São Paulo, quinta-feira, 22 de outubro de 2009

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Hotel-modelo de Saddam Hussein hoje é retrato de decadência iraquiana

SAMY ADGHIRNI
ENVIADO ESPECIAL A BAGDÁ

O Al Rasheed, no centro de Bagdá, já foi chamado de melhor hotel do Oriente Médio. Hoje é uma instituição decadente e precária, onde clientes estrangeiros só continuam se hospedando por falta de opção melhor na capital iraquiana.
Os telefones dos quartos não fazem chamadas para fora do prédio, e os apartamentos não dispõem de internet -nem a cabo nem wireless. Hóspedes sem celular podem usar, mediante alguns trocados, os aparelhos dos funcionários do hotel, acostumados com o empréstimo. Os computadores do business center são novos, mas a conexão on-line é lenta.
Os colchões nos quartos, todos com mola, são tortos, e os banheiros têm xampu falsificado da Lancôme. Um cheiro de mofo emana do grosso carpete dos corredores do Rasheed -nome de um califa da dinastia abácida do século 8º cujo reino foi marcado pela prosperidade cultural e material.
A Folha viu uma bandeja de serviço de quarto ficar oito horas no chão de um corredor antes de ser recolhida.
A fachada do nono andar do prédio, atingida em 2003 por morteiros durante visita do então secretário da Defesa do governo americano de George W. Bush, Donald Rumsfeld, continua ostentando as marcas do ataque.
Mas o hotel ainda guarda marcas da grandiosidade dos anos 80, quando foi erguido pelo ditador Saddam Hussein (1979-2003) para se tornar uma referência mundial.
Construída com os melhores materiais, a estrutura do prédio de 18 andares resiste bem ao tempo. Há mármore e granito de primeira por todo o lobby. Os lustres de cristal carregam uma delicada iluminação. O barulho dos chafarizes internos irradia serenidade no salão principal, que continua sendo um dos principais palcos para discutir negócios no Iraque.
Foi nos jardins do Rasheed, outrora povoados de pássaros raros e plantas exóticas, que Saddam promoveu algumas de suas mais pomposas festas.
O bar do térreo, que ainda ostenta a mobília azul kitsch dos anos 80, era frequentado por Uday, filho do ditador.
Ainda sob controle do governo iraquiano, que não divulga resultados comerciais, o Rasheed tem um atrativo de peso para estrangeiros: é o único hotel situado na Zona Verde, área ultraprotegida de Bagdá, onde ficam prédios oficiais e embaixadas. A diária, principalmente pela localização, não sai por menos de US$ 260.


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