São Paulo, sexta-feira, 23 de janeiro de 2009

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SOB NOVA DIREÇÃO / PONTOS QUENTES

Governo terá enviados para conflitos

George Mitchell tratará de questão israelo-palestina; presidente reitera apoio a direito de defesa de Israel

Democrata indica ainda Richard Holbrooke como emissário para Paquistão e Afeganistão; política de enviados repete Clinton

ANDREA MURTA
DE NOVA YORK

O presidente Barack Obama se moveu ontem para lançar o propagado novo esforço diplomático dos EUA, anunciando enviados especiais para dois dos pontos de conflito no planeta que envolvem interesses americanos. Obama e a nova secretária de Estado, Hillary Clinton, oficializaram George Mitchell como emissário americano para o Oriente Médio e Richard Holbrooke como representante especial para o Paquistão e o Afeganistão.
A nomeação dos enviados traz ecos das políticas do governo do marido de Hillary, Bill Clinton (1993-2001), que se apoiou em vários enviados diplomáticos. A ideia foi abandonada por George W. Bush, que preferiu deixar o fardo sobre seus secretários de Estado.
No discurso de ontem no Departamento de Estado, Obama foi cauteloso sobre a situação no Oriente Médio: reiterou seu compromisso com a criação do Estado palestino enquanto defendeu Israel em relação à recente ofensiva contra o grupo islâmico Hamas em Gaza. "Deixe-me ser claro: os EUA estão comprometidos com a segurança de Israel e concordamos com seu direito de se defender", afirmou.
A fala ofereceu pouco vislumbre de mudança na política americana para a região, ao menos no curto prazo. Obama mencionou como interlocutor para Gaza o governo desgastado do presidente da Autoridade Nacional Palestina, Mahmoud Abbas, cuja presença e controle estão limitados à Cisjordânia.
Os sinais de continuidade do isolamento do Hamas aumentaram quando Obama afirmou que apoia a organização de conferência emergencial de doadores para enviar assistência humanitária a Gaza -mas que a ajuda seria entregue à ANP.
Ele também manteve as exigências tradicionais para negociações com o Hamas -abandono à violência, reconhecimento da existência de Israel e respeito a acordos passados- e exigiu que o grupo pare de disparar foguetes contra Israel.
Ao mesmo tempo, deu um passo à frente ao afirmar que as fronteiras de Gaza devem ser abertas para a entrada de ajuda e comércio. Mas acrescentou que haverá "esforço especial para evitar que o Hamas volte a se armar contrabandeando armas pelas fronteiras".
A posição foi reforçada por Hillary, que, no primeiro dia no posto, fez seus primeiros telefonemas para Abbas e o premiê israelense, Ehud Olmert.
Hillary e Obama disseram que Mitchell será enviado ao Oriente Médio o mais rápido possível e terá "poder total na mesa de negociações". Mitchell, que foi líder democrata no Senado, é conhecido por ter ajudado a fechar o acordo de paz na Irlanda do Norte. É considerado por analistas moderado e menos pró-Israel do que a maioria de seus antecessores.

Desafio asiático
Sobre a tarefa de seu segundo emissário, Richard Holbrooke, Obama prometeu uma estratégia "completa" para combater a insurgência do grupo fundamentalista Taleban no Afeganistão, que disse ter "firmado raízes profundas" no país. Ele prometeu uma grande revisão da política para a guerra afegã -desde a campanha ele diz que tornará o Afeganistão, onde os EUA têm hoje 35 mil soldados, carro-chefe da guerra ao terror.
Holbrooke é um diplomata com décadas de experiência e foi embaixador na ONU sob Clinton. É credenciado por sua participação no Acordo de Dayton, que encerrou a guerra na Bósnia (1992-1995). Mas seu papel foi controverso: é acusado de ter feito um acordo com um ex-líder sérvio responsável por massacres, retirando a denúncia contra ele sob a condição de que desaparecesse da vida pública. Holbrooke diz que a acusação é "absurda".
O novo enviado procurou mostrar sensibilidade ao tratar do Paquistão e do Afeganistão -"dois países muito diferentes, mas interligados pelo drama recente". Acredita-se que Osama bin Laden e outros membros da rede terrorista Al Qaeda estejam escondidos em montanhas paquistanesas próximas à fronteira afegã.


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