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Ataques suicidas refletem nova tática rebelde no Cáucaso
Recrudescimento da violência de separatistas islâmicos é evidenciado por atentados de homens-bomba na região
Nova geração de líderes insurgentes é descrita como mais radical que a anterior, exterminada pela ofensiva do Kremlin nesta década
LUCIANA COELHO
DE GENEBRA
Ataques suicidas ontem na
república russa da Tchetchênia, que se seguem a atentado
semelhante na vizinha Inguchétia no início desta semana,
ressaltaram o recrudescimento
da violência de separatistas islâmicos no norte do Cáucaso.
Revelam, ainda, uma mudança de tática em um conflito que
desde 1994 já deixou cerca de
100 mil mortos, estima-se.
Ontem, pelo menos quatro
policiais foram mortos na capital tchetchena, Grozni, em dois
ataques coordenados a postos
policiais que usaram homens-bomba em bicicletas. Outras
cinco explosões deixaram feridos, e temia-se que o número
de mortos subisse.
Especialistas consultados
pela Folha alertam para uma
mudança de tática. Atentados
suicidas, celebrizados sobretudo pela Al Qaeda de Osama bin
Laden, costumam ser mais efetivos e midiáticos. Na segunda,
um homem-bomba na Inguchétia, outra das frágeis repúblicas no sul da Rússia, matou
20 pessoas e feriu 138.
Ataques a policiais e soldados na instável região têm sido
rotineiros nos últimos meses e
saíram do foco da mídia.
Mas as diminutas repúblicas
majoritariamente islâmicas governadas por presidentes colocados por Moscou voltaram às
manchetes com a sequência de
assassinatos da ativista de direitos humanos Natalia Estemirova, em julho, e de Zarema
Sadulaieva, diretora de uma
ONG que trabalhava com
crianças, morta com o marido
no último dia 10.
A nova geração de líderes rebeldes no norte do Cáucaso é
descrita como mais radical e
bem financiada do que seus
predecessores, exterminados
na ofensiva promovida pelo
Kremlin ao longo da década.
Os separatistas mostram
agora que, desde 2007, se reagruparam e coletaram adeptos
após uma série de reveses impostos por Moscou. E a presente demonstração de força acarreta problemas políticos para o
presidente russo, Dmitri Medvedev, que encerrou oficialmente a campanha militar na
região em abril último.
Os rebeldes que deixaram a
Tchetchênia sob a ofensiva do
governo local -desde 2004 nas
mãos do controverso ex-rebelde convertido pelo Kremlin
Ramzan Kadirov- estão hoje
espalhados pelos vizinhos mais
frágeis, Inguchétia e Daguestão. O ministro do Interior inguchétio foi tirado do posto pelo Kremlin após o ataque nesta
semana. O do Daguestão foi
morto em junho por rebeldes.
A chance de uma saída negociada é considerada exígua, já
que Moscou cortou o canal para diálogo quando os rebeldes
se mostravam dispostos a mantê-lo. Desde então houve uma
radicalização.
Já a ameaça colocada ontem
em um site ligado aos insurgentes de uma "guerra econômica" contra a Rússia, que alvejaria instalações estrategicamente importantes para os cofres do país, foi desdenhada pelo Kremlin e pelos mercados
em Moscou. As áreas de atuação dos rebeldes são marginais
para a economia russa. Para
provocar impacto, os rebeldes
precisariam ampliar sua rede
de atuação, algo nada simples.
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