São Paulo, sábado, 22 de agosto de 2009

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Ataques suicidas refletem nova tática rebelde no Cáucaso

Recrudescimento da violência de separatistas islâmicos é evidenciado por atentados de homens-bomba na região

Nova geração de líderes insurgentes é descrita como mais radical que a anterior, exterminada pela ofensiva do Kremlin nesta década


LUCIANA COELHO
DE GENEBRA

Ataques suicidas ontem na república russa da Tchetchênia, que se seguem a atentado semelhante na vizinha Inguchétia no início desta semana, ressaltaram o recrudescimento da violência de separatistas islâmicos no norte do Cáucaso.
Revelam, ainda, uma mudança de tática em um conflito que desde 1994 já deixou cerca de 100 mil mortos, estima-se.
Ontem, pelo menos quatro policiais foram mortos na capital tchetchena, Grozni, em dois ataques coordenados a postos policiais que usaram homens-bomba em bicicletas. Outras cinco explosões deixaram feridos, e temia-se que o número de mortos subisse.
Especialistas consultados pela Folha alertam para uma mudança de tática. Atentados suicidas, celebrizados sobretudo pela Al Qaeda de Osama bin Laden, costumam ser mais efetivos e midiáticos. Na segunda, um homem-bomba na Inguchétia, outra das frágeis repúblicas no sul da Rússia, matou 20 pessoas e feriu 138.
Ataques a policiais e soldados na instável região têm sido rotineiros nos últimos meses e saíram do foco da mídia.
Mas as diminutas repúblicas majoritariamente islâmicas governadas por presidentes colocados por Moscou voltaram às manchetes com a sequência de assassinatos da ativista de direitos humanos Natalia Estemirova, em julho, e de Zarema Sadulaieva, diretora de uma ONG que trabalhava com crianças, morta com o marido no último dia 10.
A nova geração de líderes rebeldes no norte do Cáucaso é descrita como mais radical e bem financiada do que seus predecessores, exterminados na ofensiva promovida pelo Kremlin ao longo da década.
Os separatistas mostram agora que, desde 2007, se reagruparam e coletaram adeptos após uma série de reveses impostos por Moscou. E a presente demonstração de força acarreta problemas políticos para o presidente russo, Dmitri Medvedev, que encerrou oficialmente a campanha militar na região em abril último.
Os rebeldes que deixaram a Tchetchênia sob a ofensiva do governo local -desde 2004 nas mãos do controverso ex-rebelde convertido pelo Kremlin Ramzan Kadirov- estão hoje espalhados pelos vizinhos mais frágeis, Inguchétia e Daguestão. O ministro do Interior inguchétio foi tirado do posto pelo Kremlin após o ataque nesta semana. O do Daguestão foi morto em junho por rebeldes.
A chance de uma saída negociada é considerada exígua, já que Moscou cortou o canal para diálogo quando os rebeldes se mostravam dispostos a mantê-lo. Desde então houve uma radicalização.
Já a ameaça colocada ontem em um site ligado aos insurgentes de uma "guerra econômica" contra a Rússia, que alvejaria instalações estrategicamente importantes para os cofres do país, foi desdenhada pelo Kremlin e pelos mercados em Moscou. As áreas de atuação dos rebeldes são marginais para a economia russa. Para provocar impacto, os rebeldes precisariam ampliar sua rede de atuação, algo nada simples.


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