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Morales pressiona; oposição pede tempo
Presidente diz que só compromisso de governadores com referendo constitucional pode barrar cerco de seus apoiadores a Santa Cruz
Com discussões sobre Carta travadas, duas partes chegam a acordo sobre distribuição dos recursos de imposto sobre o gás
João Padua/ France Presse
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Armados com rifles, partidários do presidente boliviano, Evo Morales, marcham em direção à cidade de Santa Cruz de la Sierra, principal bastião da oposição
FLÁVIA MARREIRO
ENVIADA ESPECIAL A LA PAZ
Após fechar com os opositores o primeiro acordo significativo -quanto ao repasse às regiões do IDH, um imposto sobre o gás-, o presidente boliviano, Evo Morales, intensificou a pressão sobre os governadores rebeldes, cobrando deles
a aceitação ontem mesmo de
um documento que permita a
convocação, até 1º de outubro,
dos referendos que faltam para
promulgar a nova Constituição.
Na quarta jornada de negociações na cidade de Cochabamba, centro do país, Morales
acusou seus opositores de intransigência e de querer simplesmente barrar mais uma vez
o projeto constitucional, aprovado por constituintes governistas no ano passado.
Morales voltou a dizer que só
um compromisso dos governadores rebeldes com as consultas da Carta -que limita tamanho de propriedades rurais e
estabelece reeleição presidencial- pode desativar o cerco
que movimentos sociais aliados do governo fazem a Santa
Cruz, rico bastião oposicionista.
O presidente boliviano disse
ter convocado uma reunião de
emergência com os líderes sindicais da mobilização e que eles
estão irredutíveis inclusive
quanto a pedir a renúncia do
governador cruzenho, Rubén
Costas. "Botaram isso na cabeça, e quando botam na cabeça...", advertiu Morales, que
lembrou que manifestações populares já derrubaram presidentes no passado.
Debilitados após três semanas de uma violenta onda de
protestos anti-Morales -que
culminou com massacre em
Pando, no norte do país, com a
morte de ao menos 15 correligionários do presidente-, os
opositores limitam-se a pedir
mais tempo à rodada de diálogo, que conta com observadores internacionais que incluem
a Unasul (União de Nações Sul-Americanas) e a OEA (Organização de Estados Americanos).
"O processo de diálogo está
avançando. Não podemos abortá-lo impondo prazos", defendeu à Folha Mauricio Leo Plaza, secretário-geral do governo
de Tarija e principal assessor
do governador Mario Cossío, o
porta-voz da oposição.
A oposição que rejeitava cabalmente a nova Constituição
já aceitou debater o projeto e
até "promover sua aprovação".
O impasse declarado, agora, está em quanto mexer e nos prazos para o referendo. Os governadores rebeldes defendiam
"texto consensual" para a Carta. Plaza, porém, já falava de
"modificações pontuais" e prometeu para ainda ontem nova
proposta dos governadores.
Os opositores também exigem o prazo de ao menos um
mês para convocar os referendos -querem ganhar tempo
para se recompor depois do referendo revogatório que deu
67,4% dos votos a Morales em
10 de agosto. O intervalo estava
na agenda de negociação acordada entre Cossío e o vice-presidente, Álvaro García Linera.
La Paz propõe alterar na
Constituição o capítulo das autonomias administrativas departamentais e, "em sinal de
flexibilidade", ofereceu dirimir
eventuais "contradições internas", sem alteração de fundo.
IDH
Na noite de sábado, governo
e oposição chegaram a acordo
quanto à distribuição do IDH,
imposto sobre o gás recolhido
por La Paz e repassado aos departamentos. No ano passado,
Morales decidiu cortar 30% da
parcela destinada aos governadores para pagar o Renda Dignidade, uma pensão a idosos.
Por ora, trata-se apenas de
um acerto conceitual, com cessão de ambas as partes. Os governadores rebeldes concordaram que o IDH seja a fonte do
Renda Dignidade. Já o governo
aceitou repassar aos departamentos o que sobrar da verba
gerada pelo corte de 30%.
Os detalhes sobre a questão
devem ser acertados até quinta,
quando Morales volta de Nova
York, onde participará da Assembléia Geral da ONU. O presidente viaja aos EUA hoje.
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