|
Texto Anterior | Índice
foco
Hotel-modelo de Saddam Hussein hoje é retrato de decadência iraquiana
SAMY ADGHIRNI
ENVIADO ESPECIAL A BAGDÁ
O Al Rasheed, no centro de
Bagdá, já foi chamado de melhor hotel do Oriente Médio.
Hoje é uma instituição decadente e precária, onde clientes estrangeiros só continuam se hospedando por falta de opção melhor na capital
iraquiana.
Os telefones dos quartos
não fazem chamadas para fora do prédio, e os apartamentos não dispõem de internet
-nem a cabo nem wireless.
Hóspedes sem celular podem
usar, mediante alguns trocados, os aparelhos dos funcionários do hotel, acostumados
com o empréstimo. Os computadores do business center
são novos, mas a conexão on-line é lenta.
Os colchões nos quartos,
todos com mola, são tortos, e
os banheiros têm xampu falsificado da Lancôme. Um
cheiro de mofo emana do
grosso carpete dos corredores do Rasheed -nome de um
califa da dinastia abácida do
século 8º cujo reino foi marcado pela prosperidade cultural e material.
A Folha viu uma bandeja
de serviço de quarto ficar oito
horas no chão de um corredor antes de ser recolhida.
A fachada do nono andar
do prédio, atingida em 2003
por morteiros durante visita
do então secretário da Defesa
do governo americano de
George W. Bush, Donald
Rumsfeld, continua ostentando as marcas do ataque.
Mas o hotel ainda guarda
marcas da grandiosidade dos
anos 80, quando foi erguido
pelo ditador Saddam Hussein
(1979-2003) para se tornar
uma referência mundial.
Construída com os melhores materiais, a estrutura do
prédio de 18 andares resiste
bem ao tempo. Há mármore e
granito de primeira por todo
o lobby. Os lustres de cristal
carregam uma delicada iluminação. O barulho dos chafarizes internos irradia serenidade no salão principal,
que continua sendo um dos
principais palcos para discutir negócios no Iraque.
Foi nos jardins do Rasheed,
outrora povoados de pássaros raros e plantas exóticas,
que Saddam promoveu algumas de suas mais pomposas
festas.
O bar do térreo, que ainda
ostenta a mobília azul kitsch
dos anos 80, era frequentado
por Uday, filho do ditador.
Ainda sob controle do governo iraquiano, que não divulga resultados comerciais,
o Rasheed tem um atrativo de
peso para estrangeiros: é o
único hotel situado na Zona
Verde, área ultraprotegida de
Bagdá, onde ficam prédios
oficiais e embaixadas. A diária, principalmente pela localização, não sai por menos de
US$ 260.
Texto Anterior: França e Reino Unido deportam 27 a Cabul Índice
|