São Paulo, sexta-feira, 22 de setembro de 2006

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Ataques matam 5.000 em 60 dias

Número é muito maior que cifra oficial e representa só Bagdá, onde há "morte indiscriminada de civis", diz ONU

Tortura está "totalmente fora do controle", diz texto, citando esquadrões da morte; EUA admitem que situação vem se agravando

DA REDAÇÃO

Relatório da ONU divulgado anteontem afirma que 5.106 pessoas morreram de forma violenta em Bagdá nos meses de julho e agosto -muito mais do que apontam documentos feitos com base nos dados do necrotério da cidade- e que a prática de tortura no Iraque está "totalmente fora de controle", com abusos cometidos por tropas e milícias e "morte indiscriminada de civis". Autoridades americanas reconheceram que a situação se agravou.
Houve 3.590 mortes violentas no país em julho, o maior número registrado desde a invasão do Iraque pelos EUA, em 2003. Somadas às de agosto, foram 6.599 -700 a mais que no bimestre anterior, que já mostrava piora da violência.
Em Bagdá, o necrotério registrou 3.391 mortes no último bimestre -aos quais a ONU acrescentou o número de corpos recebidos em hospitais. Mas as cifras podem ser ainda maiores, dada a dificuldade de obter dados acurados.
Segundo a ONU, a tortura "continua um problema generalizado nos centros de detenção". A impunidade seria uma causa. "Há a percepção crescente de impunidade, que põe em risco a manutenção da lei."
O relatório -apresentado pelo investigador-chefe da ONU sobre tortura, Manfred Nowak, em Genebra- diz que foram encontrados detentos espancados com "fios elétricos, com ossos quebrados e queimaduras de cigarro". Corpos no necrotério "freqüentemente têm sinais de tortura severa, incluindo ferimentos por ácido".
Para Nowak, a tortura pode estar pior depois de Saddam Hussein. "As pessoas [que fugiram] contam que a situação está totalmente fora de controle. Muitos dizem que está pior do que no tempo de Saddam." Segundo ele, as milícias e os esquadrões são os mais cruéis.
Em 2004, a revelação de torturas na prisão de Abu Ghraib causou um escândalo e grande desgaste para o presidente dos EUA, George W. Bush. Hoje, há centros de detenção sob responsabilidade americana e outros sob comando iraquiano.
Ainda ontem, a ONU voltou a pedir aos EUA o fechamento da prisão de Guantánamo, em Cuba, e criticou lei para interrogatórios que está em tramitação.

Autoridades dos EUA
O relatório da ONU sobre o Iraque foi divulgado em meio ao reconhecimento, por parte de autoridades dos EUA, da deterioração da situação. Na última semana, foram achados 200 corpos com sinais de execução, e ontem surgiram mais 38. "Houve crescimento desse tipo de assassinato", disse o general William Caldwell, porta-voz do Exército no Iraque.
O chefe dos militares no país, general George Casey, afirmou que o conflito está mudando de uma resistência à ocupação para uma luta por poder. "Estamos começando a ver o conflito passar de uma insurgência contra as tropas para uma luta por divisão do poder", disse. "Acredito que a situação da segurança seja mais complexa e difícil hoje do que em dezembro" -alusão ao mês das eleições.
O Ministério da Defesa iraquiano divulgou ontem uma nova modalidade de atentado: a de homens-bomba involuntários. Após capturar o dono de um veículo, militantes põem bombas no carro e o deixam ir, causando uma explosão por controle remoto pouco depois.
A violência entre sunitas e xiitas explodiu em fevereiro, após a destruição de um santuário xiita. No campo político, as facções também estão em disputa. Parlamentares xiitas querem aprovar uma lei para criar regiões autônomas no país; os sunitas não aceitam.

Retirada
A Itália, último grande aliado europeu de EUA e Reino Unido com tropas no Iraque, encerrou sua retirada e passou a responsabilidade pela Província de Dhi Qar aos iraquianos -a Província é a segunda devolvida ao controle de Bagdá. Há 1.600 italianos no país, e sua saída foi uma promessa de campanha do premiê Romano Prodi.


Com agências internacionais

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