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Irã dá aceno positivo a um acordo nuclear
Negociadores do país aceitam proposta da AIEA para delegar enriquecimento de seu estoque de urânio à Rússia e à França
Texto tem até amanhã para ser ratificado por Teerã; se fechado, acordo mitigaria temores de que país persa obtenha bomba atômica
MARCELO NINIO
DE JERUSALÉM
Uma nova tentativa de romper o impasse internacional em
torno do programa atômico iraniano recebeu luz verde dos
países envolvidos na negociação, indicou ontem o chefe da
agência nuclear da ONU.
Após dois dias de conversas
em Viena, diplomatas de Irã,
EUA, França e Rússia aprovaram o esboço de um acordo pelo qual Teerã se compromete a
processar a maior parte de seu
combustível nuclear fora de
suas fronteiras.
Se cumprido, o pacto comprometeria a eventual capacidade do Irã de produzir armas
atômicas, ainda que por tempo
limitado. A suspeita de que o
programa nuclear iraniano tem
fins bélicos ocupa o centro das
negociações, embora Teerã
sustente que seu objetivo é somente a produção de energia.
Mohamed El Baradei, diretor-geral da Agência Internacional de Energia Atômica
(AIEA), não revelou detalhes
do esboço submetido aos negociadores, mas disse que ele reflete "uma atitude equilibrada"
para desobstruir o impasse. Os
países têm até amanhã para dar
uma resposta final à proposta.
Negociadores ouvidos pelas
agências de notícias Associated
Press e France Presse disseram
que o texto prevê a transferência, até o fim do ano, de 1.200 kg
de urânio do Irã para ser enriquecido na Rússia. Em seguida
o combustível seria encaminhado para a França, que possui a tecnologia necessária para
acrescentar os elementos necessários para o uso no reator
iraniano, para fins de pesquisa.
Ali Asghar Soltanieh, chefe
da delegação iraniana, elogiou a
proposta, afirmando que ela está "no caminho certo". Mas salientou que ela ainda não tem a
aprovação de Teerã. "Precisamos estudar com cuidado esse
texto e realizar mais consultas
na capital [iraniana]", afirmou.
A tentativa de acordo marca
a mudança de ares gerada pela
eleição de Barack Obama nos
EUA, mostrando maior abertura em relação ao Irã. Segundo
diplomatas presentes, foi o
contato mais próximo entre
negociadores americanos e iranianos em 30 anos.
"Todos tentaram olhar para
o futuro, não para o passado, e
curar as feridas", disse Mohamed El Baradei. "Espero que as
pessoas vejam a situação de
forma mais ampla, que leve à
completa normalização das relações entre o Irã e a comunidade internacional."
Nem todos compartilharam
o otimismo. Um diplomata entrevistado pelo jornal "Financial Times" relatou que os iranianos impuseram vários obstáculos à proposta, exigindo
que a transferência do urânio
fosse em quantidade menor
que a exigida por França e EUA,
e de forma parcelada.
"Eles efetivamente rejeitaram a proposta durante os últimos dois dias", disse o diplomata, sob a condição de não ser
identificado. "É muito difícil
imaginar que voltarão atrás no
prazo de 48 horas."
Em Washington, a secretária
de Estado americana, Hillary
Clinton, saudou o "começo
construtivo" esboçado em Viena, mas alertou que espera passos concretos de Teerã.
"Se o Irã mostrar seriedade
em relação às preocupações da
comunidade internacional, nós
continuaremos a nos engajar,
tanto de forma multilateral como bilateral, na discussão dos
assuntos que têm causado divisões entre Teerã e Washington
por tanto tempo."
Israel, que ontem deu início a
um dos maiores exercícios militares conjuntos com os EUA
de sua história, justamente
com foco num possível ataque
iraniano, expressou satisfação
com comedimento.
"Isso mostra que a pressão
internacional funciona, mas ela
precisa ser mantida para que
Teerã não obtenha a bomba",
disse o vice-ministro da Defesa,
Matan Vilnai.
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