São Paulo, quarta-feira, 22 de novembro de 2006

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Iraque reata com Síria após 24 anos e conversa com Irã

Em meio a pressão nos EUA para contatar "inimigos", eles tentam ganhar influência

Chefe da ONU afirma que guerra poderia ter sido evitada e vê EUA numa armadilha, pois "não podem sair e não podem ficar"

DA REDAÇÃO

Após 24 anos de distanciamento, o Iraque e a Síria assinaram ontem o acordo que restabelece as relações diplomáticas entre os dois países, no segundo dia da visita do ministro de Relações Exteriores sírio, Walid al Moallem, a Bagdá.
A aproximação dos vizinhos, aliada à iniciativa do presidente do Irã, Mahmoud Ahmadinejad, de propor um encontro dos líderes dos três países para discutir a violência no Iraque, promete mudanças na política da região, e ocorre em meio a pressões nos EUA pelo diálogo com Irã e Síria em busca de uma solução para o caos iraquiano.
Os dois países, que o presidente George W. Bush já definiu como integrantes de um "eixo do mal", aproveitam o momento para tentar ganhar influência no Oriente Médio.
Iraque e Síria cortaram relações durante a Guerra Irã-Iraque (80-88), em que os sírios ficaram do lado do Irã. Com a Guerra do Iraque, porém, dezenas de milhares de iraquianos já se refugiaram na Síria.
Para Damasco, além da possibilidade de aumentar seu papel na região, a reaproximação pode melhorar suas péssimas relações com os EUA. No acordo assinado pelo ministro em Bagdá, a Síria concorda com uma retirada gradual das tropas americanas no Iraque.
Já o premiê Nuri al Maliki espera, além de mais legitimidade, a diminuição da violência interna -Irã e Síria são acusados de financiar grupos insurgentes, e Maliki enfatizou a necessidade de Damasco tomar medidas para interromper o fluxo de combatentes que entram pela fronteira síria.
Ahmadinejad tenta ampliar seu raio de influência -como o Irã, o Iraque tem governo e maioria xiitas. E a participação no processo de pacificação dificultaria a intenção da ONU de impor sanções ao Irã por suas atividades nucleares.
A movimentação no Oriente Médio se antecipa ao que vem sendo discutido em Washington. Bush tem sido pressionado a dialogar com os "inimigos", e o grupo de estudo que apresentará uma proposta de nova estratégia no Iraque deve sugerir o mesmo. Ele resiste à idéia.
Ontem, o secretário-geral da ONU, Kofi Annan, disse que os EUA estão "numa armadilha". "Eles não podem ficar e não podem sair", disse, acrescentando que acredita "firmemente que a guerra poderia ter sido evitada". Ele encorajou Síria e Irã a "serem parte da solução".


Com agências internacionais


Texto Anterior: Perfil: Clã protagoniza história política cristã no país
Próximo Texto: Terror triplicou após o 11/9, diz estudo alemão
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.