital subterrâneo. O primeiro é a falta de privacidade dos doentes e das famílias, pois um salão pode ter até cem pacientes, separados por biombos e segundo especialidades.
O segundo é o estresse dos funcionários. "A maioria mora nesta região, então eles chegam ao trabalho preocupados com os familiares que ficaram em casa, correndo o risco de serem atingidos pelos Katyusha", diz.
Para aliviar essa situação, foi montada uma creche, também subterrânea, para os filhos pequenos dos empregados, com atividades recreativas coordenadas por soldados e monitores. O local está funcionando 24 horas. Durante a visita da Folha, ontem, a atividade era preparar massa de pão e assá-la no forno de microondas.

Bombardeios
A própria casa do brasileiro já foi atingida por estilhaços de um Katyusha. "O foguete caiu a poucos metros da minha casa. Os pedaços de metal passaram por mim como se fossem raios", conta. O médico participa do tratamento de feridos pelos bombardeios do Hizbollah.
O hospital de Naharia recebe cerca de mil pessoas por mês, entre árabes e judeus da região da Galiléia. Há atendimento para quase todas as especialidades -as exceções são neurocirurgias e operações cardíacas.
Da janela do sexto andar, onde algumas camas ainda estão desarrumadas, devido à pressa em retirar os doentes dos andares acima do solo, Zveibil aponta para a montanha. "Ali já é terra do Hizbollah." Nos anos 80, um foguete caiu em frente ao portão do centro médico, ferindo três funcionários.
Desde o dia 12, quando começou o conflito, ao menos quatro Katyushas caíram perto do hospital. "Acho que eles estão tentando nos acertar", afirma o vice-diretor do centro médico, Moshé Daniel. "Pelo menos os pacientes estão protegidos."
(MG)


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