UOL


São Paulo, sexta-feira, 22 de agosto de 2003

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

VENEZUELA

Em entrevista, o presidente diz duvidar da capacidade da oposição de realizar o referendo sobre seu mandato

"Não serei complacente de novo", afirma Chávez

DE BUENOS AIRES

No dia em que a oposição ao seu governo protestava nas ruas de Caracas e encaminhava ao CNE (Conselho Nacional Eleitoral) um abaixo-assinado com mais de 3 milhões de assinaturas pedindo a realização de um referendo para revogar o seu mandato, o presidente venezuelano, Hugo Chávez, encerrava uma visita de quatro dias a Argentina.
Chávez parecia ignorar a crise. Enquanto esteve em Buenos Aires, se comportou como um candidato em campanha. Teve encontros com instituições de defesa dos direitos humanos, almoçou em um programa popular de TV e discursou para estudantes.
O encontro com o presidente Néstor Kirchner foi na terça-feira. Fecharam acordos comerciais, discutiram os prejuízos que a Alca (Área de Livre Comércio das Américas) poderia representar para a região e criticaram organismos multilaterais como o FMI (Fundo Monetário Internacional).
Antes de voltar a Caracas, na noite da última quarta-feira, o presidente venezuelano concedeu entrevista a um pequeno grupo de jornalistas, entre eles a da Folha.
"Não serei complacente novamente", disse ele, a respeito do golpe que sofreu em 2002 e do novo movimento da oposição venezuelana.
Ele adiantou alguns temas que pretende tratar durante a reunião que terá com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva na próxima segunda-feira, dia 28, em Caracas. Veja algumas declarações.
 

REFERENDO - "Creio que eles [a oposição] não conseguiram sequer coletar as assinaturas no formato adequado, como pede a Constituição. Há elementos que comprovam fraude, que as assinaturas são ilegais. Se querem o referendo, terão de fazê-lo como manda a lei, a Constituição. As chances de esse referendo realmente acontecer são muito pequenas."

OPOSIÇÃO - "Eu aprendi a lição. Não deixaria que o que passou em 2002 [quando foi deposto por um golpe de Estado que durou 48 horas] se repita. Aquele golpe ocorreu porque eu permiti. Não serei complacente novamente. Espero que um dia a oposição da Venezuela assuma o seu verdadeiro papel, de fazer oposição para a construção de um país melhor, não apenas para defender interesses privados."

LULA - "Temos algumas prioridades para tratar com o Brasil, entre elas a assinatura de acordos para integração econômica, além de aprofundar um programa de importação de maquinário agrícola. A criação de uma petroleira sul-americana continua sendo uma proposta nossa. Seguiremos falando da necessidade de integrarmos as nossas riquezas e da troca de tecnologia para exploração de petróleo e gás."

ALCA - "Temos uma grande preocupação com os efeitos negativos da Alca e da globalização nas economias da região. A Alca, como está apresentada, é um plano de invasão. Queremos virar colônia de novo? Nossa proposta é agilizar a integração latino-americana, com uma agenda econômica e social que respeite a soberania dos países e que deixe de fora a influência dos organismos financeiros internacionais. A Venezuela, para entrar na Alca, teria de consultar a sua população. Para isso, faríamos um referendo."

ALCA LIGHT - "Lula chegou a comentar sobre uma Alca light. Essa proposta a faria virar uma "alquinha". Aos poucos, vão cortando os braços, as pernas, a cabeça [do projeto da Alca], até virar "alquinha". A proposta que se tem hoje é impossível de se concretizar. O prazo também. Quando houve o compromisso de concluir a Alca até 2005, eu não assinei. Esse acordo, a meu ver, poderia ser possível em 3500. Ou seja, não se pode colocar um prazo sem discutir o projeto. Essa data foi determinada de forma arbitrária."

MERCOSUL - "A Venezuela insiste na sua intenção de ingressar no Mercosul. Claro que queremos que funcione uma fórmula bloco a bloco [Mercosul e Comunidade Andina, da qual a Venezuela faz parte], mas essas negociações já levam muitos anos e até agora não se conseguiu fazer essa integração. E não temos mais esperança de que se conclua. Creio que seja grande a dificuldade para unir os dois blocos, quase impossível. Determinamos um prazo, dezembro de 2003, para que essas negociações terminem. Caso contrário insistiremos para que a Venezuela entre no Mercosul."

DÍVIDA - "O caso da dívida da Venezuela não é o mais grave entre os países da América Latina. A nossa dívida externa é de apenas 20% do PIB (soma das riquezas de um país). Mas há casos em que a dívida é impagável." (EC)


Texto Anterior: Ex-embaixador do Irã é preso pelo caso Amia
Próximo Texto: Governistas anunciam ato para amanhã
Índice


UOL
Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.