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Recepção líbia a terrorista cria saia justa para Reino Unido
Trípoli diz que libertação ocorreu em meio a negociações comerciais com britânicos
Com câncer terminal, condenado por ataque de Lockerbie, que matou 270, foi solto pela Escócia, que alegou razões humanitárias
DA REDAÇÃO
EUA e Reino Unido lideraram ontem reações de repúdio
à recepção de herói que o líbio
Abdel Basset Ali al Megrahi,
único condenado pelo atentado
terrorista de Lockerbie em
1988, recebeu em Trípoli na
noite de quinta, aonde chegou
após ser libertado pela Justiça
escocesa.
Mas a rejeição não evitou
uma saia justa para o Reino
Unido, que foi acusado de articular a soltura de Megrahi para
facilitar acordos financeiros
com o país africano. Ontem,
Seif al Islam, filho do ditador líbio Muammar Gaddafi, confirmou que negociou a soltura do
terrorista em meio a discussões
comerciais -Londres nega.
Megrahi foi esperado por
centenas de simpatizantes com
bandeiras líbias em Trípoli. Ele
saiu do avião ao lado de al Islam, que ergueu sua mão. Al Islam disse que a libertação foi
uma "vitória para os líbios".
O presidente Barack Obama
classificou a recepção festiva
como "altamente reprovável".
"A cena foi ultrajante e repugnante", disse o porta-voz da Casa Branca, Robert Gibbs.
O premiê britânico, Gordon
Brown, afirmou em nota que
foi contrário à libertação (o Judiciário escocês é independente) e que enviou carta a Gaddafi
pedindo "sensibilidade" no retorno, o que foi ignorado.
David Miliband, chanceler
britânico, reforçou a posição e
disse que "a visão de um assassino em massa recebendo recepção de herói em Trípoli foi
profundamente perturbadora,
[não só] para as 270 famílias
[das vítimas], mas também para qualquer pessoa que tenha
um pouco de humanidade".
Miliband disse também que o
episódio "será muito significativo na forma como o mundo vê
a volta da Líbia à comunidade
de nações civilizadas".
Até ser libertado por razões
humanitárias anteontem, Megrahi, que tem câncer da próstata e cerca de três meses de vida, havia cumprido oito anos de
uma pena de prisão perpétua.
Ele foi condenado em 2001 pela
morte de 270 pessoas na explosão de um voo da Pan Am sobre
a cidade escocesa de Lockerbie,
em dezembro de 1988. O voo ia
de Londres a Nova York, e 189
vítimas eram americanas.
Refém político
Na Líbia, o retorno de Megrahi foi visto como a volta de um
"refém político". Há relatos de
que o condenado, que se diz
inocente, se reunirá em breve
com Gaddafi, que prepara comemorações dos 40 anos do
golpe que o levou ao poder. Críticos temem que a libertação
seja usada como símbolo de
triunfo diplomático.
Por anos, a Líbia se recusou a
entregar Megrahi a tribunais
ocidentais, o que, ao lado de um
antigo programa nuclear, rendeu a Trípoli sanções da ONU e
isolamento internacional.
Megrahi, que é ex-agente dos
serviços de inteligência do país,
acabou enviado para julgamento na Holanda em 1999. Depois
do 11 de Setembro, a Líbia empreendeu uma reaproximação
com o Ocidente e desmantelou
seu programa nuclear.
Do lado ocidental, a reaproximação era interessante comercialmente, já que a Líbia possui
as maiores reservas de petróleo
da África e costuma levar a política em consideração em seus
acordos financeiros.
É com isso que contam diversas empresas britânicas, para
as quais a soltura de Megrahi
poderá ser benéfica. A gigante
petrolífera BP deverá ser a primeira a lucrar, segundo analistas, e já há companhias de gás e
até vestuário fazendo fila para
atuar na Líbia.
Com agências internacionais
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