São Paulo, domingo, 22 de agosto de 2010

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Revés eleitoral assombra democratas

Situação teme assistir à recuperação do Partido Republicano nas eleições legislativas de novembro que vem

Economia explica, em parte, a provável perda de cadeiras da legenda de Obama; Congresso deve tender à direita

Joe Rardle-9.ago.2010/Getty Images/France Presse
Cartazes eleitorais em comício democrata em Miami (Flórida); pesquisas apontam dianteira republicana para a votação legislativa de novembro

ANDREA MURTA
DE WASHINGTON

Faltam cerca de 70 dias para as eleições do Senado e da Câmara dos Representantes (deputados) dos EUA, e o cenário político está cada vez mais propenso a oferecer um retorno de republicanos ao poder que seria inimaginável há apenas dois anos.
Todas as pesquisas indicam alta probabilidade de a oposição recuperar o controle da Câmara, e, apesar de menor, não é de todo desprezível a chance de conquistarem também o Senado.
Os republicanos estão hoje seis pontos percentuais à frente dos democratas nos levantamentos para voto genérico do Congresso (46,7% a 40,7%, segundo a média do site Real Clear Politics).
Ainda em abril, quando a diferença era menor (2,8 pontos a mais para os republicanos), o analista conservador Michael Barone, autor do bianual "Almanaque da Política Americana", já afirmava que o ambiente das pesquisas "era o pior para democratas" nas cinco décadas em que ele acompanha o tema.
Em 1994, ano que ficou conhecido como o da "Revolução Republicana" por o partido ter conquistado controle do Congresso pela primeira vez em quatro décadas, eles ficaram à frente no voto nacional por cinco pontos.
Em 2006 e 2008, democratas ficaram à frente por 8 e 11 pontos, respectivamente, e voltaram ao poder. Neste último, chegaram a conquistar temporariamente uma supermaioria, e ao lado da vitória do presidente democrata Barack Obama os resultados levaram analistas a decretar a "morte" dos republicanos por pelo menos uma década.
Mas a situação mudou. Estarão em jogo em 2 de novembro todos os 435 assentos da Câmara e 37 dos 100 do Senado (que se renova em um terço a cada dois anos). Destes, ao menos cerca de 100 vagas da Câmara e 18 do Senado estão em disputas consideradas mais competitivas.
É certo que os democratas perderão vagas, só não se sabe quantas. Estimativas dão conta de que o golpe será de entre 30 e 40 cadeiras.

BOLSO VAZIO
Longe de ser um apoio aos republicanos, o cenário é uma reação contra o partido no poder, principalmente por causa da economia.
O país ainda está se recuperando muito lentamente da crise; há cerca de 14,6 milhões de desempregados; a reação natural é culpar os democratas.
"Novembro será menos uma vitória para os republicanos e mais uma derrota para o governo Obama e o Partido Democrata", afirmou à Folha o analista conservador Brian Darling, do think tank American Enterprise Institute.
"Primeiro, o presidente prometeu demais a respeito da recuperação, e depois não pôde cumprir. Segundo, muitos ou estão desempregados ou conhecem gente nessa situação. Justo ou não, o partido do presidente sempre paga o pato quando a economia vai mal."
Clyde Wilcox, professor do departamento de governo da Universidade Georgetown, concorda. "O número de pessoas que dizem ser definitivamente republicanas não cresceu. Mas, em época de economia ruim, o partido da situação perde mesmo muitos assentos."
A situação se reflete também na aprovação a Obama, que já está ruim -em 45%, para o Real Clear Politics.
Os dois analistas concordam que inevitavelmente o Congresso se moverá mais para a direita do espectro político após novembro.
Não só pré-candidatos mais conservadores vêm vencendo primárias republicanas nos Estados como os próprios democratas estão fazendo campanhas mais centristas na tentativa de deter a hemorragia de eleitores.
Na sexta, o vice-presidente Joe Biden tentou reagir. "Os relatos sobre a morte do Partido Democrata foram muito exagerados", disse. "Em 3 de novembro, haverá uma maioria democrata na Câmara e uma maioria democrata no Senado. Se não fosse ilegal, apostaria nisso."


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