São Paulo, segunda-feira, 22 de novembro de 2004

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HOLOCAUSTO

Arquivos do museu Yad Vashem, com três milhões de nomes, está on-line; internautas podem inserir dados

Site traz biografia de vítimas do nazismo

JOSEPH BERGER
DO "NEM YORK TIMES"

O que se sabe sobre a vida das vítimas do holocausto geralmente é resumido na quantidade: seis milhões. Poucos se lembram que cada uma teve um nome, um endereço, um lugar de nascimento e um lugar onde morreu.
Agora, o Yad Vashem, o museu e arquivo do Holocausto em Jerusalém, juntou a maior e mais abrangente lista com nomes de judeus mortos no período -mais de três milhões, metade dos que sucumbiram-, contendo detalhes biográficos e fotografias, e a colocou ontem na internet, no endereço www.yadvashem.org.
O projeto não somente é visto como um marco comemorativo para que aqueles que perderam parentes possam se recordar deles mas também como mais um meio de refutar os que tentam negar o tamanho da matança dos judeus da Europa.
O banco de dados possibilita que filhos, netos e futuros descendentes pesquisem as histórias de suas famílias e, em alguns casos, permite que os sobreviventes rastreiem aqueles cujo destino é desconhecido. Após a Segunda Guerra Mundial, muitos entre os que sobreviveram sabiam que seus parentes haviam sido massacrados em campos de concentração ou deportados, mas nunca tiveram certeza sobre quando e onde eles foram mortos.
"No momento em que entraram em Auschwitz, eles perderam o nome e se tornaram um número", diz Elie Wiesel, um porta-voz dos sobreviventes do Holocausto e vencedor do Prêmio Nobel da Paz. "Seis milhões de nomes se evaporaram, transformados em poeira e cinzas. Daqui a centenas de anos, nós saberemos onde ir para conhecer algo sobre nossa genealogia e de onde viemos."

Novos registros
Avner Shalev, presidente do conselho-diretor do Yad Vashem, afirmou que, com a divulgação do projeto, acredita em um grande crescimento dessa lista, a partir da entrada de novas informações pelo site do museu.
Dois anos depois de ser criado pelo Parlamento israelense, em 1955, o Yad Vashem começou a arquivar páginas conhecidas como testemunhos (registros recebidos de parentes em Israel e no exterior). Os testemunhos contêm 22 informações básicas, incluindo local e ano de nascimento, profissão e relação de parentes. Algum tempo depois, o museu publicou anúncios procurando por mais nomes, entrevistou sobreviventes e obteve emprestadas listas de outros arquivos.
Naquele ano, o museu conseguiu testemunhos de dois milhões de vítimas, que foram complementados com informações recolhidas em centenas de registros burocráticos mantidos pelos nazistas e seus colaboradores, como listas de campos de concentração e de empresas de transporte ferroviário.
Segundo Shalev, meio século de esforços não foram suficientes para identificar todos os seis milhões. Em grandes regiões do Leste Europeu e da antiga União Soviética, nenhuma documentação foi mantida pelos esquadrões que dizimaram populações judias inteiras em algumas cidades ou por tropas nazistas que despachavam habitantes de guetos para serem mortos em câmaras de gás nos campos da morte. "A maioria das listas com o nome dos 437 mil judeus presos e enviados a Auschwitz num período de 56 dias pela polícia húngara, em 1944, nunca foram encontradas."
O banco de dados, cuja criação consumiu entre US$ 15 milhões e US$ 17 milhões, de acordo com os cálculos de Shalev, pode ser pesquisado em inglês ou em hebreu. Os visitantes do site podem adicionar nomes e fotografias, incluir informações perdidas e corrigir dados incorretos. As informações serão checadas antes da inclusão. Os internautas também têm acesso a reproduções dos testemunhos escritos à mão.
O número de seis milhões de vítimas do holocausto foi calculado após a Segunda Guerra Mundial, comparando-se censos do período pré-guerra com listas dos sobreviventes compiladas pela Cruz Vermelha e outras organizações de assistência. Havia cerca de nove milhões de judeus nos países europeus sob o controle dos nazistas, que mataram dois em cada três judeus.
O site do Yad Vashem não inclui os não-judeus, como ciganos, que também sofreram com a carnificina nazista.
A tarefa de compilar uma lista de indivíduos diferentes apresentou alguns problemas porque os nomes das pessoa e das cidades foram soletrados com muitas variações. "Os judeus podem soletram Isaac de 700 maneiras", explica Shalev. "E Cohen? Há mil maneiras de soletrar Cohen." A ferramenta de busca do Yad Vashem leva em conta algumas discrepâncias e tenta eliminar os registros duplicados.


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