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Brasil convoca embaixador em Quito
Medida, forte em termos de diplomacia, é primeira reação à decisão equatoriana de não pagar empréstimo ao BNDES
Para Celso Amorim, ação do governo Correa surpreende, é inamistosa e prejudica
integração; equatorianos não haviam respondido
Alex Almeida/Folha Imagem
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Amorim (segundo à esq. à mesa) vê o governador José Serra cumprimentar Lula em evento sobre biocombustíveis em São Paulo
AGNALDO BRITO
DA REPORTAGEM LOCAL
FABIANO MAISONNAVE
DE CARACAS
O governo brasileiro anunciou ontem, em São Paulo, a
convocação para consultas do
embaixador Antonino Marques Porto, chefe do corpo diplomático do Brasil em Quito.
A medida, que representa um
gesto hostil da diplomacia, rebaixa a representação oficial no
Equador.
Segundo ministro de Relações Exteriores, Celso Amorim,
o gesto é um protesto do Brasil
pela decisão unilateral do presidente equatoriano Rafael
Correa de recorrer a Corte Internacional de Arbitragem de
Paris para suspensão do pagamento de uma dívida de US$
243 milhões com o BNDES
(Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social).
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que participou ontem do encerramento da Conferência Internacional de Biocombustíveis, em São Paulo,
não quis comentar o assunto.
"Sobre o Equador, o Celso
[Amorim] já falou. A minha palavra é a palavra do ministro. O
que o Celso disse foi exatamente o que eu ia dizer", afirmou.
O empréstimo ao Equador
foi concedido pelo banco para a
construção da hidrelétrica San
Francisco, obra da construtora
brasileira Norberto Odebrecht
contratada pelo governo equatoriano paralisada um ano depois de iniciar a operação devido a problemas estruturais.
Amorim disse que recebeu a
informação do governo equatoriano "com muita preocupação", além de ter considerado a
atitude pouco amistosa. "A decisão foi anunciada em evento
público, sem prévia consulta
nem notificação ao governo
brasileiro. Nós achamos que a
natureza e a forma da adoção
dessa medida não se coadunam
com a relação de amizade, espírito de diálogo e a cooperação
ampla que existe entre os governos do Brasil e do Equador."
O ministro não quis antecipar quais medidas de retaliação
poderão ser adotadas, mas deu
indicações de que todos os
acordos de cooperação poderão
ser afetados. "A primeira providência é essa, o embaixador
brasileiro em Quito está sendo
chamado para consultas. Quem
conhece as práticas diplomáticas sabe exatamente o que isso
significa. Eventualmente [tomaremos] outras. Temos uma
ampla cooperação com o Equador e vamos examinar essa cooperação com a luz dessas decisões [do governo do Correa]."
Amorim classificou o episódio de "sério" e disse que a decisão do Itamaraty é a primeira
em anos. "Acho que [a convocação do embaixador] fala por si
só. Acho que vamos examinar
com a seriedade devida um fato
que de alguma maneira não
corresponde com o que achamos que devem ser as relações
entre dois países amigos. Repito, não só pela natureza da medida, mas também pela forma
como foi tomada", explicou.
Segundo ele, o Brasil está
sempre "aberto ao diálogo", como mostram outros casos recentes. Foi o que ocorreu com
as decisões do governo boliviano contra instalações da Petrobras. "O governo brasileiro -e
muitas vezes a política externa- foi até criticada por uma
atitude, digamos, de compreensão em relação a certas situações. Nós achamos que agimos
corretamente em todas as outras ocasiões do passado em
que revelamos essa compreensão, porque isso era bom para o
Brasil, para a integração."
O chanceler também vê prejuízo à integração: "Nenhuma
dessas ações unilaterais contribui para a integração. O Brasil
tem procurado trabalhar da
maneira mais construtiva".
Logo após as declarações de
Amorim, o Itamaraty divulgou
uma nota confirmando a retirada do embaixador brasileiro.
Equador
A decisão brasileira pegou de
surpresa a Chancelaria equatoriana, segundo uma fonte diplomática do país ouvida pela
Folha. Durante todo o dia de
ontem, nenhum membro do
governo Correa se pronunciou
sobre o assunto -uma nota oficial seria emitida à noite.
Durante toda a crise, porta-vozes do governo Correa negaram haver crise diplomática
com o Brasil e insistiram em
que se tratava de um problema
comercial entre o Estado equatoriana e uma empresa privada.
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