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ONDA DE REVOLTAS
Brasileiros relatam caos e se queixam de ação do governo
Chancelaria tenta autorização da Líbia para resgate por navio;
barco contratado pela Queiroz Galvão pode chegar até amanhã
Para mineiro que voltou ao Brasil, a situação de Trípoli é insustentável; jornalista com parentes no país critica Itamaraty
DE SÃO PAULO
Brasileiros que estiveram
na Líbia nos últimos dias ou
têm parentes no país falaram
à Folha sobre o caos nas ruas
de cidades como Trípoli e se
queixaram do Itamaraty.
O mineiro Felipe Carvalho,
que trabalha numa empresa
portuguesa na Líbia e voltou
ao Brasil pela Lufthansa ontem, chamou de "insustentável" a situação da capital.
Carvalho afirmou ter visto
helicópteros militares sobrevoando Trípoli, mas não presenciou bombardeios à cidade. "Diversos escritórios oficiais foram incendiados.
Uma delegacia a 600 metros
da minha casa estava em
chamas quando saímos."
Heron Ferreira, 52, treinador do Al Ahly, principal time de futebol da Líbia, disse
que espera deixar Trípoli hoje com a mulher e a filha de
seis anos. Segundo Ferreira,
elas conseguiram comprar
passagem da Alitalia para
Roma, com mais 20 brasileiros. Ele seguirá para o Cairo.
"Está tudo fechado e começou a escassez de gasolina. Ouvimos estouros, bombas, rajadas de tiros. Não dá
para sair. Todo dia, das 16h
às 9h, há toque de recolher."
A jornalista Mariana Hansen, 27, que mora no Rio, tem
quatro familiares em Benghazi -seu pai, Roberto Moreira, 52, gerente da Queiroz
Galvão, a madrasta e dois irmãos. Eles estão numa casa
com cerca de 50 pessoas.
Ontem Mariana conseguiu
falar com a irmã adolescente,
Marina, 16, que lhe disse que
o clima estava mais calmo.
"A população tomou conta
da cidade, limpa as ruas e remove os carros queimados."
A jornalista, porém, se diz
preocupada com as atitudes
do ditador Muammar Gaddafi e se queixa do Itamaraty,
de cujas negociações com a
Líbia depende o resgate.
"Tenho me movimentado
na internet para pressionar o
governo a tomar uma atitude. Por que outros países já
conseguiram resgatar as pessoas e a gente ainda não?"
RETIRADA POR BARCO
O Itamaraty tenta obter autorização da Líbia para que
navios atraquem em Trípoli e
Benghazi e retirem os funcionários brasileiros de empresas como Queiroz Galvão e
Odebrecht. Há dificuldade de
pouso no aeroporto de Trípoli, e a pista do de Benghazi foi
destruída durante conflitos.
Segundo a Chancelaria, já
há um barco contratado pela
Queiroz Galvão cujo objetivo
é chegar à Líbia entre amanhã e quinta-feira e levar os
brasileiros à ilha de Malta.
À tarde, o chanceler brasileiro, Antonio Patriota, informou que o Brasil contatara
empresas italianas de navegação; sua colega da França,
Michèle Alliot-Marie, ofereceu ajuda para a retirada.
Em comunicados, Queiroz
Galvão e Odebrecht, que somadas empregam cerca de
310 brasileiros na Líbia, disseram que estão tomando todas as providências para resgatar seus empregados.
O presidente da Petrobras,
José Sergio Gabrielli, disse
que a estatal também retirará
os sete funcionários que
mantém no país: "Não vou
revelar o plano pela imprensa. Quando executar, aviso".
(JEFFERSON PUFF, MARCEL MERGUIZO E ROGÉRIO ORTEGA)
Colaboraram Porto Alegre e Brasília
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