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Ataques matam 5.000 em 60 dias
Número é muito maior que cifra oficial e representa só Bagdá, onde há "morte indiscriminada de civis", diz ONU
Tortura está "totalmente fora do controle", diz texto, citando esquadrões da morte; EUA admitem que situação vem se agravando
DA REDAÇÃO
Relatório da ONU divulgado
anteontem afirma que 5.106
pessoas morreram de forma
violenta em Bagdá nos meses
de julho e agosto -muito mais
do que apontam documentos
feitos com base nos dados do
necrotério da cidade- e que a
prática de tortura no Iraque está "totalmente fora de controle", com abusos cometidos por
tropas e milícias e "morte indiscriminada de civis". Autoridades americanas reconheceram que a situação se agravou.
Houve 3.590 mortes violentas no país em julho, o maior
número registrado desde a invasão do Iraque pelos EUA, em
2003. Somadas às de agosto, foram 6.599 -700 a mais que no
bimestre anterior, que já mostrava piora da violência.
Em Bagdá, o necrotério registrou 3.391 mortes no último
bimestre -aos quais a ONU
acrescentou o número de corpos recebidos em hospitais.
Mas as cifras podem ser ainda
maiores, dada a dificuldade de
obter dados acurados.
Segundo a ONU, a tortura
"continua um problema generalizado nos centros de detenção". A impunidade seria uma
causa. "Há a percepção crescente de impunidade, que põe
em risco a manutenção da lei."
O relatório -apresentado
pelo investigador-chefe da
ONU sobre tortura, Manfred
Nowak, em Genebra- diz que
foram encontrados detentos
espancados com "fios elétricos,
com ossos quebrados e queimaduras de cigarro". Corpos no
necrotério "freqüentemente
têm sinais de tortura severa, incluindo ferimentos por ácido".
Para Nowak, a tortura pode
estar pior depois de Saddam
Hussein. "As pessoas [que fugiram] contam que a situação está totalmente fora de controle.
Muitos dizem que está pior do
que no tempo de Saddam." Segundo ele, as milícias e os esquadrões são os mais cruéis.
Em 2004, a revelação de torturas na prisão de Abu Ghraib
causou um escândalo e grande
desgaste para o presidente dos
EUA, George W. Bush. Hoje, há
centros de detenção sob responsabilidade americana e outros sob comando iraquiano.
Ainda ontem, a ONU voltou a
pedir aos EUA o fechamento da
prisão de Guantánamo, em Cuba, e criticou lei para interrogatórios que está em tramitação.
Autoridades dos EUA
O relatório da ONU sobre o
Iraque foi divulgado em meio
ao reconhecimento, por parte
de autoridades dos EUA, da deterioração da situação. Na última semana, foram achados 200
corpos com sinais de execução,
e ontem surgiram mais 38.
"Houve crescimento desse tipo
de assassinato", disse o general
William Caldwell, porta-voz do
Exército no Iraque.
O chefe dos militares no país,
general George Casey, afirmou
que o conflito está mudando de
uma resistência à ocupação para uma luta por poder. "Estamos começando a ver o conflito
passar de uma insurgência contra as tropas para uma luta por
divisão do poder", disse. "Acredito que a situação da segurança seja mais complexa e difícil
hoje do que em dezembro"
-alusão ao mês das eleições.
O Ministério da Defesa iraquiano divulgou ontem uma
nova modalidade de atentado: a
de homens-bomba involuntários. Após capturar o dono de
um veículo, militantes põem
bombas no carro e o deixam ir,
causando uma explosão por
controle remoto pouco depois.
A violência entre sunitas e
xiitas explodiu em fevereiro,
após a destruição de um santuário xiita. No campo político,
as facções também estão em
disputa. Parlamentares xiitas
querem aprovar uma lei para
criar regiões autônomas no
país; os sunitas não aceitam.
Retirada
A Itália, último grande aliado
europeu de EUA e Reino Unido
com tropas no Iraque, encerrou
sua retirada e passou a responsabilidade pela Província de
Dhi Qar aos iraquianos -a Província é a segunda devolvida ao
controle de Bagdá. Há 1.600
italianos no país, e sua saída foi
uma promessa de campanha do
premiê Romano Prodi.
Com agências internacionais
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