São Paulo, domingo, 22 de agosto de 2004

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Dalai-lama só retorna como cidadão chinês

DA ENVIADA ESPECIAL AO TIBETE

O governo do Tibete reconhece a existência de presos políticos na região, ainda que em número menor que os cerca de cem apontados por entidades de defesa de direitos humanos.
"Em todos os países existem presos políticos. Se no Brasil alguma pessoa divulgar posições separatistas, acho que o governo também tomará providências contra ela", afirmou o vice-governador do Tibete, Jia Re, em entrevista a um grupo de jornalistas brasileiros.
Jia sustenta que existe liberdade religiosa no Tibete e que o dalai-lama não fez nada pela região desde que foi para o exílio, em 1959. Segundo ele, para voltar à sua terra natal, o dalai-lama terá de abandonar posições separatistas, reconhecer que o Tibete e Taiwan fazem parte da República Popular da China e declarar-se um cidadão chinês.
John Ackerly, presidente da Campanha Internacional pelo Tibete, afirma que as prisões políticas são motivadas por manifestações públicas de apoio ao dalai-lama e à independência do Tibete ou por realização de atos como a restauração de mosteiros sem a autorização do governo.

Século 15
O Tibete tem dois grandes líderes espirituais: o dalai-lama, que ficava em Lhasa, capital da região, e o panchen-lama, cuja base é a cidade de Xigaze, mais a oeste. Ambos são considerados reencarnações de diferentes manifestações de Buda.
Até 1959, não havia separação entre igreja e Estado no Tibete, e o dalai-lama era o principal líder religioso e político. Depois de seu exílio, o panchen-lama passou a ser o maior líder religioso dentro do Tibete, e o poder político saiu das mãos da igreja e passou a ser controlado por Pequim.
O atual dalai-lama é tido como a 14ª reencarnação do Buda da Compaixão, em uma linha sucessória que começou no século 15, com o primeiro dalai-lama.
Já a tradição dos panchen-lama, reencarnação do Buda da Luz Infinita, iniciou-se um século depois, e o último ocupante inconteste do posto foi o 10º panchen-lama, que morreu em 1989.
Do exílio, o dalai-lama indicou a criança que seria o 11º panchen-lama, mas a decisão não foi aceita por Pequim, que escolheu outro candidato, Gyancain Norbu, hoje com 14 anos.
Defensores da independência do Tibete afirmam que Gedhun Choekyi Nyima, apontado pelo dalai-lama, foi seqüestrado junto com sua família pelo governo chinês. As autoridades de Pequim sustentam que o adolescente está em um local "seguro", recebendo educação budista. (CT)


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