São Paulo, sábado, 23 de fevereiro de 2008

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No 1º artigo pós-renúncia, Fidel ataca críticas dos EUA e da UE

DA REDAÇÃO

Em seu primeiro artigo após a renúncia a cargos no Executivo de Cuba, o ditador Fidel Castro afirmou ontem que é preciso, sim, promover mudanças -mas não na ilha. "Concordo, mudança! mas nos Estados Unidos. Cuba mudou há pouco tempo (...)", afirmou, em alusão à revolução de 1959. E completou: "Não regressar jamais ao passado!"
O texto no jornal estatal "Granma" foi uma resposta às críticas dos EUA e da União Européia, que aproveitaram sua renúncia para defender uma abertura democrática na ilha. Fidel diz que não planejava escrever por dez dias, mas foi preciso "abrir fogo ideológico".
O líder falou diretamente aos pré-candidatos à Casa Branca. O mais duro quanto às relações EUA-Cuba, o republicano John McCain, chegou a dizer ontem que torce pela morte de Fidel: "Espero que ele tenha a oportunidade de se encontrar com Karl Marx logo".
Já os democratas Hillary Clinton e Barack Obama adotaram tom mais conciliatório. Obama se mostrou o mais aberto a um diálogo, afirmando que se encontraria com Raúl Castro (líder interino) sem precondições. Já Hillary quer de Cuba demonstrações de mudança concreta antes de uma reunião.
Para Fidel, a posição dos pré-candidatos é vergonhosa. "Se viram obrigados, um a um, a proclamar suas imediatas exigências a Cuba, para não se arriscarem a perder nem um único eleitor." E não deixou de fora das críticas o presidente George W. Bush. Segundo Fidel, o que querem seus adversário quando pedem mudança é, na realidade, "anexação".
O líder cubano também desferiu ataques à União Européia. Contra as afirmações dos países do bloco sobre a necessidade de democracia em Cuba, ele diz que "o colonialismo e o neocolonialismo (...) os desqualifica moralmente" para exigi-lo.
Fidel faz ainda referências a um "ilustre personagem espanhol, antigo ministro da Cultura e impecável socialista, hoje porta-voz das armas e da guerra, a falta de razão pura".
"Kosovo os golpeia neste instante como impertinente pesadelo", acrescenta. A referência parece ser a Javier Solana, chefe da diplomacia da UE e antigo membro do Partido Socialista Operário Espanhol (PSOE). A Espanha não apóia a independência de Kosovo, mas como um dos porta-vozes da UE, Solana defende a missão do bloco de apoio à ex-Província.

Transição
Fidel ainda explica a dimensão de sua renúncia no artigo. "Não são a mesma coisa o fim de uma etapa e o início do fim de um sistema insustentável."
O líder da revolução também afirma que não se arrepende da decisão. "Os dias de tensão, esperando a chegada do 24 de fevereiro [domingo, quando a nova Assembléia Nacional apontará seu sucessor], haviam me deixado exausto."
A conquista da tranqüilidade pode indicar no texto o momento em que se decidiu o nome do próximo chefe de Estado -ainda um segredo. Os mais cotados são Raúl Castro, presidente interino, Carlos Lage, vice-presidente, Ricardo Alarcón, que lidera o Parlamento.
O artigo no "Granma" trocou o título habitual de "Reflexões do Comandante" por "Reflexões do Companheiro Fidel".


NA INTERNET -Leia a íntegra do artigo de Fidel na Folha Online www.folha.com.br/080535


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