São Paulo, quinta-feira, 22 de julho de 2010

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Adesão de ditadura gera críticas à CPLP

Bloco lusófono debate amanhã entrada da Guiné Equatorial, que tornou o português idioma oficial anteontem

Brasil apoia, alegando que ingresso aumentará influência sobre o país; intelectuais assinam carta aberta contrária


AMARO GRASSI
DE SÃO PAULO

A CPLP (Comunidade dos Países de Língua Portuguesa) discute amanhã a possibilidade de adesão da Guiné Equatorial, polêmica pretensão que opõe intelectuais lusófonos e governos interessados em expandir o bloco.
O país africano -de área equivalente a Alagoas e localizado na costa oeste central do continente- é observador da CPLP desde 2006 e agora pleiteia adesão plena à comunidade, criada em 1996 para aproximar os países de língua e cultura portuguesas.
O pleito, no entanto, é polêmico. A Guiné Equatorial não tem no português a sua principal língua, e somente anteontem o presidente Teodoro Obiang o oficializou como a terceira língua -as outras são espanhol e francês.
Além disso, a candidatura recebe críticas pelo fato de Obiang estar há 31 anos no cargo -chegou ao poder em um golpe em 1979. Ele é acusado de uma longa lista de desrespeitos aos direitos humanos, perseguição de opositores e fraude de eleições.
Para o Itamaraty, o ingresso da Guiné Equatorial, embora não esteja na pauta, deve ser discutido amanhã, na 8ª Conferência de Chefes de Estado da CPLP, em Luanda (Angola). O chanceler Celso Amorim representa o Brasil.
Em visita no início do mês ao país, de 560 mil habitantes, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva chancelou o ingresso na CPLP. O governo diz que a aproximação com o país é uma maneira mais eficiente de exercer influência.

CARTA ABERTA
Não é clara a posição dos outros oito países-membros da CPLP -Brasil, Portugal, cinco africanos e o Timor Leste-, embora existam acenos simpáticos à adesão do país.
A possibilidade de entrada do país mobilizou órgãos da sociedade civil dos países integrantes, e intelectuais assinaram um manifesto aberto exortando os chefes de Estado a vetarem a nova adesão. Assinam o texto de repúdio os brasileiros Chico Buarque e Frei Betto e o escritor moçambicano Mia Couto, entre outros intelectuais dos oito países-membros da CPLP. Mia Couto diz que o governo guinéu-equatoriano representa "tudo o que a África não quer ter como símbolo".
"Há uma grande hipocrisia quanto a esse regime, que era condenado por EUA e outros ditos arautos da democracia até acharem petróleo lá. A CPLP poderia se posicionar contra essa hipocrisia." O site da CPLP elenca entre seus objetivos e princípios a promoção da língua e o "primado da democracia", mas não condiciona adesão à primazia do idioma português.
Pelo menos outros cinco países manifestaram interesse em fazer parte na CPLP, segundo Cláudio Ribeiro, professor da PUC-SP (leia abaixo): Indonésia, Austrália, Luxemburgo, Ucrânia e Suazilândia. O Itamaraty fala ainda em Marrocos e Áustria.

Colaborou JOÃO FELLET, de São Paulo



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