São Paulo, terça-feira, 22 de julho de 2008

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Sérvia prende "Carniceiro de Belgrado"

Foragido há 12 anos, Radovan Karadzic é acusado de ter comandado o extermínio de milhares durante Guerra da Bósnia

Ex-presidente sérvio da Bósnia era procurado pelo Tribunal da ONU para a ex-Iugoslávia; dois principais assessores estão foragidos

DA REDAÇÃO

Autoridades de Belgrado anunciaram ontem a prisão do o ex-presidente sérvio da Bósnia Radovan Karadzic (1992-1996), conhecido como o "Carniceiro de Belgrado", um dos homens mais procurados do mundo e tido como responsável pelo massacre de milhares de civis na mais sangrenta das guerras dos Bálcãs nos anos 90.
Foragido há 12 anos, Karadzic, 63, foi preso num subúrbio de Belgrado, depois ser monitorado durante várias semanas pelos serviços secretos. Parentes acreditam que o ex-líder só foi localizado pela polícia depois de ter sido "traído" por algum assessor.
Karadzic já está sob custódia de um juiz do Tribunal de Guerra da capital sérvia, que deve extraditá-lo rapidamente para o Tribunal Penal Internacional para a ex-Iugoslávia, em Haia, Holanda.
"A captura de Radovan Karadzic demonstra que ninguém está fora do alcance da lei e que, cedo ou tarde, todos os fugitivos acabam levados à Justiça", disse Serge Brammertz, procurador-chefe da corte especializada de Haia, que não quis revelar a data da extradição do prisioneiro.
O Tribunal já indiciou 19 pessoas por massacres cometidos durante a Guerra da Bósnia (1992-1995), incluindo Karadzic, seu comandante militar, Ratko Mladic, e o ex-líder guerrilheiro sérvio-croata Goran Hadiz -ambos estão foragidos.

União Européia
A captura e entrega dos três à Justiça internacional é a principal condição imposta pela União Européia (UE) para dar seqüência ao processo de adesão da Sérvia ao bloco. A prisão de Karadzic ocorre duas semanas depois que o governo pró-UE, encabeçado pelo premiê Mirko Cvetkovic, assumiu as rédeas do país.
A Comissão Européia elogiou o "compromisso do novo governo da Sérvia na busca pela paz e estabilidade dos Bálcãs". Há suspeitas de que o governo de Belgrado anterior acobertasse os ex-líderes foragidos.
Os EUA também comemoraram a captura. "Não há melhor maneira de homenagear as vítimas das atrocidades da guerra do que levando os perpetradores à Justiça", disse um porta-voz do governo americano.
Karadzic foi indiciado duas vezes pelo tribunal de Haia para a ex-Iugoslávia. A primeira, em julho de 1995, pelo cerco de três anos à capital bósnia, Sarajevo, que deixou 12 mil mortos.
Quatro meses depois, o ex-presidente foi formalmente acusado pelo massacre de 8.000 muçulmanos -a maioria, jovens- em Srebrenica, na pior atrocidade registrada na Europa desde a Segunda Guerra Mundial (1939-1945).
No total, 15 acusações pesam contra Karadzic, entre elas as de genocídio, crimes contra a humanidade, seqüestro, deportação e atos desumanos.

Festa e repúdio
O anúncio da prisão, feito na TV durante a madrugada, levou milhares de bósnios a festejarem nas ruas de Sarajevo. Mas em Belgrado houve manifestações de repúdio à captura -muitos sérvios vêem o ultranacionalista como herói.
Instaurado em 1993, o Tribunal de Haia para a ex-Iugoslávia indiciou ao menos 160 pessoas, 56 das quais foram declaradas culpadas. Mas aquele que é tido como o mentor das atrocidades cometidas na Guerra da Bósnia, Slobodan Milosevic, ex-presidente sérvio, morreu em sua cela há dois anos, antes do fim do julgamento.
O conflito na Bósnia foi deflagrado pelos nacionalistas bósnios de etnia sérvia, que tentaram em vão evitar que a Bósnia-Herzegovina se separasse do que restava da antiga Iugoslávia, já sem a Croácia.


Com agências internacionais


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