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Ditador turcomeno morre e abre debate por reservas de gás
Turcomenistão tem a 5ª maior reserva do combustível; Niyazov, que proibiu até circo, impôs culto à personalidade
Especialistas crêem que EUA
e Rússia disputarão o poder
de influir sobre o gás que já
supre a Ucrânia; sucessão
atropela Constituição local
DA REDAÇÃO
O ditador do Turcomenistão,
país da Ásia Central que é depois da Rússia o maior exportador de gás natural, morreu ontem aos 66 anos. Especialistas
acreditam que a sucessão de
Saparmurat Niyazov abra conflitos entre partidários de Moscou e de Washington.
Niyazov construiu em 21
anos um sistema político fechados, com a adoção do culto à
personalidade e a proibição de
circos, óperas e balés e uma reforma do calendário em que o
mês de janeiro passou a ter o
nome dele [leia texto ao lado].
Em Washington, um dos porta-vozes da Casa Branca disse
que o presidente George W.
Bush disse esperar que continuem a se expandir as relações
bilaterais e que seu sucessor
permita "justiça e oportunidade" para os turcomenos.
Em Moscou, o ministro do
Exterior, Serguei Lavrov, afirmou ter esperança de que a sucessão "se dê de acordo com as
leis" e se preserve a continuidade das relações bilaterais.
Atrelada à política energética
da ex-União Soviética, a produção turcomena de gás é quase
toda exportada à estatal russa
Gazprom, que a repassa à Ucrânia e assim libera aos russos a
possibilidade de fornecer o
combustível à União Européia.
Saparmurat Niyazov não tinha um sucessor designado,
embora sua saúde inspirasse
cuidados depois de uma cirurgia cardíaca a que se submeteu
em 1997, na Alemanha. Ele
morreu do coração, segundo
comunicado divulgado em
Achkhabad, a capital do país.
A Constituição prevê que,
com o impedimento do presidente, assuma interinamente o
primeiro-ministro. Mas o cargo
também era exercido pelo ditador. O segundo na linha sucessória, o presidente do Parlamento, Overzgeldy Atayev, foi
descartado porque, em comunicado insólito, informou-se
ontem que ele estava sendo
processado por corrupção.
Quem assumiu foi o vice-primeiro-ministro, Kurbanguly
Berdymukhamedov, 49, também indicado para presidir os
funerais, marcados para domingo. Ele é dentista e já foi ministro da Saúde. Era considerado um fiel seguidor do ditador.
Eldar Namazov, analista baseado no Azerbaijão, disse ser
"óbvio que uma guerra de influências começará entre a
Rússia e os EUA", com a séria
possibilidade de o Irã e o mundo islâmico tentarem ampliar
seu espaço político.
Um dirigente da Gazprom,
não identificado, disse à Reuters que está aberta uma disputa pesada pelo poder, opondo o
grupo pró-Rússia ao que defende uma abertura maior ao comércio com os americanos.
A mesma agência cita um diplomata europeu em Moscou,
para quem qualquer mudança
abrupta no circuito de comercialização do gás teria um impacto imediato na Ucrânia e,
em conseqüência, no combustível que os russos exportam
para a União Européia. "Seria a
queda das pedras de um jogo de
dominó", disse o informante.
Eduard Poletayev, analista
político do Cazaquistão, disse
ser possível que o islamismo
militante procure expandir sua
influência regional por meio do
vizinho Afeganistão. Seria a
substituição da intransigência
ideológica pela religiosa.
Em Londres, Shirin Akiner,
especialista em Ásia Central no
Instituto Real de Relações Internacionais, também acredita
no mesmo risco islâmico.
O ditador morto reafirmava
sua política de neutralidade.
Mas aderiu indiretamente à
"guerra ao terrorismo" dos Estados Unidos, ao permitir que
seu território fosse sobrevoado
por aviões da Otan que operam
em território afegão.
Niyazov não admitia partidos de oposição. Sua última
eleição, em 1991, deu-lhe 99,5%
dos votos. No plebiscito em que
obteve o cargo vitalício, três
anos depois, recebeu 99,9%.
Os oposicionistas estão presos ou no exílio. Um deles, Parakhad Yklymov, afirmou na
Suécia que "em algumas horas"
estaria de retorno. Em Moscou,
Bairam Shikhmuradov afirmou
esperar garantias de que a oposição poderá atuar.
Com agências internacionais
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