São Paulo, quinta-feira, 22 de novembro de 2007

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Brasil mandará Amorim para Annapolis

Chanceler será o único representante sul-americano entre 40 convidados a reunião de paz israelo-palestina nos EUA

Washington pressiona por participação dos sauditas, o que daria legitimidade ao encontro e a Abbas; Síria também foi convidada

MARCELO NINIO
DE GENEBRA

O chanceler Celso Amorim representará o Brasil na conferência que os EUA organizarão na próxima semana para tentar retomar as negociações de paz entre palestinos e israelenses. O brasileiro será a única presença latino-americana entre os mais de 40 convidados para o encontro, na terça-feira, dia 27, na cidade de Annapolis.
Essa é a primeira grande iniciativa americana no processo de paz desde que o presidente George W. Bush assumiu o governo, em 2001. Desde então as relações entre israelenses e palestinos sofreram grave deterioração e as negociações tiveram pouco avanço.
Será também a primeira vez de um país latino-americano em uma conferência de paz do Oriente Médio, o que está sendo considerado nos altos escalões do Itamaraty uma vitória da diplomacia brasileira, ainda que haja pouco otimismo em torno da cúpula de Annapolis.
Para Afonso Celso de Ouro Preto, embaixador extraordinário do Brasil para o Oriente Médio, o convite feito pelo governo americano "coroa as boas relações" do país com os dois lados do conflito.
Segundo outro diplomata brasileiro ouvido pela Folha, o Itamaraty prefere não ter expectativas em relação ao resultado de Annapolis, já que as dificuldades de avanço têm sido enormes nos últimos anos. Mas considera que a realização do encontro já é um progresso, e espera ter uma participação produtiva na ocasião. "É um sinal positivo que esse encontro seja realizado".
O mesmo diplomata disse ainda que o Brasil não pretende apresentar propostas concretas durante o encontro, mas que quer ter uma ação ativa. "Seria um exagero dizer que o Brasil passará a ter um papel de mediador. Mas o convite demonstra ao mundo que somos um membro ativo das negociações", comentou, acrescentando que o Brasil tem trocado idéias sobre o processo de paz com israelenses e com palestinos nos últimos anos.
Entre os convidados estão ainda o secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, e os países com assento permanente no Conselho da entidade, além dos EUA -China, Rússia, Reino Unido e França. Javier Solana, representante da União Européia para o exterior, também foi convidado.

Árabes
As maiores expectativas têm girado em torno da participação da Arábia Saudita e da Síria. Convidados, nenhum dos dois países confirmou que irá.
O presidente dos EUA, George W. Bush, telefonou anteontem para o rei da Arábia Saudita, Abdullah, pedindo que ele envie a Annapolis seu chanceler, o príncipe Saud al Faisal. A presença de Faisal no encontro ajudaria a dar legitimidade entre os árabes e palestinos não só à cúpula, mas a Mahmoud Abbas. O presidente da Autoridade Nacional Palestina é considerado pelo Ocidente o representante dos palestinos desde que o grupo radical islâmico Hamas tomou a faixa de Gaza, em junho, isolando o Fatah de Abbas na Cisjordânia.
Mas os sauditas têm exigido que, em troca do endosso pleno ao encontro, Israel se comprometa a fazer concessões significativas no processo de paz.
A presença do chanceler da Síria no encontro também ajudaria a legitimá-lo. O ministro da Informação do país, Mohsen Bilal, declarou que a Síria está disposta a participar, desde que se inclua nas conversas a situação das colinas do Golã, tomadas por Israel na Guerra dos Seis Dias, em 1967.
Numa tentativa de alavancar o papel de Abbas como representante legítimo dos palestinos, o governo israelense aprovou ontem o envio de um carregamento de munição e 25 veículos blindados para a força de segurança palestina na Cisjordânia, região cujas fronteiras são controladas por Israel.


Com agências internacionais e o "New York Times"


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