São Paulo, quarta-feira, 22 de setembro de 2010

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Super-herói do islã

Série árabe que virou hit entre crianças islâmicas promove agora um "encontro de civilizações"

MARCELO NINIO
DE JERUSALÉM

Se no mundo real a convivência entre Ocidente e islã não anda muito amigável -como mostram a polêmica em torno do centro islâmico em Nova York e as restrições ao uso do véu na França-, é hora de invocar os poderes dos super-heróis.
No próximo mês, personagens consagrados dos quadrinhos americanos, como Super-Homem e Mulher Maravilha, unirão forças com heróis da série árabe "The 99", cujos superpoderes são inspirados na tradição islâmica. A ideia do encontro partiu do psicólogo kuaitiano Naif Abdulrahman al Mutawa, criador do "The 99".
Surgida em 2006, a série tornou-se febre entre as crianças do mundo islâmico, com mais de 1 milhão de cópias vendidas por ano. E começa a dar origem a um império que inclui uma versão para TV e até um parque temático no Kuait.
Inspirado no discurso proferido no ano passado por Barack Obama no Cairo, em que o presidente dos EUA estendeu a mão ao mundo islâmico, Mutawa propôs uma reunião à editora DC Comics, que tem os direitos dos principais heróis dos quadrinhos americanos.
O resultado da parceria estreia em 27 de outubro, quando a primeira revista da série chega às bancas nos EUA.
"As palavras do presidente Obama serviram de empurrão", contou Mutawa à Folha, sem revelar muito sobre a história, guardada a sete chaves pela DC Comics.
"O que posso dizer é que tudo começa com desconfiança entre os dois lados, que mais tarde é superada para salvar o mundo."
A iniciativa recebeu elogios calorosos de Obama, que a considerou "o resultado mais inovador" de seu discurso no Cairo.
Sua fórmula foi combinar arquétipos do islã com o visual das HQs americanas.
No enredo, 99 pedras sagradas que se espalharam pelo mundo após a invasão de Bagdá pelos mongóis, em 1258, são achadas em diferentes países, conferindo superpoderes baseados nos atributos de Alá.
Entre os 20 personagens estão Jabbar, um saudita fortão estilo Hulk; Mumita, nascida em Portugal e imune à dor; Sami, um francês-sudanês com superaudição, e agora um brasileiro, Hafiz, que ainda fará sua estreia.
Das 50 mulheres que formarão a galeria de heróis do "The 99", somente cinco terão as cabeças cobertas pelo véu, uma forma de mostrar a diversidade muçulmana.
Especializado no tratamento de vítimas de tortura política, Mutawa diz que ainda há muito trabalho para mudar a imagem de sua religião no Ocidente.
"É como um provérbio que temos no Kuait: quem é picado por cobra tem medo de corda. Pena que a verdadeira lição do 11 de Setembro não foi aprendida: os vilões são os extremistas, de qualquer religião ou nacionalidade.
Não o islã."

Veja o trailer, em inglês, da versão para a TV do "The 99"
folha.com.br/mu802601


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