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MISSÃO NO CARIBE
Após um mês no país, Seitenfus vê "aceitação tácita" do Brasil
Haiti votará em 2005, diz enviado
FABIANO MAISONNAVE
DA REDAÇÃO
As últimas semanas foram intensas para Ricardo Seitenfus, o
enviado ao Haiti pelo governo
brasileiro para desempenhar a
delicada condição de mediador
político. Depois de mais de 120
reuniões, de uma visita à devastada Gonaives, de escapar de um tiroteio e de perder cinco quilos,
concluiu: "Um dos grandes problemas do Haiti é saber por onde
começar, tamanho o descalabro".
Especialista em relações internacionais da Universidade Federal de Santa Maria, Seitenfus chegou no final de outubro a Porto
Príncipe, em meio a um violento
levante supostamente promovido
por partidários do ex-presidente
Jean-Bertrand Aristide e logo depois da passagem do furacão
Jeanne, que matou mais de 3.000
pessoas na região de Gonaives.
Seitenfus deixou o Haiti na última sexta-feira, após entregar, junto com outros consultores, um relatório contendo várias recomendações à missão da ONU.
O documento propõe, entre outros pontos, que seja assinado por
todas as facções políticas um
"pacto de garantias democráticas" para a realização das eleições
gerais, no final do ano que vem,
época em que as tropas de paz da
ONU, comandadas pelo Brasil,
devem deixar o país.
"É certo que as eleições ocorrerão. O que está acontecendo é
uma pequena agitação de partidos políticos que sabem que vão
perder. Mas 95% dos haitianos
querem a eleição", disse à Folha.
O brasileiro defende que o resultado eleitoral tenha o aval do
Conselho de Segurança. "Em contrapartida, quem ganhar terá de
respeitar os direitos da oposição,
algo que nunca ocorreu no Haiti."
Até as eleições, porém, a presença internacional terá de ser visível
também fora da área de segurança. Seitenfus repete a crítica sobre
o atraso na liberação dos mais de
US$ 1 bilhão de ajuda internacional. "Precisamos de mecanismos
urgentes para melhorar os dados
sociais. É um desafio contra a burocracia e a insensatez."
Mesmo com as eleições, o envolvimento internacional ainda
está longe do fim, prevê Seitenfus.
Ele acredita que o Haiti ainda precise de 10 a 15 anos de ajuda. "É
trabalho para uma geração."
Observador da última missão
da ONU no Haiti, em 1994, o professor universitário é otimista
com relação ao papel do Brasil.
"Pela primeira vez na história
haitiana, há uma aceitação tácita
da presença estrangeira. O Brasil
veicula uma empatia extraordinária. Somos países parecidos, unidos pelos laços africanos. Já nas
vezes anteriores, tentaram fazer
do Haiti um protetorado", disse,
em alusão aos Estados Unidos.
Sobre o tiroteio que resultou em
duas mortes e o deixou encurralado por cerca de 30 minutos dentro de uma agência bancária, disse: "A grande questão é: trata-se
de bandidos atrás de dinheiro comum ou de atos de natureza política? Essa pergunta não tem resposta, ao menos hoje".
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