São Paulo, quarta-feira, 22 de setembro de 2010

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Famílias no Afeganistão vestem filhas como meninos para evitar vergonha

DE SÃO PAULO

Algumas mulheres afegãs acabam, para seu próprio azar, recebendo quase os mesmos direitos do que os homens de seu país: ainda na infância são vestidas como meninos para proteger o orgulho de suas famílias.
Segundo reportagem do "New York Times", a prática existe há gerações e é reproduzida até hoje, inclusive por mulheres escolarizadas e com assento no Parlamento.
Azita Rafaat é 1 das 68 mulheres entre os 249 parlamentares do Afeganistão.
Fluente em seis idiomas, ela estudava em Kabul quando seu pai a obrigou a ser a segunda mulher de um primo fazendeiro e analfabeto.
Rafaat queria ser médica e agora veste sua filha de seis anos Mehran Rafaat de homem antes que ela saia de casa para a escola.
A cultura local acredita que a mulher tem o poder de escolher o sexo da criança. Portanto, Rafaat é considerada culpada por privar sua família de criar um menino.
"Algumas coisas que acontecem no Afeganistão são realmente inimagináveis para os ocidentais", diz.
Apenas o homem tem direito a herança, pode acompanhar as meninas da família em público e possui acesso facilitado à educação. Não ter filhos homens é uma desgraça para uma família, até um forjado melhora a imagem no vilarejo.

RETORNO AO FEMININO
Há também a crença de que a prática aumenta as chances de nascer um bebê masculino. Rafaat, então, decidiu ter um bacha posh, que significa "vestido como menino" em dari.
A prática não é proibida pela lei nem pela religião. Em geral o retorno ao mundo feminino vem com a puberdade, mas depende da família.
Para algumas, a mudança é traumatizante. Shukria Siddiqui, 36, foi um menino por 20 anos. Ela andava com uma faca na cintura e não conhecia as restrições da vida feminina. Até que casou e passou a vestir a burca.
"Nós obedecemos nossas famílias", explicou.


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