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SOB NOVA DIREÇÃO / O NÓ DO ORIENTE MÉDIO
Questão palestina impõe escolhas difíceis
Governo Obama terá que decidir se apoia governo de união nacional ou se mantém política de isolamento total do Hamas
Divisão da liderança dos palestinos é empecilho para negociações com Israel e dificulta iniciativas para ajudar reconstrução de Gaza
STEVEN ERLANGER
DO "NEW YORK TIMES", EM JERUSALÉM
Com o domínio do Hamas
em Gaza aparentemente incontestado, e sua popularidade
crescendo na Cisjordânia, o governo Obama terá que fazer
uma escolha: apoiar um governo palestino de união, como
querem o Egito e o presidente
da Autoridade Nacional Palestina (ANP), Mahmoud Abbas,
ou continuar a isolar o Hamas e
a concentrar-se em reforçar a
Cisjordânia como alternativa
política ao islã radical.
A questão é urgente devido
ao esforço internacional para
reconstruir Gaza e ao mesmo
tempo tentar evitar que o Hamas fique com o crédito pela
reconstrução, como fez o Hizbollah no sul do Líbano após a
guerra de 2006. Mas a escolha é
mais fundamental que isso. Ela
vai ao cerne do que o presidente Barack Obama poderá realizar num processo de paz israelo-palestino quando o lado palestino continua dividido.
Em telefonemas a líderes do
Oriente Médio, na quarta, Obama não revelou para qual lado
pende. [No pronunciamento de
ontem à tarde, ele pareceu mais
inclinado a prosseguir no isolamento do Hamas, como quer
Israel, embora tenha pedido
que o país aliado abra as fronteiras de Gaza à ajuda humanitária e ao comércio].
Mas especialistas no Oriente
Médio estão ansiosos para ouvir se o governo Obama vai tentar criar um governo palestino
unificado e digno de crédito
que possa negociar e implementar um relacionamento de
Estado para Estado com Israel,
a essência da chamada solução
de dois Estados que vem dominando as negociações de paz.
"Este é um momento de escolhas difíceis, em que nenhuma das abordagem dominantes
apresenta vantagens evidentes", disse Gidi Grinstein, do
Instituto Reut, em Tel Aviv.
"Obama está sendo pressionado a optar por um governo palestino de união nacional e um
acordo abrangente. Mas seria
um erro empurrar a solução de
dois Estados a um momento da
verdade quando, do lado palestino, estão ocorrendo tanto
uma guerra civil quanto uma
crise constitucional profunda."
Realidade
O Egito, a Arábia Saudita e
até mesmo alguns setores em
Israel são a favor de um governo de união nacional que possibilite que a ANP seja vista como
encarregada, pelo menos teoricamente, da reconstrução de
Gaza. Mas, mesmo que seja
possível superar as rivalidades
entre Hamas e o grupo secular
Fatah, de Abbas, que controla a
Cisjordânia, um acordo quase
certamente implicaria em eleições antecipadas, que o Fatah
muito possivelmente perderia.
A questão essencial, e não pela primeira vez, é se Israel e o
Ocidente devem encarar o Hamas como uma realidade, na
esperança de que o poderio militar e a realidade política de Israel superem a convicção religiosa do grupo de que Israel
precisa ser destruído, ou se devem continuar a isolar o Hamas, na esperança de que o Fatah possa ser reativado.
O presidente francês Nicolas
Sarkozy sugeriu que a França
trataria com o Hamas como
parte de um governo de unidade nacional que rejeitaria o uso
da violência. Mas montar tal
governo não será fácil, e o Hamas já declarou que suas exigências vão incluir a soltura dos
prisioneiros políticos do Hamas na Cisjordânia. "O Hamas
sente que emergiu invicto e popular entre palestinos e árabes", disse Khalil Shikaki, analista palestino. "As declarações
da França o encorajam."
O Hamas não mais reconhece a autoridade de Abbas, cujo
mandato de quatro anos terminou em 9 de janeiro, mas que
ele insiste que foi estendido sob
procedimentos de emergência.
Abbas já propôs a realização
de eleições conjuntas para seu
cargo e para o Legislativo, que o
Hamas conquistou em eleições
livres em 2006. Mas ele quer
mudar as regras eleitorais para
beneficiar o Fatah, transformando o voto distrital em voto
proporcional.
O Hamas rejeita eleições para deputados antes do término
dos atuais mandatos, daqui a
um ano. Mas, se aceitasse eleições antecipadas como parte de
um acordo, poderia conquistar
a Presidência, disse Zakariya al
Qaq, cientista político da Universidade Al Quds, em Jerusalém, que vê Abbas como força
que já se exauriu.
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