São Paulo, quarta-feira, 22 de novembro de 2006

Próximo Texto | Índice

Líder cristão é morto no Líbano

Pierre Gemayel foi emboscado por atiradores em Beirute; Síria é acusada, mas condena o atentado

Crime agrava a crise política provocada pela renúncia dos ministros pró-Síria; Hizbollah pressiona por poder de veto no governo

DA REDAÇÃO

Pierre Gemayel, representante da minoria cristã maronita no governo libanês e adversário da Síria, foi assassinado ontem num subúrbio ao norte de Beirute, agravando a crise política em que o Líbano está mergulhado há um mês.
Com 35 anos, deputado e ministro da Indústria, ele dirigia seu automóvel quando foi atingido no pescoço por três desconhecidos, que usaram silenciadores em suas armas e conseguiram burlar seus guarda-costas. Foi alvejado por seis tiros.
Transportado para o hospital Saint Joseph de Daura, o ministro morreu pouco depois. O hospital foi cercado por centenas de manifestantes que passaram a protestar ruidosamente contra o grupo islâmico Hizbollah e contra Michel Aoun, líder da facção cristã pró-Síria.
O pai do ministro morto, o ex-presidente Amin Gemayel, exortou os manifestantes a manterem a calma e a não partirem para a vingança. Pierre era também sobrinho de Bashir Gemayel, outro presidente libanês, assassinado em 1982.
O ministro da Indústria se opunha ao plano dos xiitas do Hizbollah, que, apoiados pela ditadura síria, queriam modificar a composição do atual governo, considerada como excessivamente pró-ocidental.
Acusada por políticos libaneses de estar por trás do atentado, a Síria condenou o assassinato e o qualificou de "crime desprezível". A agência oficial Sana atribuiu a um dirigente local a afirmação de que o crime "procura destruir a estabilidade e a paz" naquele país do Oriente Médio.
O assassinato ocorreu três horas depois de Síria e Iraque anunciarem o reatamento de relações diplomáticas e quando aumentam as pressões, dentro e fora dos EUA, para a incorporação de Damasco a negociações sobre o futuro iraquiano.

Acusações e crise
A hipótese de a ditadura síria estar implicada foi apontada por Saad Hariri, deputado e filho do ex-premiê Rafik Hariri, morto no início do ano passado por uma conspiração em que comissão de inquérito da ONU vê fortes indícios da participação de Damasco.
"Uma das pessoas que mais acreditavam num Líbano livre e democrático acaba de ser morto, e temos certeza de que as mãos da Síria está presente", disse Hariri. O ministro libanês do Interior, Ahmed Fatfat, também acusou os sírios.
O xiita Hizbollah também condenou o atentado. Seu dirigente, o xeque Hassan Nasrallah, protestou contra a rede de TV Al Arabiya por ter colocado seu grupo como o principal suspeito. O Hizbollah se fortaleceu por ter resistido à ofensiva de Israel contra o grupo, em julho e agosto deste ano.
Ainda no domingo Nasrallah exortava a população a "derrubar o governo", por ele qualificado de "ilegítimo e anticonstitucional". Ahmed Melli, do mesmo grupo islâmico, disse que o assassinato "procurou ferir o futuro do Líbano".
O atual gabinete libanês, apoiado pelos EUA, é chefiado pelo primeiro-ministro Fouad Siniora e formado pela Coalizão 14 de Março, integrada por muçulmanos sunitas, drusos e cristãos. Desde o mês passado, seis ministros pró-Síria retiraram-se do governo, que resiste em ceder mais espaço ao Hizbollah porque isso lhe daria poder de veto e abriria um flanco para que a Síria aumentasse sua influência na política libanesa.
Pierre Gemayel não tem uma biografia tão densa quanto a de Rafik Hariri, o ex-premiê morto em 2005. Mas era o herdeiro de uma dinastia criada por seu avô, também chamado Pierre, que em 1950 fundou a Falange, partido de direita e milícia da comunidade cristã maronita.

Reações
O presidente George W. Bush, dos EUA, condenou o atentado e pediu investigações "que possam identificar as pessoas e as forças" que o praticaram. A secretária de Estado americana, Condoleezza Rice, telefonou ao primeiro-ministro libanês, Fuad Siniora, exprimindo condolências.
Nas Nações Unidas, o secretário-geral, Kofi Annan, afirmou que "os autores e instigadores" do homicídio "devem ser levados à Justiça para assegurar o fim da impunidade".
A Finlândia, no exercício da presidência da União Européia, condenou "em termos categóricos" o assassinato e exortou as facções e partidos libaneses a não tomarem iniciativas que comprometam ainda mais "o governo legítimo e democraticamente eleito" do país.
O presidente da França, Jacques Chirac, se disse "horrorizado". O rei Abdullah, da Jordânia, qualificou o atentado de "covarde".


Com agências internacionais


Próximo Texto: Tensão pode degenerar em nova guerra civil
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.