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Chávez quer preços distintos para gasolina
Venezuelano afirma que ricos e pobres devem pagar valores diferentes pelo produto, hoje vendido a cerca de R$ 0,08 o litro
Analistas vêem proposta do presidente como inviável; congressista afirma que dinheiro extra deve ir para conselhos comunitários
FABIANO MAISONNAVE
ENVIADO ESPECIAL A CARACAS
Acostumado a anunciar medidas simpáticas à população
mais pobre, a decisão do presidente venezuelano, Hugo Chávez, de aumentar a gasolina -a
mais barata do mundo- tocou
num tema sensível e somou
mais uma incerteza sobre como
o governo implantará sua reforma econômica, baseada no
aumento do controle pelo Estado da economia e na dependência do preço do petróleo.
A maior dúvida sobre o primeiro aumento da gasolina em
quase nove anos é a forma como Chávez quer implantá-lo:
com um preço diferenciado para ricos e pobres. Quem vai pagar mais "é o que tem o BMW
ou uma tremenda camionete",
disse o presidente em seu programa de TV, domingo.
"O preço da gasolina é baixíssimo, e nosso governo vem subsidiando o consumo. Mas quem
utiliza a gasolina não é a maioria, que não tem veículos automotores. Está sendo proposto o
reajuste buscando mecanismos
para que o transporte coletivo
não seja afetado", disse à Folha
Ricardo Sanguino, presidente
da Comissão de Finanças da
Assembléia Nacional e porta-voz econômico de Chávez.
Sem reajustes desde junho
de 1997, a gasolina venezuelana
custa entre R$ 0,07 e R$ 0,09 o
litro. Encher um tanque de 50
litros sai por cerca de R$ 4.
Mesmo com preço baixo, o
aumento da gasolina é um tema historicamente delicado na
Venezuela. Em 1989, no governo Carlos Andrés Perez, o
anúncio de um aumento perto
de 50% gerou protestos e saques na capital e em outras cidades, duramente reprimidos.
O episódio, conhecido como
"Caracazo", deixou centenas de
mortos, quase todos em bairros
pobres hoje convertidos em redutos do chavismo.
Impostos e petróleo
"Os venezuelanos têm uma
mentalidade própria sobre o
petróleo", afirma o analista José Grasso Vecchio. "Como o
país tem tanto petróleo, sentimos que a gasolina deve ser
presenteada pelo governo."
Para Grasso, a proposta de
separar preços para ricos e pobres é praticamente inviável.
"Não há como separar mais os
tipos de gasolina, já que nenhuma mais vem com chumbo."
Segundo Sanguino, nem o
aumento da gasolina nem o de
impostos sobre bens de luxo e
bancos, também anunciado vagamente por Chávez anteontem, serão uma compensação
para o governo venezuelano
por causa da queda recente do
petróleo. "Nosso Orçamento
contempla o valor do barril de
petróleo de US$ 29 [ontem, o
barril fechou a US$ 51]. Temos
oferta suficiente para poder cobrir qualquer ajuste", afirmou.
"Esse aumento de tributo vai
para os conselhos comunitários", afirmou. Em 2007, o Orçamento dos conselhos é de
cerca de R$ 2,9 bilhões, previsão que, segundo ele, pode subir com "reajustes adicionais".
Segundo Grasso, o cálculo do
Orçamento oficial esconde um
elevado gasto público cada vez
maior e mais dependente do
petróleo, financiado pelos "reajustes adicionais", que não são
divulgados. Por isso, diz o analista, com a nova Lei Habilitante Chávez deve buscar o aumento tributário para compensar a queda do preço do barril.
A Lei Habilitante, que deve
ser aprovada hoje em segunda
votação pela Assembléia Nacional, dá a Chávez o poder de
legislar por decreto. O governo
estima emitir de 45 a 60 novas
leis dessa forma nos próximos
três meses.
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