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Funcionário de Bush repreende diplomata argentino por Chávez
Subsecretário de Estado Nicholas Burns diz que comício feito por venezuelano em Buenos Aires não foi "correto"
Surpreendido, embaixador José Octavio Bordón responde que governo não patrocinou evento e que há liberdade em seu país
SÉRGIO DÁVILA
DE WASHINGTON
Nicholas Burns, o número
três na hierarquia do Departamento de Estado dos EUA, fez
uma repreensão pública ao embaixador da Argentina, um fato
inédito entre os dois países nos
atuais mandatos de George W.
Bush e Néstor Kirchner. O diplomata americano fazia, em
evento do Conselho das Américas, balanço da recente viagem
de Bush pela América Latina.
Ao comentar a etapa uruguaia da viagem, Burns afirmou: "Acho que, após uma ou
duas semanas, ficou bastante
eclipsado aquele comício que
aconteceu num estádio de futebol em Buenos Aires". O evento
foi organizado por Hugo Chávez na capital argentina.
Virando-se para José Octavio
Bordón, embaixador da Argentina em Washington, que estava sentado na platéia, Burns
disse: "Lamento que aquele comício tenha acontecido no
mesmo dia em que o presidente
[Bush] estava em Montevidéu.
Não acho que tenha sido a coisa
correta a se fazer. Lamento dizer isso, senhor embaixador,
mas são os sentimentos de todos no nosso governo".
O diplomata já havia citado o
presidente venezuelano em sua
fala e voltaria a fazer isso em
outras ocasiões, chegando mesmo a dizer que os EUA tinham
de responder ao "desafio Chávez". Usou um tom vários pontos acima do adotado recentemente pela Chancelaria dos
EUA, que havia optado durante
a viagem de Bush por ignorar
Chávez como maneira de esvaziar a viagem que ele realizou
ao mesmo tempo na região.
"Chávez tentou seguir o presidente pela América Latina",
disse ele. "O presidente [Bush]
não queimou uma ponte durante sua visita pela região, não
saiu dizendo que a produção de
etanol e os acordos de biocombustíveis são um problema, como Chávez fez", completou.
"Nosso "Camp David"
A resposta de Bordón viria
durante a sessão de perguntas e
respostas que se seguiu. "Tivemos três encontros", começou
o embaixador argentino, referindo-se à visita de Chávez a
Buenos Aires naquele dia. "O
primeiro em nosso "Camp David", em que assinamos acordos
com o presidente da Venezuela
positivos para ambos os países,
dois países com governos eleitos democraticamente."
O segundo encontro reuniu
diplomatas e presidentes de
mais de 20 companhias que estão investindo na Argentina. E
o terceiro, concluiu, "foi organizado no estádio por alguns
partidos políticos não-oficiais".
Para ele, "o presidente Chávez
exerceu a liberdade que vivemos na Argentina".
Burns faria sua tréplica dizendo que Chávez era uma "figura do passado": "Não precisamos de discursos bombásticos". Concluiu dizendo que esperava que a agenda de Buenos
Aires fosse "mais coerente".
Depois, em encontro com
jornalistas, reafirmaria as críticas. "Eu diria que foi infeliz que
este comício tenha acontecido.
Ninguém está falando de livre
expressão, é claro que Chávez
tem o direito de se expressar.
Mas naquele dia?"
Voltaria a dizer: "Esperamos
ter uma relação mais coerentemente amigável com a Argentina, e são necessários os dois
países para que isso aconteça.
Os dois países".
Até ontem à noite, Kirchner
não havia se manifestado sobre
o episódio. Bush não visitou a
Argentina em seu recente périplo. Nicholas Burns esteve em
Buenos Aires há um mês, em visita marcada por queixas públicas de Kirchner a uma carta em
que o embaixador americano
fazia lobby por uma empresa
dos EUA. "Não somos uma republiqueta", disse Kirchner na
época a respeito da carta.
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