São Paulo, terça-feira, 22 de julho de 2008

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SUCESSÃO NOS EUA/ GUERRA SEM LIMITES

Viagem de Obama causa crise entre Bagdá e Casa Branca

Premiê iraquiano apóia prazo de retirada de democrata, recua e é reafirmado por fita

Assessora de Bush diz que "negociar pela imprensa" não é meio de obter acordo e dilata prazo para tratado que permitirá permanência

Lorie Jewell/Relações Públicas das Forças Multinacionais no Iraque/Reuters
Obama sobrevoa Bagdá com o general David Petraeus, comandante dos EUA na região, em sua primeira visita ao país em dois anos

SÉRGIO DÁVILA
DE WASHINGTON

A visita de Barack Obama ontem ao Iraque, a primeira do candidato democrata à sucessão de George W. Bush como tal, colocou em crise as negociações atuais entre o governo daquele país e a Casa Branca.
Numa sucessão de afirmações e negativas, o primeiro-ministro iraquiano, Nuri al Maliki, apoiou de fato o prazo do democrata de 16 meses para retirada das tropas norte-americanas do país, o que irritou o presidente republicano, com quem o líder árabe vem negociando um acordo. É esse tratado em discussão que permitirá a estada dos militares americanos no Iraque de forma legítima uma vez expirado o mandato da ONU, no fim deste ano.
O apoio de Maliki havia sido dado primeiro em entrevista à revista alemã "Der Spiegel" divulgada no último sábado. Ante a comoção causada na Casa Branca, Maliki veio a público dizer que fora mal interpretado, por ter falado em árabe.
No domingo, o "New York Times" ouviu as fitas da revista alemã com um tradutor árabe, que confirmou a frase de apoio. Ontem, o porta-voz de Maliki voltou a confirmar o apoio por vias tortas: "Nós não podemos dar qualquer prazo ou data, mas o governo iraquiano acredita que o final de 2010 é a data apropriada para a retirada", disse Ali al Dabbagh. O Iraque exige um cronograma de retirada para firmar o acordo.
Como o próximo presidente dos EUA assume em 20 de janeiro de 2009, os 16 meses previstos por Obama caem em 20 de maio de 2010. O assunto dominou o encontro diário da porta-voz da Casa Branca com os jornalistas ontem.
"O acordo sobre o qual estamos trabalhando não é nada parecido como os 40 ou 50 planos de retirada arbitrária que nós vimos muitos membros do Congresso apoiar nos últimos anos", disse Dana Perino.
Mas, mais importante, ela alertou ser "improvável" que o prazo para apresentar os termos e condições do acordo, que acaba no próximo dia 31, seja cumprido.
A porta-voz aproveitou ainda para cutucar o líder iraquiano: "Não achamos que negociar sua posição via imprensa seja a melhor maneira de se chegar a um acordo".

Janela de oportunidade
No domingo, um assessor de Maliki afirmara à Associated Press que o premiê iraquiano quer aproveitar a campanha presidencial norte-americana para conseguir um acordo mais favorável ao seu país. "Vamos apertá-los", teria dito o premiê segundo o assessor.
O compromisso de Bush divulgado na última sexta com um "horizonte temporal genérico" para a retirada das tropas, o primeiro que faz do tipo, ainda que extremamente vago, seria já resultado do "aperto".
Ontem, Obama procurou se afastar publicamente do debate, dizendo apenas que em seu encontro com as lideranças iraquianas eles discutiram "questões gerais". Estava acompanhado do embaixador dos EUA no Iraque, Ryan Crocker, e falou brevemente com o comandante militar dos EUA na região, general David Petraeus.
Seu rival republicano, John McCain, aproveitou para criticá-lo de novo por não ter apoiado a escalada das tropas implementada por Bush: "Estou feliz que o senador Obama tenha uma chance de sentar-se pela primeira vez com o general Petraeus e entender melhor a escalada e por que funcionou".


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