São Paulo, domingo, 22 de setembro de 2002

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ELEIÇÃO

Com o empate das grandes legendas, Partido Democrata Liberal e Partido do Socialismo Democrático devem ser fiel da balança

Extremos devem definir coalizão alemã

Fritz Reiss - 22.ago.2002
Casal dança em ato da campanha do PDS (socialista) em Berlim


DO ENVIADO ESPECIAL A BERLIM

Os dois extremos (democráticos) do espectro político alemão, o Partido Democrata Liberal (FDP) e o Partido do Socialismo Democrático (PDS), deverão, ativa ou passivamente, definir a composição da coalizão que governará a Alemanha nos próximos quatro anos. Com as duas grandes forças políticas do país, o Partido Social-Democrata (SPD), do premiê Gerhard Schröder, e a aliança conservadora formada pela União Democrata Cristã (CDU) e pela União Social Cristã (CSU), empatadas tecnicamente, o desempenho desses partidos no pleito de hoje será decisivo.
Para o FDP, cuja plataforma contém essencialmente idéias neoliberais de flexibilização do mercado de trabalho e de redução do peso do Estado na economia, a grande disputa é com os Verdes, pois aquele que conquistar maior número de cadeiras tenderá a ser o parceiro do grande partido que vencer a eleição -embora, no que se refere ao conteúdo, as coalizões naturais devessem ser SPD-Verdes e CDU/CSU-FDP.
Os liberais, cujo partido fez parte mais vezes do governo (14) desde a promulgação da Lei Fundamental alemã, em 1949, são pragmáticos e não escondem o desejo de retornar ao poder. "Não podemos descartar nenhuma possibilidade de coalizão com qualquer formação democrática", afirmou à Folha Werner Hoyer, um dos vice-presidentes do partido.
"Para o FDP, o que interessa é fazer parte da administração federal. Isso mesmo que seja para compor uma aliança com o SPD, situação na qual os liberais teriam pouca margem de ação", avaliou Gerhard Göhler, professor na Universidade Livre de Berlim.
Porém sua estratégia é ameaçada por disputas internas reacendidas durante a semana, quando Jürgen Möllemann, outro vice-presidente do partido, buscando atrair o voto de eleitores extremistas, atacou o premiê de Israel, Ariel Sharon, e líderes da comunidade judaica alemã. Sua atitude foi prontamente rechaçada por Guido Westerwelle, candidato do FDP à Chancelaria, mas a reação dos eleitores só será conhecida após o escrutínio dos votos.
Já o PDS luta para se manter no Bundestag (Câmara Baixa), visto que pesquisas mostram que ele não tem assegurada a passagem pela barra dos 5% dos votos nem a obtenção de três mandatos diretos, pré-requisitos para figurar no Parlamento. Sua exclusão daria a vitória ao grande partido que conquistasse mais votos. Caso contrário (e se os Verdes não obtiverem uma clara vantagem sobre os liberais), poderia haver uma crise de governabilidade no país, pois Schröder já declarou que não convidará o PDS a fazer parte do governo -algo também descartado pelos conservadores.
Todavia Schröder jamais disse que não aceitaria eventuais votos dos socialistas (o chanceler é eleito pelos deputados por voto secreto) para se manter no poder.
Para analistas, a partir de 2006 ou de 2010, o PDS poderia se tornar o fiel da balança nas eleições federais alemãs. Com muita força no leste, ele pode ser crucial para as formações de centro-esquerda. (MÁRCIO SENNE DE MORAES)


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