São Paulo, segunda-feira, 22 de setembro de 2008

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Morales pressiona; oposição pede tempo

Presidente diz que só compromisso de governadores com referendo constitucional pode barrar cerco de seus apoiadores a Santa Cruz

Com discussões sobre Carta travadas, duas partes chegam a acordo sobre distribuição dos recursos de imposto sobre o gás

João Padua/ France Presse
Armados com rifles, partidários do presidente boliviano, Evo Morales, marcham em direção à cidade de Santa Cruz de la Sierra, principal bastião da oposição

FLÁVIA MARREIRO
ENVIADA ESPECIAL A LA PAZ

Após fechar com os opositores o primeiro acordo significativo -quanto ao repasse às regiões do IDH, um imposto sobre o gás-, o presidente boliviano, Evo Morales, intensificou a pressão sobre os governadores rebeldes, cobrando deles a aceitação ontem mesmo de um documento que permita a convocação, até 1º de outubro, dos referendos que faltam para promulgar a nova Constituição.
Na quarta jornada de negociações na cidade de Cochabamba, centro do país, Morales acusou seus opositores de intransigência e de querer simplesmente barrar mais uma vez o projeto constitucional, aprovado por constituintes governistas no ano passado.
Morales voltou a dizer que só um compromisso dos governadores rebeldes com as consultas da Carta -que limita tamanho de propriedades rurais e estabelece reeleição presidencial- pode desativar o cerco que movimentos sociais aliados do governo fazem a Santa Cruz, rico bastião oposicionista.
O presidente boliviano disse ter convocado uma reunião de emergência com os líderes sindicais da mobilização e que eles estão irredutíveis inclusive quanto a pedir a renúncia do governador cruzenho, Rubén Costas. "Botaram isso na cabeça, e quando botam na cabeça...", advertiu Morales, que lembrou que manifestações populares já derrubaram presidentes no passado.
Debilitados após três semanas de uma violenta onda de protestos anti-Morales -que culminou com massacre em Pando, no norte do país, com a morte de ao menos 15 correligionários do presidente-, os opositores limitam-se a pedir mais tempo à rodada de diálogo, que conta com observadores internacionais que incluem a Unasul (União de Nações Sul-Americanas) e a OEA (Organização de Estados Americanos).
"O processo de diálogo está avançando. Não podemos abortá-lo impondo prazos", defendeu à Folha Mauricio Leo Plaza, secretário-geral do governo de Tarija e principal assessor do governador Mario Cossío, o porta-voz da oposição.
A oposição que rejeitava cabalmente a nova Constituição já aceitou debater o projeto e até "promover sua aprovação". O impasse declarado, agora, está em quanto mexer e nos prazos para o referendo. Os governadores rebeldes defendiam "texto consensual" para a Carta. Plaza, porém, já falava de "modificações pontuais" e prometeu para ainda ontem nova proposta dos governadores.
Os opositores também exigem o prazo de ao menos um mês para convocar os referendos -querem ganhar tempo para se recompor depois do referendo revogatório que deu 67,4% dos votos a Morales em 10 de agosto. O intervalo estava na agenda de negociação acordada entre Cossío e o vice-presidente, Álvaro García Linera.
La Paz propõe alterar na Constituição o capítulo das autonomias administrativas departamentais e, "em sinal de flexibilidade", ofereceu dirimir eventuais "contradições internas", sem alteração de fundo.

IDH
Na noite de sábado, governo e oposição chegaram a acordo quanto à distribuição do IDH, imposto sobre o gás recolhido por La Paz e repassado aos departamentos. No ano passado, Morales decidiu cortar 30% da parcela destinada aos governadores para pagar o Renda Dignidade, uma pensão a idosos.
Por ora, trata-se apenas de um acerto conceitual, com cessão de ambas as partes. Os governadores rebeldes concordaram que o IDH seja a fonte do Renda Dignidade. Já o governo aceitou repassar aos departamentos o que sobrar da verba gerada pelo corte de 30%.
Os detalhes sobre a questão devem ser acertados até quinta, quando Morales volta de Nova York, onde participará da Assembléia Geral da ONU. O presidente viaja aos EUA hoje.


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