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EUROPA
Para Cohn-Bendit, atual protesto é o oposto do movimento que ele liderou
Ex-líder nega comparação com 68
MARTIN ARNOLD
DO "FINANCIAL TIMES", EM PARIS
A onda de passeatas e confrontos que se espalha pela França é
algo oposto ao que ocorreu naquele país em Maio de 1968, afirma Daniel Cohn-Bendit, o principal dirigente do movimento que
eclodiu há quase 40 anos.
Hoje deputado pela Alemanha
no Parlamento Europeu -nascido na França, tem dupla nacionalidade- e um dos líderes da bancada dos Verdes, ele diz que Maio
de 68 apresentava uma "visão positiva", enquanto as atuais manifestações contra a lei do primeiro
emprego refletem "um mal-estar
profundo" da sociedade francesa.
Nascido em 1945, ele estava para
completar 23 anos quando, nos
desdobramentos da tentativa de
sua expulsão da Universidade de
Nanterre, os estudantes ocuparam a reitoria e desencadearam
um movimento que rapidamente
se alastrou para a Sorbonne e paralisou toda a França.
Cohn-Bendit, apelidado na época de "Danny, o Vermelho", liderava o Movimento 22 de Março,
pequeno grupo de militantes restrito à universidade do subúrbio
parisiense de Nanterre, que misturava marxismo, anarquismo e
uma plataforma meio difusa de liberdade sexual.
Ele disse ao "Financial Times"
que a revolta estudantil daquela
época era "ofensiva" e se baseava
na luta pela ampliação da liberdade, em contraste com as manifestações de agora, a seu ver "defensivas", por mais que tenham sido
capazes de colocar na rua mais de
1 milhão de pessoas.
O hoje eurodeputado acredita
que os protestos de 1968 foram
uma reação aos valores morais repressivos impostos por gerações
anteriores. Esse componente não
está mais presente hoje em dia.
"O que se tem é uma sociedade
cansada de seus quadros dirigentes", afirma. O primeiro-ministro
Dominique de Villepin "enfrenta
uma grave crise política", com
uma juventude que possui uma
visão negativa sobre o futuro.
"Maio de 1968 foi, ao contrário,
um movimento ofensivo, com
uma visão de futuro positiva."
Agora, está na defensiva "uma geração temerosa e insegura com
relação a mudanças".
Ele acredita que os primeiros
sintomas do desencanto dos franceses com o sistema político se
manifestou em 2002, quando o líder da extrema-direita, Jean-Marie Le Pen, provocou um choque
planetário ao se classificar para o
segundo turno da disputa presidencial. Havia nesse resultado,
diz Cohn-Bendit, o medo dos desafios e da globalização.
Outro sintoma ocorreu no ano
passado, com a revolta em subúrbios franceses dos jovens muçulmanos sem perspectiva de integração à sociedade francesa.
Tudo isso compõe um quadro
do qual também faz parte a vitória
do "não" no plebiscito francês sobre a Constituição Européia, no
ano passado. Os franceses não rejeitavam a Europa, diz o eurodeputado. Eles reagiram contra a
globalização, que interpretam como uma ameaça à autonomia do
Estado francês.
O próprio establishment francês reage dessa forma, como a recente decisão da Assembléia Nacional de proteger as empresas
francesas contra tentativas de
compras por grupos estrangeiros.
Cohn-Bendit não leva a sério os
apelos ao diálogo de Villepin e do
presidente Jacques Chirac sobre a
legislação do primeiro emprego.
Lideranças estudantis e sindicais
resistem a negociar sobre uma lei
impopular.
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