São Paulo, domingo, 23 de janeiro de 2011

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FOCO

Debates no Senado espanhol serão feitos em cinco línguas

GILES TREMLETT
DO "GUARDIAN"

O Senado da Espanha gerou polêmica ao autorizar debates nas cinco línguas distintas do país, com intérpretes convertendo suas palavras em um idioma que todos falam perfeitamente: o espanhol castelhano.
Para críticos, a iniciativa de permitir que os senadores falem em catalão, galego, valenciano e basco converteu a Casa em uma torre de Babel.
Eles acusam o Senado de desperdiçar dinheiro público, num momento de cortes.
O primeiro a fazer uso da prerrogativa foi o socialista Ramon Aleu, que falou em catalão. Sua decisão obrigou outros senadores a colocar seus fones de ouvido e ouvir intérpretes convertendo suas palavras no castelhano que o próprio Aleu usara em discursos anteriores.
De acordo com a mídia espanhola, os 25 intérpretes necessários para converter as diferentes línguas em castelhano custam ao Senado € 12 mil por dia (R$ 27 mil), ou € 350 mil por ano (R$ 795 mil).
"Desde ontem, os mesmos parlamentares que ainda conversam entre si nos corredores em uma língua que todos compartilham passaram a precisar de intérpretes para entender uns aos outros no Senado", escreveu o jornal "El Mundo" em editorial.
Mas os senadores a favor da medida argumentam que a Casa deve representar as regiões da Espanha e que as novas línguas são aceitas como oficiais em quatro delas.
Não é de hoje que as línguas regionais espanholas provocam discórdia. Há décadas se discute quais devem ser usadas por professores nas escolas ou universidades e em que idioma devem ser escritos desde placas de lojas até nomes topográficos.
O fato de alguns governos regionais exigirem que seus funcionários públicos falem tanto o castelhano quanto a língua local os leva a serem acusados de discriminação contra espanhóis oriundos de outras regiões.
Pesquisa da União Europeia em 2005 constatou que 11% dos espanhóis -5 milhões de pessoas- definem sua língua-mãe como sendo uma das regionais; 9% falam catalão ou valenciano, 5% falam galego e 1% falam o idioma basco.
Existem vários outros idiomas na Espanha que não serão usados no Senado.
A preocupação com as línguas minoritárias coincide com um confronto crescente entre o governo nacional do premiê socialista José Rodríguez Zapatero e os governos regionais de viés mais independentes, especialmente o da Catalunha.
"Há uma fobia crescente que escolhe os governos regionais -tendo a Catalunha à frente- como bodes expiatórios da crise", escreveu Enric Juliana, colunista do catalão "La Vanguardia".


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