São Paulo, quinta-feira, 22 de novembro de 2007

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Chirac é denunciado por contratar cabos eleitorais

Ex-presidente francês é investigado por pagar partidários como assessores da Prefeitura

Denúncias, que ele rechaça, remontam ao seu período como prefeito de Paris, de 1977 a 1995; investigação envolve outros 20 políticos

DA REDAÇÃO

O ex-presidente da França Jacques Chirac, 74, foi ontem denunciado pela Justiça pela suposta contratação de assessores quando prefeito de Paris (1977-1995), que, na verdade, eram cabos eleitorais de seu partido, o conservador RPR (Reunião pela República) -hoje rebatizado UMP (União para um Movimento Popular).
Chirac apresentou-se às 8h30 ao gabinete da juíza Xavière Simeoni, que por quatro horas o interrogou sobre os critérios de recrutamento da Prefeitura. Segundo um dos advogados do ex-presidente, Jean Veil, a juíza convocará o denunciado novamente.
Pela legislação penal francesa, Chirac está submetido a uma "investigação judicial" que pode ou não preceder o indiciamento, a partir do qual se desencadearia um processo. De qualquer modo, é a primeira vez na recente história republicana daquele país que um ex-chefe de Estado enfrenta problemas com a Justiça.
Em artigo publicado ontem no "Le Monde", Chirac afirma que todas as contratações foram legítimas e necessárias, dentro da ampliação dos poderes do prefeito parisiense. Antes dele, a capital era administrada por um representante do governo central.

Sem enriquecimento
Ele também afirma que "jamais ocorreu enriquecimento pessoal" e que, dos 40 mil funcionários municipais, subsistem dúvidas em torno de apenas duas dezenas de contratações num período de 18 anos.
No último 19 de julho o ex-presidente já havia recebido a visita de um outro magistrado, Alain Philibeaux, que investiga a contratação indevida de assessores. Desta vez ele foi, no entanto, convocado a se apresentar no fórum.
O caso está sendo investigado desde 2002, mas Chirac não poderia ser interrogado em razão de sua imunidade, que perdeu um mês depois de transmitir em maio último o poder a seu sucessor, Nicolas Sarkozy.
Ele é a 21ª pessoa denunciada no processo. Já o foram seus quatro ex-chefes-de-gabinete e seu sucessor na prefeitura, Jean Tiberi. Também é o caso de dois ex-ministros e de Marc Blondel, ex-líder da central sindical Força Operária, que por alguns anos teve guarda-costas pago pela prefeitura.
O "Le Monde" diz que um senador do partido de Chirac, Lucien Lanier, teve seu motorista, Alain Costecalde, contratado pela Prefeitura de Paris como suposto assessor técnico.
Como prefeito, Chirac tinha como braço direito Alain Juppé, que foi condenado por corrupção a 14 meses, cumpridos em liberdade. Juppé chegou a ser nomeado ministro do Ambiente do presidente Sarkozy, mas se exonerou ao ser derrotado nas eleições legislativas de junho último.

Oposição discreta
A oposição de esquerda reagiu discretamente ao episódio. O deputado socialista Arnaud Montebourg, que procurou até há cinco anos tirar a imunidade de Chirac, disse que a decisão judicial "é uma espécie de vitória póstuma", já que o mandato presidencial terminou.
André Vallini, porta-voz da bancada socialista na Assembléia, afirmou que Chirac "deve ser beneficiado pela presunção de inocência.
O deputado Noël Mamère, dos Verdes, declarou "que há um problema sério" no fato de Chirac ser membro, a exemplo dos demais ex-presidentes vivos, do Conselho Constitucional, colegiado de reuniões esporádicas que por vezes funciona como uma Suprema Corte.


Com agências internacionais


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