São Paulo, domingo, 23 de março de 2008

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Candidato pró-China é eleito em Taiwan

Ma Ying-jeou recebeu 58,4% dos votos por não desejar confronto com Pequim e pregar o reforço de laços econômicos

Governista Hsie, derrotado, alertou que Pequim faria na ilha o mesmo que no Tibete, mas eleitores optaram por melhor relação com a China

DA REDAÇÃO

Taiwan elegeu ontem o primeiro presidente que fez campanha em favor de relações econômicas mais estreitas com a China, abrindo caminho para a diminuição das tensões num dos mais antigos pontos de litígio da Ásia.
Ma Ying-jeou, 57, advogado formado em Harvard e ex-prefeito de Taipé, concorreu pelo oposicionista Partido Nacionalista (o antigo Kuomitang) e derrotou por 58,45% a 41,55%, já encerradas as apurações, o candidato da atual situação, Frank Hsie, do Partido Democrático Progressista.
Já eleito, Ma afirmou que só assinaria um acordo de paz com a China -algo que Pequim ofereceu com condições- se ela parasse de mirar mísseis contra Taiwan. "As relações com a China estão estagnadas, então precisamos priorizar as coisas. Primeiro será a normalização das relações econômicas, depois o acordo de paz."
Pequim considera Taiwan uma Província rebelde. Em 1949, após a vitória do comunismo na China, nacionalistas fugiram para Taiwan e passaram a governá-la.
Hsie, que insistiu na reta final da campanha no perigo representado por Pequim e na repressão chinesa no Tibete, disse que perder a eleição era uma derrota sua. "Sinto muito. Essa não é uma derrota de Taiwan, então não precisam ficar tristes", disse a simpatizantes.
Eleitores afirmaram que votaram em Ma porque o estreitamento das relações econômicas com a China é uma via de acesso ao rápido crescimento econômico que prevaleceu até a década passada. "Se não entrarmos no mercado chinês, permaneceremos fechados em nosso próprio país", afirmou Jason Lin, 41.
As autoridades de Pequim mantêm hoje relações amistosas com o Kuomitang, convidando para freqüentes visitas dirigentes como Lien Chan, candidato derrotado nas presidenciais de 2004 e que defendia a reunificação política.
Ma foi mais cauteloso. Ele esteve em manifestações em homenagem aos mortos da praça Tienanmen (Pequim, 1989), mas nunca defendeu a reunificação. No entanto se disse favorável a vôos regulares com Xangai e Pequim e ao fim das limitações para que empresas possam investir na China.
Porta-vozes do regime chinês não fizeram comentários sobre os resultados da eleição, mas não eram segredo suas preferências.
O cientista político Yen Chen-Shen afirma que "a China tem uma relação de amor e ódio com Ma". Conta que, ao visitar a China, seus interlocutores foram cáusticos contra o presidente eleito. Mas pediram para que ele votasse em Ma.
O governo americano se mostrava frustrado com o atual presidente, Chen Shui-bian, por sua relutância em manter as tensões com a China elevadas. Mas tampouco via com bons olhos os nacionalistas, cujos deputados rejeitaram a compra de armamentos oferecidos por Washington em 2001.
Cheng Tapchen, um dos assessores de Ma, disse que os nacionalistas não receberam informações suficientes do atual presidente para compreender e aprovar as compras de armas.
O presidente George W. Bush disse, em nota: "A eleição dá a oportunidade, para os dois lados, de resolver suas diferenças pacificamente". O Reino Unido, Japão e Cingapura também cumprimentaram Ma.
Ao ser empossado, no próximo dia 20, Ma terá mais liberdade para impor suas políticas. Seu partido e mais duas pequenas siglas a ele associadas elegeram três quartos dos deputados nas legislativas de janeiro.
ONU
Em votação paralela, os governistas não conseguiram vencer em plebiscito a proposta para que Taiwan ingressasse nas Nações Unidas -a cadeira chinesa pertence a Pequim. A proposta obteve só 36%, diante do apelo dos nacionalistas em favor da abstenção.
A China se opõe ao ingresso de Taiwan na ONU.


Com "The New York Times" e Reuters


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