São Paulo, sexta-feira, 23 de fevereiro de 2007

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Irã ampliou programa nuclear, diz AIEA

Relatório da agência de energia atômica confirma que Teerã ignorou prazo da ONU e aumentou enriquecimento de urânio

EUA defendem aplicação de novas sanções, mas eficácia da iniciativa é questionada pela Rússia; Irã diz que prazo da ONU carece de base legal

DA REDAÇÃO

O Irã ignorou o prazo de 60 dias dado pelo Conselho de Segurança das Nações Unidas para que suspendesse seu programa de enriquecimento de urânio, apesar das sanções aprovadas pelo órgão em dezembro para forçar o país a suspender seu programa nuclear.
A conclusão, já esperada, está no relatório divulgado pela Agência Internacional de Energia Nuclear da ONU (AIEA) ontem, um dia após o vencimento do prazo. De acordo com a agência, em vez de suspender o seu programa de enriquecimento de urânio o Irã decidiu ampliá-lo, com a instalação de duas novas redes de 164 centrífugas na planta subterrânea de Natanz (ao norte de Teerã).
A recusa do Irã em cumprir o prazo da ONU pode levar à aplicação de mais sanções contra o país. O governo dos Estados Unidos, que intensificou sua retórica contra Teerã nas últimas semanas, acusando o regime islâmico de apoiar os insurgentes xiitas no Iraque, classificou o descumprimento de "uma oportunidade perdida".
Tom Casey, porta-voz do Departamento de Estado americano, disse que o conselho de Segurança deve agora considerar a aplicação de novas sanções, além das que visaram o programa nuclear do Irã e seus mísseis, em dezembro.
Outras fontes do governo americano disseram a agências de notícias que Washington estudará formas unilaterais de pressionar Teerã caso os membros do Conselho não aprovem novas sanções.

Transparência
O relatório de seis páginas da AIEA, assinado pelo chefe da agência, o egípcio Mohamed el Baradei, afirma que "o Irã não suspendeu as atividades relacionadas ao enriquecimento de urânio" e não permitiu o escrutínio necessário para determinar se seu programa nuclear tem fins pacíficos.
"O Irã não permitiu nenhuma das medidas de transparência exigidas, que são essenciais para o esclarecimento de certos aspectos da dimensão e natureza de seu programa nuclear", diz o relatório, segundo o qual o Irã ampliou seu programa de enriquecimento de urânio, que passou do "nível de pesquisa" para o de "escala industrial".
Duas redes, de 164 centrífugas cada uma, foram instaladas na planta de Natanz, afirma o relatório, e duas outras estão próximas de serem concluídas.
O documento prevê que 3.000 centrífugas serão instaladas no Irã nos próximos meses. A agência internacional reporta ainda que o Irã está construindo um reator de água pesada, em mais um desafio às exigências da ONU.
Ao ignorar o prazo da ONU, Teerã reafirma seu repúdio à proposta feita no ano passado por seis potências, que consistia na oferta de cooperação econômica em troca da suspensão de seu programa de enriquecimento de urânio.
Teerã afirma que seu objetivo é a produção de energia, mas os EUA e outros países suspeitam que o projeto se destina a fabricar armas atômicas.
A reação iraniana ao novo relatório da AIEA foi, mais uma vez, de desafio. Mohammad Saeedi, número dois da Organização de Energia Atômica do Irã, disse que o país continuará a ignorar a determinação da ONU para que congele suas atividades nucleares porque ela "carece de base legal".
Diplomatas de EUA, Reino Unido e França indicaram ontem que seus governos farão esforços para que sejam aplicadas sanções adicionais, incluindo a proibição a viagens de autoridades iranianas e restrições financeiras, como o congelamento de bens no exterior.
Mas o endurecimento deve esbarrar na posição dos outros dois membros do Conselho de Segurança, Rússia e China, que têm laços políticos e comerciais com Teerã. Ontem, o embaixador russo na ONU, Vitaly Churkin, mostrou-se contrário à aprovação de novas sanções e defendeu "uma solução política" para o impasse.


Com agências internacionais


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