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Na Colômbia, Corte desafia governo de conservadores
Tribunal reconheceu direitos de gays e despenalizou o consumo individual de drogas
Juízes também derrubaram medida do presidente Álvaro Uribe que taxava alimentos da cesta básica e permitiram a eutanásia
RAUL JUSTE LORES
ENVIADO ESPECIAL A BOGOTÁ
No país com o governo mais
conservador da América do Sul,
foram aprovados nos últimos
meses o aborto em algumas situações e os direitos de herança
e patrimoniais para casais homossexuais. E um projeto do
governo para aumentar o IVA
(o ICMS local) de produtos da
cesta básica foi proibido.
A Corte Constitucional da
Colômbia tem aprovado direitos civis em temas caros à esquerda tradicional, mas que são
ignorados em países governados pela esquerda na região.
À Folha, o presidente direitista Álvaro Uribe criticou uma
das decisões mais polêmicas da
Corte, que despenaliza o consumo individual de qualquer
droga, desde que não seja em
lugar público: "Temos uma legislação muito tolerante".
Em 1996, a eutanásia foi permitida em certos casos, quando
o paciente tem consciência e
expressa seu desejo de morrer.
"Em um país onde muitos viam
a via revolucionária como única maneira de transformação, a
Constituição de 1991 trouxe
mudanças concretas e ganhou
a batalha da legitimidade", disse à Folha o juiz da Corte Manuel José Cepeda.
"Temos uma Constituição
progressista, que defende o "livre desenvolvimento da personalidade". Desde que não cause
dano a direitos de outros, defende a autonomia pessoal."
Em 2006, o aborto para mães
e fetos em risco, ou em caso de
violência sexual, foi despenalizado. A legislação ficou próxima à brasileira -antes, o aborto era totalmente proibido.
Os juízes já trombaram diversas vezes com projetos de
Uribe, como o que aplicava o
IVA (ICMS) a alimentos da
cesta básica. "Feria o direito à
subsistência", diz Cepeda.
Outro sinal recente da independência da Justiça colombiana é que o outro principal
tribunal do país, a Corte Suprema, pôs vários deputados governistas na cadeia, enquanto
julga vínculos deles com paramilitares. As prisões geraram a
maior crise do governo Uribe.
A última dessas leis, aprovada no mês passado, é a que garante os direitos patrimoniais a
casais homossexuais.
A Constituição de 1991 reconhecia os direitos de casais heterossexuais juntos sem papel
passado. A ONG gay "Colômbia
Diversa" e um grupo de professores e alunos de direito da
Universidade de los Andes entraram com uma ação dizendo
que a regra era inconstitucional e discriminatória.
Por 8 votos a 1, os gays venceram na Corte. O único voto
contrário foi de um juiz que
achava que os gays deveriam
receber mais direitos.
Na Colômbia, a Corte Constitucional julga apenas ações
relacionadas a artigos da Constituição. É superior à Corte Suprema, que julga temas civis,
penais e trabalhistas.
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