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Chirac não quer
perder dinheiro
e ficar isolado
JOÃO BATISTA NATALI
DA REPORTAGEM LOCAL
A dívida do Iraque com a
França é de US$ 8 bilhões.
Empresas francesas negociavam com o regime deposto contratos de US$ 7,4 bilhões em petróleo. Nenhum
país seria insensato ao ponto
de atirar tanto dinheiro pela
janela.
Ao recuar de sua antiga intransigência e passar a
apoiar a suspensão do embargo econômico contra o
Iraque -o que foi defendido por George W. Bush na
semana passada-, a França
pode ser vista como um parceiro diplomático "realista",
que leva em conta um quadro de fatos consumados.
A começar do desfecho da
guerra contra o Iraque e a
presença militar norte-americana naquele país. Seria
inútil bater em teclas (como
a transição política administrada pela ONU) que contrariem os interesses imediatos
dos Estados Unidos.
Mas há outras formas de
entender as declarações de
Jean-Marc de la Sablière,
embaixador francês na
ONU, que ontem não mais
condicionou o fim do embargo a um hipotético atestado dos inspetores daquele
organismo de que o Iraque
não mais teria armas de destruição em massa.
A França apostou que a
guerra seria longa e difícil.
Ela foi rápida, e a vitória da
coalizão anglo-americana,
relativamente fácil. Com isso
o presidente Jacques Chirac,
que condicionava o início
das operações militares a um
aval do Conselho de Segurança, ficou isolado.
Internamente, os partidos
de sua base parlamentar vinham cobrando uma abertura na direção dos norte-americanos. Externamente,
Chirac não manteria uma
linguagem anti-EUA que
Alemanha, Rússia e China já
haviam abandonado.
As relações franco-americanas tendiam rapidamente
a se deteriorar. O telefonema
que Chirac deu a Bush, na
semana passada, foi qualificado pelo porta-voz da Casa
Branca de "frio como uma
conversa entre dois homens
de negócios".
Anteontem, segundo o
jornal "Libération", Paul
Wolfowitz, o segundo na
hierarquia do Pentágono,
apresentou em reunião um
texto no qual propunha
marginalizar a França do
núcleo das decisões da aliança atlântica.
O Departamento de Estado se oporia a esse isolamento. Mesmo assim, Paris ouviu o sinal de alarme. E passou a multiplicar sinais de
reconciliação.
Um deles: o A-M400M,
avião europeu de transporte
militar que só voará em
2009, mas que tem como núcleo de produção os franceses da Airbus, tenderá a se
equipar com turbinas norte-americanas da Pratt &
Whitney, em detrimento da
indústria francesa (Scecma)
ou britânica (Rolls-Royce).
Foi anunciado ontem.
E ainda: no Quai d"Orsay,
sede da diplomacia francesa,
o porta-voz do ministro Dominique de Villepin fez ontem ginásticas retóricas para se dissociar da proposta russa de credenciar os inspetores da ONU como os únicos
capazes de certificar que o
Iraque está desarmado.
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