São Paulo, sábado, 22 de agosto de 2009

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Recepção líbia a terrorista cria saia justa para Reino Unido

Trípoli diz que libertação ocorreu em meio a negociações comerciais com britânicos

Com câncer terminal, condenado por ataque de Lockerbie, que matou 270, foi solto pela Escócia, que alegou razões humanitárias


DA REDAÇÃO

EUA e Reino Unido lideraram ontem reações de repúdio à recepção de herói que o líbio Abdel Basset Ali al Megrahi, único condenado pelo atentado terrorista de Lockerbie em 1988, recebeu em Trípoli na noite de quinta, aonde chegou após ser libertado pela Justiça escocesa.
Mas a rejeição não evitou uma saia justa para o Reino Unido, que foi acusado de articular a soltura de Megrahi para facilitar acordos financeiros com o país africano. Ontem, Seif al Islam, filho do ditador líbio Muammar Gaddafi, confirmou que negociou a soltura do terrorista em meio a discussões comerciais -Londres nega.
Megrahi foi esperado por centenas de simpatizantes com bandeiras líbias em Trípoli. Ele saiu do avião ao lado de al Islam, que ergueu sua mão. Al Islam disse que a libertação foi uma "vitória para os líbios".
O presidente Barack Obama classificou a recepção festiva como "altamente reprovável". "A cena foi ultrajante e repugnante", disse o porta-voz da Casa Branca, Robert Gibbs.
O premiê britânico, Gordon Brown, afirmou em nota que foi contrário à libertação (o Judiciário escocês é independente) e que enviou carta a Gaddafi pedindo "sensibilidade" no retorno, o que foi ignorado.
David Miliband, chanceler britânico, reforçou a posição e disse que "a visão de um assassino em massa recebendo recepção de herói em Trípoli foi profundamente perturbadora, [não só] para as 270 famílias [das vítimas], mas também para qualquer pessoa que tenha um pouco de humanidade".
Miliband disse também que o episódio "será muito significativo na forma como o mundo vê a volta da Líbia à comunidade de nações civilizadas".
Até ser libertado por razões humanitárias anteontem, Megrahi, que tem câncer da próstata e cerca de três meses de vida, havia cumprido oito anos de uma pena de prisão perpétua. Ele foi condenado em 2001 pela morte de 270 pessoas na explosão de um voo da Pan Am sobre a cidade escocesa de Lockerbie, em dezembro de 1988. O voo ia de Londres a Nova York, e 189 vítimas eram americanas.

Refém político
Na Líbia, o retorno de Megrahi foi visto como a volta de um "refém político". Há relatos de que o condenado, que se diz inocente, se reunirá em breve com Gaddafi, que prepara comemorações dos 40 anos do golpe que o levou ao poder. Críticos temem que a libertação seja usada como símbolo de triunfo diplomático.
Por anos, a Líbia se recusou a entregar Megrahi a tribunais ocidentais, o que, ao lado de um antigo programa nuclear, rendeu a Trípoli sanções da ONU e isolamento internacional.
Megrahi, que é ex-agente dos serviços de inteligência do país, acabou enviado para julgamento na Holanda em 1999. Depois do 11 de Setembro, a Líbia empreendeu uma reaproximação com o Ocidente e desmantelou seu programa nuclear.
Do lado ocidental, a reaproximação era interessante comercialmente, já que a Líbia possui as maiores reservas de petróleo da África e costuma levar a política em consideração em seus acordos financeiros.
É com isso que contam diversas empresas britânicas, para as quais a soltura de Megrahi poderá ser benéfica. A gigante petrolífera BP deverá ser a primeira a lucrar, segundo analistas, e já há companhias de gás e até vestuário fazendo fila para atuar na Líbia.

Com agências internacionais



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