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São Paulo, quarta-feira, 23 de abril de 2003

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Após recepção calorosa, general ouve promessa de líderes locais de que deixarão de lado aspirações de independência

Curdos aplaudem Garner no norte do Iraque

Kevin Frayer/Reuters
O americano Jay Garner, administrador civil do Iraque, dá declarações após encontrar líderes curdos em Dukan, ao norte do país


DA REDAÇÃO

O general reformado americano Jay Garner, designado pelos EUA para liderar uma administração civil interina no Iraque, visitou ontem a região curda ao norte do país, onde foi recebido com a promessa, feita por um líder local, de que os curdos deixarão de lado suas aspirações independentistas e trabalharão pela formação de um governo democrático e pluralista no Iraque.
"Nosso sonho é viver dentro do sistema de um Iraque democrático", afirmou Jalal Talabani, chefe da União Patriótica do Curdistão, após se encontrar com Garner. "Embora acreditemos que o povo curdo, como qualquer outro povo no mundo, tenha o direito à livre determinação, neste momento queremos trabalhar dentro do sistema do Iraque", disse.
Garner havia chegado anteontem ao Iraque para iniciar o trabalho de reconstrução do país. Ele teve ontem uma recepção calorosa ao desembarcar de um helicóptero na cidade de Sulaymaniyah. A visita aconteceu 12 anos após ter chefiado uma operação de ajuda humanitária para a região, em 1991, quando o ex-ditador Saddam Hussein esmagou uma rebelião curda após a Guerra do Golfo, ajudando a estabelecer um encrave semi-autônomo na região.
Garner disse à multidão que o aguardava em Sulaymaniyah (330 km ao norte de Bagdá) que o governo curdo da região é um modelo a ser seguido em todo o Iraque. "Vamos tomar o espírito de liberdade que temos aqui nas regiões curdas e espalhá-lo", disse, com a ajuda de um intérprete.
Ele também manteve encontros em Dukan, 50 km mais ao norte, com Talabani e Massoud Barzani, chefe do Partido Democrático do Curdistão. "Nosso desejo é que o novo governo iraquiano represente todas as pessoas do Iraque. Será um mosaico", disse Garner.
Os grupos curdos rivais vêm administrando partes do norte do Iraque desde o estabelecimento, pelos EUA, das zonas de exclusão aérea para protegê-los dos ataques de Saddam, após a Guerra do Golfo, de 1991.
Tanto a União Patriótica do Curdistão quanto o Partido Democrático do Curdistão disseram apoiar a proposta dos EUA para um Estado federal iraquiano.
O clima encontrado por Garner ontem contrastava com o que encontrou na véspera, ao chegar a Bagdá em meio a críticas às forças americanas por não terem conseguido, até agora, restabelecer a ordem e o abastecimento de energia, alimentos e água.
Garner, que chefia o Escritório de Reconstrução e Assistência Humanitária, ligado ao Pentágono, administrará o Iraque até que um governo interino formado por iraquianos seja estabelecido.
Sua indicação gerou críticas dos países árabes e contrariou os pedidos para que a tarefa de reconstruir o país fosse deixada a cargo das Nações Unidas.
Os EUA pretendem promover, no próximo sábado, em Bagdá, o segundo encontro com líderes de diferentes grupos iraquianos para discutir a formação de um novo governo. No primeiro encontro, em 15 de abril, em Ur, no sul do país, os participantes iraquianos -escolhidos a dedo pelos EUA- emitiram um comunicado de 13 pontos sobre seu modelo para o futuro do Iraque.
"Esse é o segundo do que será, esperamos, muitos encontros desse tipo por todo o país", disse o porta-voz do Comando Central dos EUA Jim Wilkinson. "O fato de os encontros estarem acontecendo já é um sucesso", disse.
Os pontos apresentados pelos iraquianos em Ur incluíam a exigência de que o país fosse organizado em um sistema democrático federal escolhido pelos iraquianos, não por estrangeiros, que o partido Baath, de Saddam, fosse dissolvido e que houvesse um "diálogo nacional" para juntar todos os grupos do país na tarefa de formar um novo governo.

Com agências internacionais


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