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Líder cristão é morto no Líbano
Pierre Gemayel foi emboscado por atiradores em Beirute; Síria é acusada, mas condena o atentado
Crime agrava a crise política
provocada pela renúncia
dos ministros pró-Síria;
Hizbollah pressiona por
poder de veto no governo
DA REDAÇÃO
Pierre Gemayel, representante da minoria cristã maronita no governo libanês e adversário da Síria, foi assassinado
ontem num subúrbio ao norte
de Beirute, agravando a crise
política em que o Líbano está
mergulhado há um mês.
Com 35 anos, deputado e ministro da Indústria, ele dirigia
seu automóvel quando foi atingido no pescoço por três desconhecidos, que usaram silenciadores em suas armas e conseguiram burlar seus guarda-costas. Foi alvejado por seis tiros.
Transportado para o hospital
Saint Joseph de Daura, o ministro morreu pouco depois. O
hospital foi cercado por centenas de manifestantes que passaram a protestar ruidosamente contra o grupo islâmico Hizbollah e contra Michel Aoun, líder da facção cristã pró-Síria.
O pai do ministro morto, o
ex-presidente Amin Gemayel,
exortou os manifestantes a
manterem a calma e a não partirem para a vingança. Pierre
era também sobrinho de Bashir
Gemayel, outro presidente libanês, assassinado em 1982.
O ministro da Indústria se
opunha ao plano dos xiitas do
Hizbollah, que, apoiados pela
ditadura síria, queriam modificar a composição do atual governo, considerada como excessivamente pró-ocidental.
Acusada por políticos libaneses de estar por trás do atentado, a Síria condenou o assassinato e o qualificou de "crime
desprezível". A agência oficial
Sana atribuiu a um dirigente local a afirmação de que o crime
"procura destruir a estabilidade e a paz" naquele país do
Oriente Médio.
O assassinato ocorreu três
horas depois de Síria e Iraque
anunciarem o reatamento de
relações diplomáticas e quando
aumentam as pressões, dentro
e fora dos EUA, para a incorporação de Damasco a negociações sobre o futuro iraquiano.
Acusações e crise
A hipótese de a ditadura síria
estar implicada foi apontada
por Saad Hariri, deputado e filho do ex-premiê Rafik Hariri,
morto no início do ano passado
por uma conspiração em que
comissão de inquérito da ONU
vê fortes indícios da participação de Damasco.
"Uma das pessoas que mais
acreditavam num Líbano livre
e democrático acaba de ser
morto, e temos certeza de que
as mãos da Síria está presente",
disse Hariri. O ministro libanês
do Interior, Ahmed Fatfat,
também acusou os sírios.
O xiita Hizbollah também
condenou o atentado. Seu dirigente, o xeque Hassan Nasrallah, protestou contra a rede de
TV Al Arabiya por ter colocado
seu grupo como o principal suspeito. O Hizbollah se fortaleceu
por ter resistido à ofensiva de
Israel contra o grupo, em julho
e agosto deste ano.
Ainda no domingo Nasrallah
exortava a população a "derrubar o governo", por ele qualificado de "ilegítimo e anticonstitucional". Ahmed Melli, do
mesmo grupo islâmico, disse
que o assassinato "procurou ferir o futuro do Líbano".
O atual gabinete libanês,
apoiado pelos EUA, é chefiado
pelo primeiro-ministro Fouad
Siniora e formado pela Coalizão 14 de Março, integrada por
muçulmanos sunitas, drusos e
cristãos. Desde o mês passado,
seis ministros pró-Síria retiraram-se do governo, que resiste
em ceder mais espaço ao Hizbollah porque isso lhe daria poder de veto e abriria um flanco
para que a Síria aumentasse sua
influência na política libanesa.
Pierre Gemayel não tem uma
biografia tão densa quanto a de
Rafik Hariri, o ex-premiê morto em 2005. Mas era o herdeiro
de uma dinastia criada por seu
avô, também chamado Pierre,
que em 1950 fundou a Falange,
partido de direita e milícia da
comunidade cristã maronita.
Reações
O presidente George W.
Bush, dos EUA, condenou o
atentado e pediu investigações
"que possam identificar as pessoas e as forças" que o praticaram. A secretária de Estado
americana, Condoleezza Rice,
telefonou ao primeiro-ministro libanês, Fuad Siniora, exprimindo condolências.
Nas Nações Unidas, o secretário-geral, Kofi Annan, afirmou que "os autores e instigadores" do homicídio "devem
ser levados à Justiça para assegurar o fim da impunidade".
A Finlândia, no exercício da
presidência da União Européia,
condenou "em termos categóricos" o assassinato e exortou
as facções e partidos libaneses a
não tomarem iniciativas que
comprometam ainda mais "o
governo legítimo e democraticamente eleito" do país.
O presidente da França, Jacques Chirac, se disse "horrorizado". O rei Abdullah, da Jordânia, qualificou o atentado de
"covarde".
Com agências internacionais
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