São Paulo, sexta-feira, 22 de agosto de 2008

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Paraense recém-casado está entre mortos no desastre

Ronaldo Gomes Silva, 27, embarcara para visitar sogro apesar de presságio da mulher, espanhola; casal acabara de voltar do Brasil

JOÃO CARLOS MAGALHÃES
DA AGÊNCIA FOLHA, EM BELÉM

MATHEUS PICHONELLI
DA AGÊNCIA FOLHA

Único brasileiro entre as vítimas do acidente aéreo em Madri, o paraense Ronaldo Gomes Silva, 27, acabava de chegar à Espanha após dois meses no Brasil. Estava em lua-de-mel com a mulher, a espanhola Yanina Celis Dibowsky, 21, e fez conexão na capital espanhola rumo às ilhas Canárias.
Nascido em Rondon do Pará (PA) e criado em Ourilândia do Norte (PA), onde sua família tem gado, Silva seguiu, em 2004, o exemplo de um irmão mais velho. Mesmo sem falar inglês, foi para Londres com planos de "ganhar muito dinheiro e se casar com uma loira", segundo um amigo de Ourilândia que se identificou como Alcides.
Mesmo ilegal, conseguiu economizar. Há dois anos, conheceu a loira espanhola Yanina.
Nina, como era chamada por amigos, vendia sorvete e Silva entregava comida como motoboy. Casaram-se em 3 de julho, em um cartório em São Paulo. Ele providenciaria a cidadania européia e visitaria a família da jovem antes de voltar a Londres, onde Nina começaria a cursar nutrição. O pai da noiva é médico nas Canárias.
Em São Paulo, o casal ficou hospedado em um apartamento da família de um amigo, o advogado Yuri Ludwig Zuconelli, 28, com quem Silva morou em Londres. "Eles estavam vivendo um sonho", disse Zuconelli.
Durante a viagem, Silva visitou parentes e entrou pela primeira vez no mar. No último final de semana, a irmã do advogado, a psicóloga Renata Zuconelli, 29, levou o casal para a praia em Mongaguá (SP), onde Nina viu, também pela primeira vez, uma cachoeira.
Segundo Renata, Nina tinha medo de avião e só aceitou viajar para Goiás, para visitar familiares de Silva, de ônibus. "Ela queria voltar de navio para a Europa, mas faltou dinheiro."
Dias antes da tragédia, disse Renata, houve uma "seqüência de coisas que indicaram que não deveriam viajar". "O portão não abria, o carro pifou, eles confundiram o horário do vôo e quase perderam o avião. Quando chegamos, ela chorou muito. Disse que ia sentir nossa falta."
Embarcaram para a Espanha na terça, mesmo após Nina dizer a uma sobrinha de Silva, pela internet, que não queria viajar por ter um mau presságio.
O consulado brasileiro em Madri informou ontem que a família de Silva ainda não entrara em contato. Se quiser enterrá-lo na Espanha, o consulado registra o óbito, até para fins legais. Se quiser trasladar o corpo ao Brasil, o consulado indica uma funerária para o trâmite.


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